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Ana Claudia Paixão

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A jornalista Ana Claudia Paixão (@anaclaudia.paixao21) fala de filmes, séries e histórias de Hollywood
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Vannessa Gerbelli: Vida, Música e Emoções em Querido Evan Hansen

Atriz está no elenco da peça em cartaz em SP, e diz se identificar com sua personagem, uma mãe solo de um adolescente com questões mentais

Por Ana Claudia Paixão
7 set 2024, 08h00
Vanessa Gerbelli em Querido Evan Hansen.
Em cartaz com musical, Vanessa Gerbelli revela cantar desde muito cedo, influenciada por sua família.  (Carlos Costa/Divulgação)
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Confesso que quando vejo Vannessa Gerbelli no cinema ou na TV acabo me esquecendo como ela é uma cantora de voz poderosa. Por isso fiquei ainda mais impactada quando a vi no palco, na produção brasileira do musical Querido Evan Hansen.

Na peça, em cartaz até o dia 22 de setembro em São Paulo, no Teatro Liberdade, a atriz vive um papel com o qual tem uma identificação pessoal: o de uma mãe solo que navega pelas demandas de ser provedora, amiga, cuidadora e claro, mulher. Nós sabemos o quanto equilibrar todos esses pratos é complexo, e a emoção que Vannessa transmite no papel imediatamente desperta em nós simpatia e compaixão.

A história de Querido Evan Hansen

Querido Evan Hansen conta a história de Evan, um estudante adolescente que enfrenta transtorno de ansiedade e se sente invisível entre seus colegas, até que uma pequena mentira o coloca no centro das atenções, levando-o a uma jornada de autodescoberta e redenção. Os temas do musical são extremamente sensíveis e abordam questões fundamentais da saúde mental, de fobia social, depressão, bullying, a pressão da vida virtual, relações afetivas, a importância do pertencimento, e a necessidade do apoio emocional no ambiente familiar e escolar.

É muito mais emocionante quando pensamos que a história é inspirada em um fato real, quando minha dupla favorita: Benj Pasek e Justin Paul, que estão por trás dos sucessos de La La Land e O Rei do Show, leram a notícia de um estudante que cometeu suicídio e deixou para trás uma série de cartas que pareciam indicar que ele tinha uma amizade com outra pessoa – e que, na verdade, não existia. Benj e Justin se identificaram com as angústias e suas próprias experiências no ensino médio e universidade, para idealizar o musical.

Vencedor de vários prêmios na Broadway e no mundo, Querido Evan Hansen também virou livro e filme, que está na Netflix, com Ben Platt e Julianne Moore nos papéis que no Brasil estão por conta de Gab Lara e Vannessa Gerbelli. (O elenco completo conta com Mouhamed Harfouch, Flavia Santana, Hugo Bonemer, Thati Lopes, Gui Figueiredo e Tati Christine).

Lembrando que, desde 2015, setembro é o Mês Amarelo e é dedicado à prevenção do suicídio, o que faz os temas de Querido Evan Hansen ficarem ainda mais relevantes.

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A saúde mental dos jovens tem ganhado espaço crescente e global, e os desafios são imensos. Como Heidi Hansen, a mãe do protagonista, Vannessa tem momentos de grande emoção justamente pela pressão que familiares encaram para ajudar e identificar seus filhos a navegarem por essas questões. Correndo entre uma apresentação e outra, ela conseguiu dar uma pausa para um papo rápido e exclusivo com CLAUDIA.

Entrevista exclusiva com Vannessa Gerbelli

CLAUDIA: Vannessa, antes de entrar na peça e na importância do papel de Heidi… é tão bom ouvir cantar (novamente) foi incrível. Como é sua ligação com canto e com musicais?

VANNESSA: Muito obrigada, fico feliz! Eu canto desde pequena e minha família tem tudo a ver com música. Minha mãe toca piano e meu irmão era um guitarrista excepcional. Quando comecei a fazer teatro, os musicais me absorveram, pois eu já tinha certa experiência como cantora em bandas (comecei aos 15 cantando em trios, sextetos vocais. Cantávamos jazz, Rock and roll, animávamos casamentos e festas…). Mesmo sendo uma atriz ainda inexperiente, eu pegava os papéis nos musicais da época, que estavam crescendo em São Paulo com a influência técnica da Broadway. Foi num musical, Cazas de Cazuza, que fui descoberta pela TV Globo.

CLAUDIA: ⁠Heidi é uma mulher muito “comum” para todas nós: sozinha com o filho, tendo que sustentá-lo materialmente e emocionalmente, se sacrificando e de alguma forma ainda sendo ou sentindo apontada como “falha”. Somos muito duras com essas mulheres?

VANNESSA: A mulher traz em sua natureza a doação e a habilidade para cuidar, mas acho que isso foi explorado demais pela nossa sociedade. Somos exigidas demais, sim. Não conheço nenhuma mulher da minha geração que não sofra por não saber deixar claros os seus limites para os outros e para si. Penso que estamos em um movimento de nos olharmos com mais respeito e afeto, nos apoiando mutuamente, mas isso é muito recente. É uma transformação lenta porque é muito difícil reconhecer um padrão abusivo quando ele se impõe desde a sua infância e que você reconhece em sua mãe, em sua avó… que está em seu DNA. A mulher sempre trabalhou exaustivamente em casa sem nenhum reconhecimento e sempre foi exigido dela a beleza, o equilíbrio, as virtudes de uma boa esposa, boa mãe, boa profissional. É humanamente impossível cumprir com isso tudo.

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CLAUDIA: ⁠Como você identifica e apresenta Heidi? O que ela poderia ter feito diferente?

VANNESSA: Ela é uma mulher que luta. Quer ter uma vida mais confortável, então investe numa faculdade tardia. Quer que o filho supere as suas dificuldades, que seja bem-sucedido. Até aí, tudo bem… O problema é que ela carrega dores ainda não superadas. Ela se sente inferiorizada, talvez pelo abandono do marido, talvez por não ter o dinheiro que gostaria. Sente- se muito desamparada por trás de uma fachada de mulher forte. Penso que ela poderia ter investido mais em se curar de suas mágoas.

CLAUDIA: ⁠O que você, como mãe, aprendeu com Heidi?

VANNESSA: Gosto muito da mensagem que ela deixa no final: Ela nunca desistiria do filho. Seu amor é incondicional e isso eu reconheço em mim. Nada me faria desistir do meu filho.

CLAUDIA: ⁠Há algum momento especial do musical que te emocione mais? A montagem está incrível!

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VANNESSA: Obrigada! Eu gosto muito do momento em que o Evan faz a sua “mea culpa”. A música é lindíssima e a letra conta a dor de alguém que não se aceita, não se ama. A vulnerabilidade que ele expõe naquele momento o redime. O mesmo acontece com a Heidi, logo em seguida, são dois momentos maravilhosos da peça.

CLAUDIA: ⁠Como tem sido a resposta do público?

VANNESSA: O público se emociona muito e se reconhece nas personagens, isso é o que a gente sempre quer ver na plateia!

CLAUDIA: ⁠Os temas do musical são densos e delicados, mas tratados com uma forma muito emocionante. Você conhecia a peça? Como se envolveu na produção?

VANNESSA: Eu não conhecia, mas sabia do sucesso dela lá fora. Quando conheci o tema, quis imediatamente participar. Como artista, escolho questões que acho importantes para o nosso tempo e essa peça traz discussões muito importantes para o público… Saúde mental, pertencimento, cancelamento, família, autenticidade.

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CLAUDIA: ⁠E para se “desligar” depois da apresentação? O que você faz?

VANNESSA: O nosso grupo é tão divertido que a gente desliga bem rápido. O contato com o público também é delicioso e rende boas trocas quando saímos do palco.

CLAUDIA: Quais seus projetos após Querido Hansen?

VANNESSA: Escrevi um musical que tem canções do Zeca Baleiro, inspirado no meu filme preferido, A Estrada da Vida. Também estou com um projeto no audiovisual, como roteirista. O tema dele também é saúde mental.

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