Espiando o futuro
A velhice dá as caras aos poucos como uma criança que brinca de pique-esconde
Já não é a mais a mesma coisa desfrutar dos meus dias. Tenho lista de médicos a visitar, penso nas restrições e renúncias alimentares e etílicas que já preciso fazer, percebo que meus joelhos doem, minhas pernas não têm mais aquela elasticidade e um monte de pequenas coisas mudaram. Estou envelhecendo.
Tento ver o copo cheio e escrevo sobre as muitas facetas positivas da passagem do tempo. Mas andar pra frente não é para amadores. Tenho tido dias sim, dias não. Olho para os meus pares e vejo que todos nós estamos cansados. O que será o futuro? Quanto tempo ainda teremos? Você aí do outro lado pensa também isso? Já chegou na fase de entender que não terá mais o mesmo tempo que já viveu? Isso nos apavora?
Nem sei dizer o que acontece com o meu coração . Nublou. Não é tempestade nem calmaria. É um banzo de uma chuva fina, um vento com ruído. E o medo? Aparece por vezes. Um desmaio aqui, uma tontura ali e eu já vou fazendo um ganzé. Preciso me acalmar. Preciso seguir, sem panicar. E essa não é uma coluna dramática. É só constatação que a velhice dá as caras aos poucos como uma criança que brinca de pique-esconde. Cadê a juventude que estava aqui?