Em “Spencer”, Kristen Stewart vive uma Diana como ainda não vimos
O esperado filme 'Spencer', que conta a história da Princesa Diana, chega aos cinemas brasileiros
Tudo sobre o filme “Spencer” parece ter um pé na polêmica. A começar por ter escalado Kristen Stewart para o papel da Princesa Diana. O anúncio chocou até mesmo os fãs da atriz, pois ela não se assemelha em nada com Lady Di, nem em idade, visual ou sotaque. Mas Kristen topou o desafio. Pode não estar igual à princesa, como Emma Corrin, em “The Crown”, mas está melhor do que Naomi Watts esteve em “Diana”, de 2013.
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Alguns críticos chegaram a apontar “Spencer” como um filme de terror, e certamente é um filme angustiante. Acompanhamos Diana sofrendo uma aguda crise psicológica, oprimida e isolada. É sufocante e nem necessariamente simpático à Diana, que é apresentada como uma pessoa desconfiada, insegura e quase paranóica.
O diretor Pablo Larraín e o roteirista Steven Knight (autor da maravilhosa série “Peaky Blinders”), nos levam a acompanhar essa espiral descontrolada, que coloca a princesa em colisão com a estrutura rígida da Família Real.
Aliás, os Windsors foram literalmente calados. São vistos sempre observando em silêncio e julgando Diana, aumentando o clima pesado que praticamente a enlouquece. Entre as personagens verdadeiras, apenas os príncipes Charles, William e Harry têm algumas poucas palavras. No mais, o filme é de Kristen Stewart.
Ter sido excluída das indicações do SAG Awards foi injusto. A ver se reverte a situação para o Oscar. A atriz conta com o apoio de Julianne Moore, Jodie Foster e Nicole Kidman, todas em aberta campanha pró-Kristen entre as cinco finalistas.
Como já escrevi aqui em CLAUDIA, minha favorita para Melhor Atriz no Oscar seria Olivia Colman, por “A Filha Perdida”, mas Kristen tem mesmo uma atuação consistente (premiada em vários festivais) e merece seu reconhecimento, mesmo que não signifique que mereça ganhar.
Pablo Larraín já pode ser apontado como “um diretor de atores”, afinal fez outro filme sobre um ícone do século 20, no caso Jackie Kennedy Onassis, que rendeu uma indicação ao Oscar para Natalie Portman. Tanto em “Jackie”, como em “Spencer”, o diretor tem um olhar quase claustrofóbico sobre as duas mulheres em momentos importantes de suas vidas. Por isso, “Spencer” é um filme longe da unanimidade, mas bastante emocional.
Com reconstituição de época, figurinos e cenários impecáveis, “Spencer” é o oposto de “The Crown”, por isso mesmo, interessante. Não estamos acostumados a ver uma Diana em outro papel que não seja a de vítima, por isso me impressionou que sua paranoia esteja tão em destaque, mesmo que, ao final, contextualizada.
Depois de tantos livros, documentários, filmes e séries, Diana ainda nos move, mesmo 25 anos depois de sua morte, que serão completados em agosto desse ano. Paradoxalmente, ela permanece fascinante. Sua força está na resistência, quando encontra sua voz para – literalmente – parar uma caçada e fugir.
Um pequeno spoiler, que ficou mais relevante depois que o príncipe William revelou que uma de suas lembranças mais queridas de sua mãe era quando ela cantava com ele e Harry no carro. Na vida real, era Tina Turner, com “The Best”. Em “The Crown”, escolheram Queen com “Crazy Little Thing Called Love”. Em “Spencer”, Diana canta “All I Need Is a Miracle”, da banda Mike and the Mechanics, um dos sucessos do final dos anos 1980.
A escolha dessa canção foi da atriz, que a selecionou dentre as três oferecidas para a cena por Pablo Larraín. Além do óbvio recado do título da canção, Kristen gostou do contraste otimista em contraste com que vemos.
“Spencer” demorou a chegar aos cinemas, e calculo que não demore a entrar para as plataformas, e vale ser conferido de coração e mente abertas. O filme nos convida a refletir e é bem mais do que escolha de elenco.