Moana 2, Deadpool 3… Seria 2024 o ano menos original do cinema?
As 10 maiores bilheterias do ano são continuações. Teria sido o ano uma sequência de sucessos ou apenas um replay do que já vimos?
A poucas semanas de fechar 2024 já é possível olhar para atrás e analisar como o ano será lembrado. Spoiler alert, há uma surpresa. Pela primeira vez na história, as 10 maiores bilheterias do ano são dominadas exclusivamente por continuações. Isso mesmo, pelo que parece, faltou originalidade.
Essa marca reflete uma tendência cada vez mais consolidada na indústria cinematográfica: o investimento pesado em franquias e o reaproveitamento de histórias já conhecidas. A estreia mundial de Moana 2 pela Disney contribui para esse resultado pois o sucesso é garantido.
E a chave para o movimento está no que minha colega Beatriz Lourenço listou essa semana aqui em CLAUDIA: há continuações melhores que o original, mesmo que ninguém tivesse exatamente pedido uma. Será que o futuro do cinema original está comprometido?
Moana e as bilheterias
No caso de Moana, o original de 2016 conquistou o público ao oferecer uma narrativa original e culturalmente rica. Inspirada pelas tradições da Polinésia, a animação trouxe uma heroína independente, livre de interesses românticos, e uma história centrada em autodescoberta e conexão com a natureza.
Era inovador e representou uma aposta arriscada da Disney em uma era onde filmes originais eram (e continuam sendo) raros em seu catálogo, dominado por sequências e remakes.
A relevância de Moana se torna ainda mais evidente quando olhamos para o cenário atual. Em 2024, com um número recorde de continuações no topo das bilheterias, é inegável que a preferência dos estúdios por “territórios seguros” está moldando o tipo de conteúdo oferecido ao público. Enquanto isso pode garantir retorno financeiro, muitos argumentam que essa dependência de franquias sufoca a criatividade e desvaloriza narrativas originais.
Ou seja, não estaria errado questionar se seria possível replicar o impacto cultural e o sucesso financeiro de uma produção original em um ambiente dominado por continuações ou, mais ainda, se preocupar se o apelo por histórias inéditas está em declínio, reflexo de um público que também prefere revisitar universos conhecidos. Uma mescla dos dois, certamente.
Continuações de 2024
É só olhar para as continuações que mais levaram as pessoas aos cinemas em 2024 até novembro: Divertida Mente 2, Deadpool & Wolverine (também continuação), Meu Malvado Favorito 4, Duna: Parte 2, Godzilla e Kong: O Novo Império, Kung Fu Panda 4, Planeta dos Macacos: O Reinado, Bad Boys: Até o Fim, Garfield: Fora de Casa e Ghostbusters: Apocalipse de Gelo.
E ainda podemos lembrar de Avatar: O Caminho das Águas, Missão: Impossível – Acerto de Contas: Parte Um e Velozes e Furiosos 10, todos ligados a franquias de longa data e filmes que atraem multidões porque se conectam a universos já estabelecidos e emocionalmente familiares para o público.
A promessa de revisitar personagens queridos e expandir histórias conhecidas cria um apelo irresistível para os espectadores — e, claro, um retorno financeiro quase garantido para os estúdios. Mas será que essa dependência crescente sufoca a inovação?
E para além de Moana se juntar ao grupo das continuações de 2024, não podemos esquecer que, em 2025, a animação ganhará uma versão live-action. Isso destaca um paradoxo: mesmo filmes originais bem-sucedidos acabam sendo transformados em franquias, alimentando a mesma dinâmica que limita o espaço para novas histórias.
Padrões nas produções
Voltando às 10 maiores bilheterias do ano, podemos ver padrões claros. Franquias como Velozes e Furiosos e Missão: Impossível têm apostado em uma fórmula de ação exagerada e enredos globais, entregando ao público exatamente o que ele espera — mais velocidade, mais explosões, mais reviravoltas.
Já Avatar: O Caminho das Águas e Guardiões da Galáxia Vol. 3 seguem a lógica do espetáculo visual e emocional, oferecendo universos expansivos e personagens carismáticos que criam vínculos duradouros com o público.
A diferença entre essas produções e um filme como Moana está na origem. Todas essas franquias começaram com histórias originais que ousaram se arriscar, conquistaram o público e se tornaram propriedades seguras para os estúdios. A questão é: em um mercado dominado por essas sequências, quem está criando os novos Avatares ou os novos Velozes e Furiosos?
Domínio absoluto das bilheterias por sequências é um sinal de alerta
A obsessão por continuações não é intrinsecamente ruim. Muitas vezes, elas ampliam o universo narrativo de maneira significativa e se tornam parte do imaginário cultural. Mas o domínio absoluto das bilheterias por sequências é um sinal de alerta. Ele reflete um ciclo no qual a originalidade é constantemente transformada em franquia, enquanto ideias completamente novas enfrentam dificuldades para emergir em um mercado saturado.
E, quando um sucesso como Moana “quebra a barreira”, a escolha de repetir a história evidencia como a indústria rapidamente transforma o novo no previsível. E gente, o fenômeno não é novo, apenas anunciado. A crítica a continuações e trilogias “desnecessárias” em Hollywood é quase tão antiga quanto o próprio cinema comercial.
A origem da obsessão por continuações
A discussão em torno da exploração excessiva de sequências começou a ganhar força nos anos 1970, quando os estúdios perceberam o potencial lucrativo de expandir sucessos de bilheteria. No entanto, vale lembrar que a prática não surgiu nessa época — desde as décadas de 1920 e 1930, Hollywood já produzia continuações para capturar o público de filmes populares, como as sequências de The Thin Man ou Tarzan.
A virada real para o modelo moderno veio com o sucesso estrondoso de Tubarão (Jaws) de Steven Spielberg em 1975, considerado o primeiro grande blockbuster de verão. A produção de três sequências, apesar de nenhuma atingir a qualidade ou o impacto do original, consolidou o padrão de usar sucessos de bilheteria como alavancas para franquias.
A estratégia foi reforçada por Star Wars (1977), que não só deu início à obsessão por trilogias, mas também popularizou a ideia de explorar universos narrativos expansivos. No entanto, a crítica às trilogias como “fórmulas” começou a ficar evidente nos anos 1980, quando sequências começaram a parecer mais voltadas ao lucro do que à narrativa.
Exemplos como Rocky III (1982) e Indiana Jones e o Templo da Perdição (1984) dividiram o público e a crítica, que começou a questionar se continuações realmente agregavam valor às histórias ou apenas diluíam o impacto dos originais.
A partir dos anos 2000, a “ordem de trilogias” virou quase uma obrigação, impulsionada por franquias como O Senhor dos Anéis, Matrix e Piratas do Caribe. Muitos filmes começaram a ser planejados como trilogias antes mesmo de seu lançamento inicial, gerando uma sensação de previsibilidade. É um modelo que domina até hoje — frequentemente criticado por sacrificar a criatividade em prol de planos de longo prazo e bilheterias garantidas.
A questão central sempre foi a mesma: até que ponto as continuações são narrativamente justificáveis, e quando passam a ser apenas uma estratégia comercial? O problema é que nem a resposta é original…
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