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Ana Claudia Paixão

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A jornalista Ana Claudia Paixão (@anaclaudia.paixao21) fala de filmes, séries e histórias de Hollywood
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“Wicked”: A história por trás do conto nos 85 anos de O Mágico de Oz

Musical de sucesso na Broadway chega aos cinemas com Cynthia Erivo e Ariana Grande nos papéis principais

Por Ana Claudia Paixão
18 out 2024, 19h00
Coluna Ana Claudia Paixão - “Wicked”: A história por trás do conto nos 85 anos de O Mágico de Oz
Estrelando Cynthia Erivono no papel de Elphaba e Ariana Grande, como Glinda, longa chega aos cinemas brasileiros no próximo dia 21 de novembro (Universal Pictures/Divulgação)
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Já falei de Agatha Harknessde Lilia Calderudas irmãs Owen e claro que não poderia deixar de falar da Bruxa Má do Oeste! Ainda mais que em 2024, completam 85 anos do lançamento do clássico O Mágico de Oz.

Paradoxalmente, quem ganha destaque nesse aniversário é a antagonista: a Bruxa Má do Oeste. Sua história, mudando a perspectiva da obra original é contada em Wicked, o musical estrelado por Cynthia Erivo e Ariana Grande e que estreia nos cinemas em novembro, a tempo de emplacar algumas indicações ao Oscar.

O ultra premiado musical da Broadway, que ganhou três prêmios Tony e sete prêmios Drama Desk, e um Grammy, é uma adaptação do romance de mesmo nome escrito por Gregory Maguire, que reimagina a história clássica de O Mágico de Oz de uma perspectiva diferente ao fornece uma história de fundo para a antagonista do conto original de L. Frank Baum. Basicamente subverte as expectativas e mensagem da obra.

Se O Mágico de Oz é uma metáfora sobre o amadurecimento, Wicked se aprofunda nos antecedentes de vários personagens, principalmente as bruxas Elphaba (a Bruxa Má do Oeste) e Glinda (a Bruxa Boa), e inclui o próprio Mágico de Oz.

Elphaba não é que pensamos ser, é reapresentada como uma personagem incompreendida e complexa, em vez de uma figura puramente maligna que era o ponto de vista de Dorothy. Na perspectiva de Elphaba há outras motivações e lutas, nos fazendo questionar se poderíamos chamá-la de “vilã”.

Coluna Ana Claudia Paixão - “Wicked”: A história por trás do conto nos 85 anos de O Mágico de Oz
Ariana Grande como Glinda em “Wicked” (Universal Pictures/Divulgação)

A recepção de Wicked, tanto no livro como nos palcos variou entre os críticos justamente por “ousar” revisar um clássico tão estabelecido. O romance, Wicked: The Life and Times of the Wicked Witch of the West foi publicado em 1995 e recebeu críticas mistas. 

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Alguns elogiaram sua reformulação imaginativa do clássico O Mágico de Oz e sua exploração complexa de temas como poder, identidade e moralidade. No entanto, alguns acharam a narrativa excessivamente densa e o tom inconsistente.

Ainda assim, o romance se tornou um best-seller e desenvolveu um forte número de seguidores, principalmente entre os leitores que apreciavam sua visão mais sombria e adulta da história familiar.

O musical estreou em 2003, com música e letras de Stephen Schwartz e roteiro de Winnie Holzman e igualmente dividiu a crítica, mas foi um enorme sucesso comercial em especial pelo talento de suas protagonistas, Idina Menzel (Elphaba) e Kristin Chenoweth (Glinda).

Com cenários elaborados, figurinos e efeitos especiais admirados, o musical virou um favorito do Tony, com Idina ganhando o Tony Award de Melhor Atriz em um Musical.

Coluna Ana Claudia Paixão - “Wicked”: A história por trás do conto nos 85 anos de O Mágico de Oz
Cena do longa “Wicked” dirigido por John M. Chu (Universal Pictures/Divulgação)
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As canções Defying Gravity e Popular viraram clássicos. Críticos contrários argumentavam que o roteiro era ainda mais fraco do que seu material de origem, tendo sacrificado justamente parte da profundidade e complexidade do romance por uma narrativa mais direta e agradável ao público.

Também acharam o show excessivamente sentimental e o criticaram por sua duração e ritmo.

O público claramente discordou e Wicked se tornou um fenômeno cultural, ainda em cartaz na Broadway, com inúmeras produções internacionais e uma base de fãs dedicada. A popularidade e o sucesso financeiro do musical consolidaram seu lugar como um dos espetáculos mais influentes e amados do teatro musical contemporâneo.

Se você estiver do lado dos puristas, ainda assim, poderá apreciar o filme. Ambas as histórias exploram temas do bem contra o mal, poder e identidade, mas Wicked adiciona camadas de complexidade ao questionar o que significa ser “perverso” e como as percepções sociais podem moldar o destino de alguém. Também aborda questões como discriminação, corrupção política e a natureza do livre-arbítrio.

Agora vamos ter a explicação de como o Espantalho, o Homem de Lata e o Leão Covarde surgiram, oferecendo explicações alternativas para suas condições. Também fornece contexto para as ações de Elphaba e seu eventual confronto com Dorothy.

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Pôster de divulgação estrelando Cinthia Erivo como Elphaba em “Wicked” (Universal Pictures/Divulgação)

A questão, claro, é que ao inverter os papéis, a dicotomia clara entre o bem e o mal proposta por L. Frank Baum, com Dorothy e seus amigos representando o bem, e a Bruxa Má representando o mal, perde sentido. Wicked explora a natureza do bem e do mal sugerindo que esses conceitos nem sempre são preto e branco, e enquanto O Mágico de Oz inclua alegorias políticas, o livro em si é principalmente uma aventura de fantasia infantil, enquanto a versão de Maguire é rico em comentários políticos e sociais, abordando questões como discriminação, abuso de poder e a complexidade das escolhas morais.

Embora esteja na categoria de fenômeno, precisaram mais de 20 anos para que Wicked chegasse aos cinemas. Produzido pelo time de La La Land, o filme é assinado por Jon M. Chu e será dividido em duas partes, sendo que o primeiro capítulo estreia em novembro de 2024 e o segundo, em 26 de novembro de 2025.

O elenco é liderado por duas grandes estrelas da música e do teatro, Cynthia Erivo e Ariana Grande, mas também conta com as participações de Michelle YeohJeff GoldblumJonathan Bailey, e Keala Settle, entre outros.

E se tiver curiosidade sobre o original, aqui vão algumas curiosidades também. Em agosto de 2024 foi o aniversário de 85 anos de lançamento do filme O Mágico de Oz. O clássico de 1939, baseado no livro O Maravilhoso Mágico de Oz, de L. Frank Baum, segue a jovem Dorothy Gale (Judy Garland), que é levada por um tornado de sua casa no Kansas para a mágica Terra de Oz.

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Lá, ela embarca em uma jornada para encontrar o Mágico, que ela acredita que pode ajudá-la a retornar para casa. No caminho, ela faz amizade com o Espantalho, o Homem de Lata e o Leão Covarde, cada um buscando algo do Mágico: um cérebro, um coração e coragem, respectivamente.

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Judy Garland como Dorothy no longa “O Mágico de Oz” de 1939 (Universal Pictures/Reprodução)

O filme é conhecido por suas cores vibrantes, especialmente porque foi um dos primeiros filmes a usar a tecnologia Technicolor, fazendo a transição do mundo em preto e branco do Kansas para o mundo colorido de Oz como um dos momentos mais memoráveis da História do cinema. Além disso, a trilha sonora, incluindo a icônica canção Over the Rainbow, interpretada por Judy Garland, é amplamente celebrada.

Não bastasse isso tudo, a produção do filme também é famosa por suas inovações técnicas e efeitos especiais para a época, como a criação dos cenários fantásticos e os figurinos detalhados. Indicado a cinco Oscars, ganhou apenas dois: o de Melhor Canção e Trilha Sonora.

Em homenagem ao aniversário, O Mágico de Oz voltou aos cinemas nos Estados Unidos, em apenas algumas salas de projeção.

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Sobre o livro e a metáfora do amadurecimento

Escrito por L. Frank Baum e publicado pela primeira vez em 1900, O Mágico de Oz é um clássico da literatura infantil, rico em temas como amizade, coragem, e a importância de acreditar em si mesmo. Como Dorothy enfatiza: “não há lugar como o lar”.

Além de O Maravilhoso Mágico de Oz, o autor americano escreveu uma série de livros sobre a terra de Oz, 14 no total, criando um universo literário que se tornou extremamente popular e influente. Mas fora da literatura, também ficou conhecido como inovador no campo do entretenimento infantil, utilizando elementos de fantasia e aventura para cativar jovens leitores

Coluna Ana Claudia Paixão - “Wicked”: A história por trás do conto nos 85 anos de O Mágico de Oz
Capa da obra “O Mágico de Oz” escrito por L. Frank Bauman e ilustrado pela Goerge M. Hill Company (Amazon/Reprodução)

Baum foi influenciado pelos contos de fadas dos Irmãos Grimm Hans Christian Andersen, mas ainda mais por Lewis Carroll e seu brilhante Alice no País das Maravilhas, também sobre uma menina tentando voltar para casa.

O americano achou que o enredo do romance de Carroll parecia incoerente, e, ao entender a proposta genérica, escreveu sua versão com a pequena Dorothy como sua protagonista, incluindo muitas ilustrações e defendendo que o livro não deveria conter nenhuma lição moral.

Um dos destaques do ano mais memorável de Hollywood: 1939

O ano 1939 foi um ano diferente em Hollywood e até hoje considerado o ápice do CinemaO Mágico de Oz foi um de seus destaques e, de acordo com a Biblioteca do Congresso dos EUA, é o filme mais visto na história do cinema e está na em segundo lugar na da Variety dos 100 Maiores Filmes de Todos os Tempos.

A MGM decidiu investir tão alto em um filme de tema infantil diante do enorme sucesso de Branca de Neve e os Sete Anões, lançado dois anos antes, em 1937, sinalizando o potencial de bilheteria com histórias infantis e contos de fadas.

Como era frequente na época, o roteiro passou por vários escritores e revisões até sua versão final. Curiosamente, dois diretores que estiveram envolvidos com o maior sucesso de 1939, E O Vento Levou, também estiveram na produção. George Cukor atuou como um consultor criativo antes que Victor Fleming dirigisse.

Quando a produção do clássico sobre a Guerra Civil americana encrencou, Cukor saiu e foi substituído por Fleming, que ganhou um Oscar, e assina os dois maiores sucessos de 1939. Incrível, não?

Coluna Ana Claudia Paixão - “Wicked”: A história por trás do conto nos 85 anos de O Mágico de Oz
Ariana Granda como Glinda em “Wicked” (Universal Pictures/Reprodução)

E se hoje é o filme mais famoso de Judy GarlandO Mágico de Oz quase foi um veículo para Shirley Temple e depois Deanna Durbin. Isso mesmo, Judy foi a terceira opção e só conseguiu o papel porque já era parte do elenco da MGM.

Anos depois do lançamento, histórias sobre os abusos sofridos por Judy Garland (alguns mostrados na biopic Judy) vieram à tona, como o assédio moral, sexual e a insistência do estúdio para mudar sua aparência, que incluiu amarrar seu peito e dar a ela comprimidos de Benzedrina para manter seu peso baixo, junto com estimulantes e calmantes dos quais ela viria a ficar viciada desde então.

Por conta da duração do filme, quase que sua canção mais famosa, Over The Rainbow, ficou na sala de edição, mas Fleming lutou (e venceu) para mantê-la. O Oscar de Melhor Canção Original comprovou que ele estava certo.

Uma obra de legado atemporal e mundial

Apesar dos 85 anos, o clássico continua impressionante visualmente assim como suas metáforas, com temas relevantes sobre covardia, empatia, inteligência e pertencimento.

Emociona várias gerações com sequências e falas que fazem parte do universo pop. A mensagem central do filme, que enfatiza a importância de casa e da autodescoberta, ressoa com muitos espectadores até hoje. Vale rever e rever e rever.

Tenho certeza que a sensação de familiaridade vai encher seu coração com a verdade: não lugar como nossa própria casa.

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