The Dropout: Amanda Seyfried incorpora a condenada Elizabeth Holmes
Adorada ao redor do mundo, ela foi descoberta por uma reportagem investigativa
Aos 19 anos, Elizabeth Holmes era uma bilionária adorada ao redor do mundo, prometendo revolucionar o sistema de saúde com uma máquina que não apenas baratearia os exames de sangue, como demandaria apenas uma gota para realizá-los. Em fevereiro de 2022, menos de duas décadas depois, é uma condenada na Justiça americana por fraude, podendo encarar pelo menos 20 anos de cadeia e uma dívida de milhões de dólares.
A incrível jornada de uma menina que não completou nem o primeiro ano de engenharia química na Universidade de Stanford (basicamente, só tendo os 2º grau completo), mas que convenceu Presidentes americanos (Joe Biden, Barack Obama, Bill Clinton), secretários de Estado e inúmeros investidores de que era um gênio da ciência, é o tema da série Dropout, da Star+, estrelada por Amanda Seyfried. Isso mesmo, mais uma série de uma “golpista” e de como pessoas inteligentes caem como patinhos em sua lábia. O tema está popular em 2022, com Inventando Anna, da Netflix.
A série seria estrelada originalmente por Kate McKinnon, do Saturday Night Live, mas ela acabou sendo substituída por Amanda Seyfried. Não antes de algum drama. A atriz chegou a recusar o papel porque tinha acabado de recuperar da Covid-19, mas justamente pelo tema da série lidar com a questão de saúde pública acabou mudando de ideia. Ainda bem que aceitou, porque está incorporando Elizabeth com perfeição, dá voz ao andar, ao sorriso tenso. Uma atuação que juro que não está exagerada, estranha é a Elizabeth Holmes verdadeira. É uma ótima continuação para seu outro trabalho biográfico elogiado, o de Marion Davies no filme Mank, há dois anos, pelo qual foi inclusive indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante.
Assim como as séries da moda, de revelar golpistas que figuraram nas capas de revistas e circularam entre famosos, Elizabeth, que era palestrante do TED, foi capa da Fortune e uma das pessoas mais influentes do planeta segundo a revista Time. Foi um artigo jornalístico investigativo que desvendou a farsa, o Wall Street Journal. A série, porém, é uma adaptação do podcast de mesmo nome produzido pela jornalista Rebecca Jarvis, que fez um documentário sobre o tema para a ABC. Ela conta a ascensão e queda da empreendedora em 8 episódios, desde a fundação de sua empresa, Theranos, até as denúncias que revelaram a farsa para o mundo. Os três primeiros episódios já estão disponíveis, e depois teremos um inédito por semana.
Elizabeth Holmes sempre teve planos grandiosos de mudar o mundo e era obcecada por Steve Jobs, a quem chegou a imitar usando roupas pretas e de gola rolê. Posando de visionária, conseguiu convencer investidores a bancarem seu projeto e sua empresa chegou a ser avaliada em 9 bilhões de dólares. Mas, embora muitos ainda deem a ela o crédito de ter sido “mais ambiciosa do que poderia”, ou de tentar a fórmula do “finja até conseguir” do Vale do silício como a fonte do problema, a série aposta em outra direção, mais alinhada com a conclusão da justiça.
Eu tenho uma sugestão para quem não está familiarizada com a história da jovem “cientista” e estiver curiosa para saber mais detalhes, antes ou depois, como achar melhor. O documentário A Inventora, da HBO Max, que foi lançado ainda antes da prisão e condenação dela, é um mapa assustador para a série, que reconta com perfeição cenas e falas registradas em entrevistas ou vídeos pessoais. Muitas vezes, ao ver Dropout, é difícil lembrar que não é o documentário.
E pensar que Elizabeth Holmes teve reuniões com Dilma Housseff, que quis trazer seu invento para o SUS (aparece comemorando a informação no documentário)! Escapamos de uma boa. Essas histórias merecem ser recontadas e repensadas por que estamos sempre em busca de milagres e gênios, mas temos que estar atentos e cuidadosos. Casos como os dessa série são material de pesadelo e um que vivemos há muito pouco tempo.