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Ana Claudia Paixão

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A jornalista Ana Claudia Paixão (@anaclaudia.paixao21) fala de filmes, séries e histórias de Hollywood
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Sam Taylor-Johnson e Shakira: o duplo padrão para traição em redes sociais

Diretora casada com ator 23 anos mais novo foi massacrada dias depois de Shakira ser elogiada pelas mesmas razões em uma covardia indescritível

Por Ana Claudia Paixão
Atualizado em 1 fev 2023, 12h44 - Publicado em 20 jan 2023, 10h36
Enquanto o mundo apoiava Shakira, criticavam Sam Taylor-Johnson pelo mesmo motivo.
Enquanto o mundo apoiava Shakira, criticavam Sam Taylor-Johnson pelo mesmo motivo. (Stephane Cardinale - Corbis (Getty Images)/Reprodução)
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Admiro o consistente trabalho da diretora Sam Taylor-Johnson. Ela surgiu com vídeos de Elton John e R.E.M., dirigiu o excelente O Garoto de Liverpool, a biopic sobre John Lennon, assim como Cinquenta Tons de Cinza e a curiosa e incômoda série Gypsy, da Netflix. No momento está gravando a biografia de Amy Winehouse, que será certamente sucesso. Mais do que disso, ela venceu duas vezes o câncer (em 1997 fez tratamento para um tumor no cólon e, em 2000, no seio) e é um exemplo de mulher talentosa e feliz.

Mas há um detalhe que marca a vida pessoal de Sam que alguns recalcados não deixam passar: ela se apaixonou e se casou com o ator Aaron Taylor-Johnson (os dois mudaram o sobrenome quando se uniram) e desde então a diferença de 23 anos entre eles tem sido pauta de muitas matérias e críticas. A pior delas voltou com força nessa semana de 16 de janeiro em 2023.

Voltando no tempo, Aaron e Sam se conheceram em 2008, quando filmaram O Garoto de Liverpool e se apaixonaram. Sam tinha 32 anos, Aaron, 18. Pois é, ele era bem novo. Se casaram em 2012 e em 2022, quando completaram 10 anos juntos, refizeram os votos diante de amigos e das duas filhas.

No entanto, se os rumores plantados pela tiktoker que tem mais de 8 milhões de seguidores forem verdadeiros, o casamento na verdade estaria com problemas. Ela alegou que Aaron traiu Sam com a atriz Joey King, sua parceira no filme Trem Bala.  Nada confirmado e não é bem esse o problema que me chocou.

Fiquei aborrecida e assustada com a agressividade das redes sociais celebrando o fato, chamando a diretora de “dinossauro”, “vovó” e “geriátrica”, comemorando a “liberdade” de Aaron depois de tantos anos de controle. Gente, para tudo. Oi? Como assim? Celebrar traição? Agredir a pessoa supostamente traída? Onde estamos?

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Dias antes essas mesmas pessoas estavam celebrando Shakira, que foi trocada por uma mulher mais nova, por dar um recibo para o ex-marido com sua nova canção. As pessoas que enalteceram a cantora por combater o clichê do homem que trata a mulher “mais velha” como descartável e prefere uma jovem, em menos de 72 horas, se viram no direito de celebrar um homem que justamente trocou uma mulher mais velha por uma mais jovem. A violência de tudo me deixou desiludida, porque inocentemente acreditava que estávamos avançando, mesmo que fossem passos pequenos. Estava errada…

Parte do ataque contra a idade de Sam seria motivado e “justificado” pela dúvida que muitos ainda têm sobre o momento real em que ela e Aaron teriam começado relacionamento, uma vez que se conheceram quando ele tinha apenas 17 anos. Eles assumiram o romance quando o ator já tinha completado 18 anos, mas os agressores querem se esconder atrás de uma (infundada) sugestão de estupro estatutário para falarem os maiores absurdos sem consequências.

Foram tantos memes, tantos perfis comemorando a traição que o que ficou claro é que o machismo descarado ainda dá voz para homens e mulheres (sim, mulheres) para desfilarem falas criminosas. Lamentável.

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Não tenho nada a ver com a vida pessoal dos astros hollywoodianos, e claro que casamentos se desfazem, romances acontecem, que a vida continua, etc. Mas senti uma dor incrível por Sam Taylor-Johson. Não sei se Joey King – que amo igualmente, tanto que já escrevi sobre ela há alguns anos – está no meio da confusão, ou se uma delas gosta de geleia ou não, mas o que não pode é começar 2023 vendo pessoas enaltecendo um comportamento de masculinidade tóxica.

Aos 55 anos, Sam não é geriátrica ou dinossauro, é uma vencedora. Que de alguma forma as pessoas que conseguiram gerar essa dor tenham algum retorno. Precisamos recuperar a fé na humanidade. Com urgência.

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