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Ana Claudia Paixão

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A jornalista Ana Claudia Paixão (@anaclaudia.paixao21) fala de filmes, séries e histórias de Hollywood

‘The Crown’: uma 5ª temporada importante e inteligente

A proximidade do tempo coloca a série da Netflix no fogo cruzado dos especialistas de Família Real, mas, em geral, dribla as principais armadilhas

Por Ana Claudia Paixão
10 nov 2022, 10h45
5ª temporada de The Crown - diana e filhos
Na 5ª temporada de The Crown, vemos o desenrolar de um dos períodos mais conturbados da família real.  (Netflix/Divulgação)
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Peter Morgan certamente é um dos maiores especialistas de Família Real da atualidade, tendo feito o oscarizado filme A Rainha, em 2007, e, desde novembro de 2016, brilhando com a premiada The Crown. Com uma proposta de cobrir a trajetória da Rainha mais longeva da história britânica, o showrunner conseguiu a cada temporada resgatar os fatos marcantes de cinco décadas das sete que Elizabeth II esteve no trono, porém, com a proximidade dos dias atuais, está cada dia mais visado. A 5ª temporada, disponibilizada na Netflix desde o dia 09, teve um hiato maior forçado pela pandemia, sendo lançado pouco depois da morte da soberana e em uma fase sensível para Monarquia. Tudo isso colabora para uma antecipação e crítica ainda mais severa à série, mas já alerto aos preocupados: é bobagem, segue excelente.

Com toda crise familiar dos Windsors nos últimos dois anos, o drama que começa a ser retratado em The Crown pode parecer pequeno, mas é a semente do que estamos acompanhando hoje, por isso tanto incômodo. Se nas temporadas iniciais havia poucos que pudessem dizer “lembro disso”, desde a 3ª há uma geração (a X) que conviveu com muito do que a série mostra e, nas palavras mais adequadas da Rainha, “as lembranças podem variar”. Nas redes sociais binárias, os defensores de Meghan Markle e Príncipe Harry argumentam o que os partidários da Família Real gritam: a série não é um documentário, mas não se iludam, mesmo ficcionalizando a verdade, está bem perto do que se considera fato real. Peter Morgan tem um vasto material de livros, entrevistas e fotos para se basear e o que vem mostrando está dentro do que se pode argumentar como sendo fiel. Essa narrativa é um dos charmes da franquia.

É difícil falar da temporada e uma série biográfica e evitar spoilers, mas fica o combinado: os fatos são conhecidos e fáceis de achar com um Google, portanto, evitarei mencionar as liberdades artísticas tomadas para recontá-los. Tínhamos deixado a série com uma Princesa Diana desiludida com a farsa de seu casamento e a reencontramos mais madura, mas ainda isolada e sofrendo, com Elizabeth II lidando com os finais dos casamentos de dois outros filhos (Anne e Andrew), assim como uma crise no seu próprio. A série passeia menos em questões políticas e econômicas dos anos 1990, centrando nas relações familiares. O que é, paradoxalmente, mais perigoso.

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A reconstituição histórica de The Crown continua perfeita (e a raiz para a confusão de “não ser documentário”), com uma Elizabeth Debicki assustadoramente “i-gual” à Diana. (Netflix/Divulgação)

A reconstituição histórica de The Crown continua perfeita (e a raiz para a confusão de “não ser documentário”), com uma Elizabeth Debicki assustadoramente “i-gual” à Diana. Os fatos revivem são bem selecionados e significativos, mas, assim como na realidade, queremos mais a Princesa e menos a Rainha, e sentimos falta quando Diana não está em cena. A 5ª temporada marcou uma nova mudança de elenco e gerou ansiedade para os fãs, infelizmente, justificadas. Parte do elenco está personificando e outra parte, interpretando. Enquanto Olivia Williams e Elizabeth Debicki, “são” Camilla Parker-Bowles e Diana, Dominic West, Imelda Stauton e Jonathan Pryce “representam” Charles, Elizabeth II e Philip, o que nos engaja menos do que elas. Para Dominic, preencher o espaço do premiado Josh O’Connor era mais difícil, sabíamos. O jovem ator tinha trazido uma vulnerabilidade que o público pró-Diana não esperava, e, mesmo quando se transformou em um homem frustrado e cruel com a esposa, tinha uma certa simpatia. Já Dominic, que optou perigosamente de se afastar de qualquer imitação do verdadeiro Charles, destoa. Para Imelda é igualmente difícil, porque nessa temporada a Rainha é mais criticada do que nunca por sua atitude fria e distante como soberana e mãe. Mesmo que sofra em silêncio, sua passividade a deixa distante inclusive do público. Claro que isso é intencional na série, mas a atriz ainda não teve a dimensão que Claire Foy ou Olivia Colman trouxeram para o papel.

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Peter Morgan nos apresenta um Charles lutando para antecipar sua coroação, firme, crítico e diferente de sua família alienada. Para um público que sabe que o período da história foi o pior em relação a ele, é uma surpresa como é retratado.

Em outras palavras, é uma versão simpática dentro do possível para o atual Rei. Considerando que a série foi escrita e gravada antes da morte da Rainha, não se pode dizer que o showrunner tenha feito a escolha porque as posições mudaram.

the crown - 5ª temporada - rainha Elizabeth
Nesta temporada, a Rainha é mais criticada do que nunca por sua atitude fria e distante como soberana e mãe. (Netflix/Divulgação)
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Em geral, concordo com a visão que Peter Morgan nos apresenta da Família Real britânica. Ele consegue contextualizar personalidades complexas e verdadeiras, quase sempre desagradando os dois lados – o que o deixa mais perto da isenção. Me irrita quando “editorializa” alguns diálogos, colocando na boca deles o recado que quer nos passar, mas entendo a necessidade de ser didático para que um público maior acompanhe os fatos. Talvez tenha exagerado a frequência que precisou do subterfúgio? A mesma reclamação se dirige às metáforas, gritando na tela, perdem a força quando ficam óbvias demais.

Se já leu que os episódios sobre Mohamed Al-Fayed e os bastidores da infame entrevista de Diana para BBC são os pontos altos da temporada, pode confiar. São emocionantes e tensos, mais do que o próprio drama dos Windsors. A conclusão fica no ar, mas isso porque a 6ª temporada já esteja sendo gravada. Sei que querem transformar The Crown em documentário, mas hoje é o melhor “reality ficção” das plataformas. Continua ímpar em sua posição.

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