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Ana Claudia Paixão

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A jornalista Ana Claudia Paixão (@anaclaudia.paixao21) fala de filmes, séries e histórias de Hollywood
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I Love Lucy: Lucille Ball era mais do que engraçada, era corajosa

A comediante fez milhões de rir e é uma das lendas da TV e do cinema. Sua vida será novamente contada em filme, a ser estrelado por Nicole Kidman

Por Ana Claudia Paixão
Atualizado em 8 fev 2021, 19h17 - Publicado em 30 jan 2021, 14h00
Lucille Ball e Desi Arnaz
Lucille Ball e seu marido Desi Arnaz nos anos 1950  (Arquivo/Getty Images)
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A notícia de que o próximo projeto de Nicole Kidman será interpretar a lendária comediante Lucille Ball causou estranhamento. Nicole tem a mesma cor de cabelo e olhos da comediante, mas basicamente apenas isso. Mesmo talentosa, Nicole Kidman não é associada com risadas e muita gente criticou a escolha. Bobagem. Antes de Nicole, Cate Blanchett estava fechada para o filme e Cate tampouco tem similaridade com Lucy, como Lucille é mais conhecida.

Lucy é um tesouro da TV americana e idolatrada por gerações. Comediante brilhante, ela foi essencial para o sucesso da TV aberta, quando surgiu. Por mais que se estranhe a escolha de atrizes dramáticas para interpretá-la, ao contrário, é a escolha certa. A vida de Lucy, nos bastidores, tinha mais lágrimas que risadas.

O filme Being the Ricardos (Sendo os Ricardos) será escrito e dirigido por Aaron Sorkin, que não apenas domina TV como poucos (West Wing) como dirigiu o elogiado  Os 7 de Chicago, da Netflix. O próximo projeto será para a Amazon Prime Video e conta também com Javier Bardem no elenco. Javier será o marido de Lucy, Desi Arnaz.

Lucille Ball nasceu há 110 anos (em agosto de 1911) e teve uma vida pessoal rodeada pelas tragédias. Perdeu pai com apenas quatro anos, quando ele teve tifo. O trauma da perda associada ao isolamento de quarentena obrigatórios traumatizaram sua infância. Quando tinha apenas 16 anos, o padrasto trouxe um rifle para casa e um acidente doméstico acabou paralisando um vizinho. A família de Lucy foi processada e perdeu tudo, passando por sérias dificuldades financeiras.

O sonho com a fama quase foi arquivado quando os professores a desencorajaram na carreira de atriz. Claro! Ela não era dramática, mas sabia fazer rir. No entanto, essa qualidade só foi revelada anos depois. Como era bonita, Lucy começou trabalhando como modelo e em 1933 foi para Hollywood. Em pensar que ela fez teste para ser Scarlett O’Hara!

De loira, Lucy passou para ruiva e mesmo indo bem no cinema, só virou fenômeno quando foi para a tela da TV e passou a entrar na casa dos americanos toda segunda-feira às 21h. I Love Lucy é uma das séries mais famosas e históricas da TV mundial. Abordava questões domésticas simples, mas contava com o carisma e humor de Lucy e seu marido, Desi Arnaz.

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Lucy e Desi se conheceram em 1940. Em apenas seis meses estavam casados, porém o alcoolismo e as traições dele provocaram a primeira separação dos dois, quatro anos depois. Ainda assim, a química entre eles era inegável. Durante o período em que estiveram afastados, Lucy trabalhou em rádio também, com grande sucesso. Foi uma questão de tempo de ir para a TV. Ela estreou na CBS em 1948, e em três anos criou I Love Lucy. Soa fácil, mas foi difícil.

Em tempos de Guerra Fria, Cuba gerou muitos conflitos políticos para os Estados Unidos. Ter um cubano como estrela de seu principal produto era uma preocupação da CBS, mas Lucy não abriu mão de ter Desi com ela. A essa altura os dois já tinham se reconciliado e estavam fazendo shows juntos. O roteiro era uma criação conjunta dos dois, que mudaram apenas o sobrenome do casal para “Ricardo”.  A CBS foi obrigada a ceder, mas recusou colocar o nome de Desi no título (o original seria Lucy e Ricky) por conta de sua nacionalidade. Depois de muita discussão, todos aprovaram I Love Lucy.

Mesmo com todo sucesso, veio o MaCarthismo e não apenas I Love Lucy foi censurado, para eliminar qualquer menção positiva para a cultura cubana, como um episódio foi banido e nunca foi ao ar. Lucille teve que depor no comitê anticomunista porque apoiou o Partido Comunista nas eleições de 1936. Malandra, ela usou um episódio para dar o troco. “A única coisa vermelha em Lucy é o cabelo e ele é pintado”, disse olhando para a câmera. 

I Love Lucy era uma produção do casal filmada no estúdio Desilu (Desi e Lucy). Porém, o drama não deu trégua. Desi nunca se afastou de outras mulheres, bebidas e jogos.  Felizes no ar e em crise nos bastidores, o programa saiu do ar em 1957 e Lucy e Desi se divorciaram em 1960. A separação não os afastou, permaneceram melhores amigos até o fim. No entanto, amigos alegam que a fama de difícil que Lucy tinha nos bastidores, agindo como estrela e o oposto do que era na TV, era verdade. Dizem que as dificuldades no casamento contribuíram para a mudança na sua personalidade.

Em 1968, mesmo casados com outros, Desi e Lucy tentaram voltar com o sitcom, incluindo os dois filhos no elenco. Durou seis anos, mas não chegou à metade do sucesso do original. O filho, Desi Jr, se envolveu com bebidas e drogas, provocando muita tristeza nos pais.

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Em 1986, Lucy fez uma última tentativa de voltar para TV, mas Life with Lucy só exibiu treze episódios. No mesmo ano, Desi Arnaz faleceu. Lucy não durou muito mais. Três anos depois, em abril de 1989, sofreu um infarto e não se recuperou da cirurgia. Tinha 77 anos.

Portanto, a escolha de Nicole Kidman para interpretar Lucille Ball parece bem acertada, não? Os filhos, que são produtores do longa, acreditam que sim. Afinal, foi Lucille que disse, “não sou engraçada. Os diretores são engraçados, os roteiristas são engraçados. Os episódios são engraçados. Eu? Sou corajosa”.

O filme não tem data de lançamento prevista, mas podemos torcer para 2022. Será?

Nicole Kidman e Javier Bardem
(Jeff Vespa Archive/WireImage/Getty Images)
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