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Bloco de Notas, por Lorena Portela

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Autora do sucesso "Primeiro Eu Tive que Morrer", Lorena Portela é cearense, escritora e jornalista. Vive em Londres, mas a cabeça mora aqui, no Brasil.

Bruna Marquezine e nós mulheres entre o livramento e a figura da salvação

Uma reflexão sobre aquele ideal da mulher que, apesar de tudo, vai resolver a vida de um homem adulto

Por Lorena Portela
3 nov 2023, 11h09
Bruna Marquezine na entrevista para o programa "De Frente com Blogueirinha" ("De Frente com Blogueirinha"/Reprodução)
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Bruna Marquezine estreou recentemente no cinema internacional de um jeito diferente do que costumamos ver: não com papel pequeno e sem fala num filme de baixo orçamento, mas em destaque numa produção de super-herói. Um patamar que faz todo sentido para quem acompanha a atriz desde que ela tinha 7 anos, numa trajetória que passa por novelas, séries e filmes. Apesar de ter tido relacionamentos que viraram uma constante nas páginas de fofoca, em especial o que teve com o jogador Neymar Jr., a carreira da atriz parece ser uma de suas prioridades. 

Digo isso porque, nesse contexto nacionalmente conhecido, Bruna participou do programa da Blogueirinha e um trecho que viralizou relembra, de um jeito engraçado, o quanto o fim do seu relacionamento com o atleta é considerado um livramento para a atriz. O que, por outro lado, me levou a lembrar de um comentário no X (o famigerado Twitter), que escancara a outra face da moeda e as tantas voltas que demos no mundo para ainda sermos vistas nos mesmos lugares de sempre.

Ao comentar a recente ida do jogador para um time da Arábia Saudita, um fã lamentou: “o que faltou na vida do Neymar foi uma mulher, poderia ter casado cedo com a Bruna, ter uma família, filhos, pé no chão, tipo o Messi”. O comentário não era exatamente este e lamento não ter salvado para colocar aqui, mas era mais ou menos isso. Lembro bem porque reli muitas vezes, assim como li a horda de outros homens concordando com o pensamento original. 

Agora, aos fatos: não falta mulher na vida do Neymar, bem sabemos – são comuns os flagras do jogador rodeado de garotas a despeito da sua atual relação. Nem família – ele parece ter uma bastante sólida. Nem filhos – já tem dois, um menino e uma menina. Nem uma Bruna – o jogador é casado com Bruna Biancardi atualmente, se não no papel, mas em vias de fato.

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O que falta a Neymar e faltou ao longo de todos os anos em que o vemos vacilar e brilhar, jogar mal e jogar bem e passar vergonha na seleção e cometer erros medonhos e acertos bonitos e apoiar políticos que atentaram contra a democracia, e trair suas companheiras e fazer escolhas desastradas e queimar sua imagem nos times pelos quais passou e desagradar torcidas e, de novo, pipocar nas Copas do Mundo e ter problemas com a Receita Federal, e agir como um adolescente nas redes sociais, e desrespeitar comentaristas etc etc etc. O que falta a Neymar é outra coisa – várias, no plural –, não é uma companheira, nem uma Marquezine que, está claro, tem mais o que fazer do que ser babá de um homem de 31 anos. 

Mas é assim que uma parte considerável do mundo ainda nos vê: como salvação, como pavimento e base para que um homem brilhe e seja um Messi. Como parte de uma estrutura que envolve bons gerenciadores de carreira, bons empresários, bons clubes, bons treinadores, bons médicos e, assim, sendo uma boa esposa, fazemos parte da equipe que o mantém de pé.

O pior é que o raciocínio dos fãs de Neymar tem base óbvia: estudos apontam que casar é ótimo para os homens, para suas carreiras e até para a saúde, enquanto que para a mulher a troca de alianças pode não ter lá muitas vantagens. São os dados e não só, é o que vemos.

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Enquanto o homem encontra no casamento as condições ideais para que se dedique à sua carreira, tendo sua vida, sua família e sua casa gerenciada por outra pessoa, a mulher, essa que gerencia, se vê afundada em tarefas que passam pelo seu próprio trabalho, seu relacionamento, seus filhos, até que a balança acaba cambaleante, agonizante, isso não é novidade.

Vale dizer, problema nenhum que muitas de nós escolham a vida de mãe e esposa como realização pessoal. Que abdiquem de uma carreira para cuidar da casa, dos filhos e sejam suporte para os maridos. Tudo certo, feminismo é isso também. O problema é que a gente se mexe tanto, luta, briga, conquista para ainda acabar no lugar da “grande mulher que está por trás de um grande homem”.

O problema é que ainda existe a ideia de que colocar um cara “nos eixos” faz de nós uma heroína. A questão é essa crença escancarada de que uma “boa mulher” é capaz de salvar um sujeito, incapaz de se salvar sozinho. Mesmo um sujeito como Neymar Jr., que já tem uma equipe aos seus pés, que é adulto, rico e experiente, mas segue repousando à sombra inefável do machismo, obtendo ali o conforto de ser amparado pelos seus e dormindo leve por saber que jamais será, ele mesmo, responsabilizado pelo que faz.

O problema é que o livramento ainda não chegou para todas. 

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