Kate Middleton: a princesa fora de cena
Se fosse no cinema, o pesadelo de Kate Middleton seria um misto de 'A Rainha' com 'A Princesa e o Plebeu'
Aqui em CLAUDIA, escrevi vários artigos sobre a Família Real, mas, diante da toxicidade e agressividade do tema nas redes sociais, me distanciei. Infelizmente acompanhando a novela atual, foi impossível evitar lembrar de dois filmes que refletem muito do que estamos acompanhando com Kate Middleton.
Em A Princesa e o Plebeu (Roman Holiday), a princesa herdeira Ann (Audrey Hepburn) está em uma viagem bem programada pelas capitais europeias. Depois de um dia especialmente difícil em Roma, onde tem que participar de várias cerimônias tediosas, e onde não pode relaxar ou sequer visitar a cidade onde está, ela está exausta. Os assessores providenciam que ela tenha uma ótima noite para dormir, mas ela leva o conselho de que pode “fazer exatamente o que deseja” ao pé da letra.
Escondida de todos, ela escapa secretamente da embaixada para explorar a cidade. A ideia, ao que parece, era passar apenas algumas horas em total liberdade e voltar para casa, mas como ela tinha sido medicada com um forte remédio para dormir, quando a droga faz efeito, adormece e é resgatada por Joe Bradley (Gregory Peck), um repórter americano, que está fazendo uma matéria sobre ela sem que a princesa perceba. As próximas 48h serão intensas para ela, mas, divertidas também.
O filme de 1953 não poderia estar mais distante da realidade de 2024 para Kate Middleton, a Princesa de Gales. O que é comum é que, no filme, a equipe dela tem que rebolar para despistar a imprensa pressionando por notícias e fotos da princesa. Eles alegam que ela “não está bem”, sem dar detalhes. Daí a importância da matéria de Bradley, que vai desmascarar o Palácio, apesar de expor Ann ao mesmo tempo.
Se fossem regravar A Princesa e o Plebeu hoje, Ann estaria em maus lençóis. Isso porque em tempos de fake news e redes sociais manipuláveis, não há espaço para se recusar a compartilhar sua vida, como o furacão em torno de Kate Middleton está comprovando.
A realidade de Kate não é a mesma do cinema
Depois de quatro anos de acusações pessoais que vão de bullying, frieza, e racismo, que chegaram ao volume máximo em dezembro de 2023, quando Kate foi citada como a pessoa que teria questionado a cor da pele do filho de Meghan Markle e Príncipe Harry, os ataques nas redes sociais alcançaram um volume assustador. É muito ódio dos dois lados, é apavorante acompanhar.
E quem imaginaria que haveria ainda mais na virada do ano? Embora se mantivesse firme e sorridente nas festas de Natal, Kate, hoje a figura mais popular da Família Real e mais fotografada em eventos sociais (a timidez e quase aversão de seu marido, Príncipe William, em aparecer, colocam Kate à frente de todas as oportunidades de fotos oficiais dos últimos anos), simplesmente avisou ao mundo que “iria fazer uma cirurgia programada no abdômen”, que “não é câncer”, e que ela só voltaria aparecer “depois da Páscoa”.
Sei que em qualquer outro momento pareceria suficiente, mas o desfile de prepotência e má compreensão do que significa a comunicação transparente de uma pessoa extremamente pública como a futura Rainha da Inglaterra está tomando proporções épicas. Tudo porque está brigando por “privacidade”. O mundo se recusou a aceitar o que foi dado, o que foi próximo de nada.
O que parecia “piada” – criar uma teoria conspiratória sobre o desaparecimento de Kate Middleton – ganhou contornos de crise política. Até então, ela era conhecida por nunca cometer um erro em público, portanto o derrape foi catastrófico.
“Ser vista para ser acreditada” – e nunca reclame ou explique
Quando uma jornalista espanhola espalhou a notícia de que Kate estaria em coma, ou até morta, a pressão por notícias deixou de ser divertida e passou para ser agressivamente assédio.
Bom, certamente é assim que a equipe da Princesa está lidando com o assunto e, com isso, piorando o cenário. Especialmente porque em uma realidade da cultura de superexposição, o mantra da Rainha Elizabeth II de “ser vista para ser acreditada” ganhou proporções nocivas.
Se isso se aplicava bem por 60 anos, ANTES das redes sociais existirem, faz sentido porque era necessário – na visão da monarca – que ela e sua família comparecessem à um grande número de eventos para que houvesse a oportunidade de serem fotografados e terem contato com os súditos. No entanto, nos dias de hoje, além de desnecessário, a expectativa é de que além desses eventos controlados, os súditos tenham acesso às vidas pessoais de todos eles. Sabe um Big Brother da Realeza? Tipo isso.
Quando o Príncipe Harry comparou a vida deles como a de animais de zoológico não estava exagerando. Os súditos alegam que “pagam por eles”, portanto como consumidores, têm o direito de saber tudo, literalmente, na hora que quiserem e com a frequência que quiserem.
Eles são pessoas públicas e hoje em dia não há um limite claro do que seja privado. Porém, eles são pessoas públicas e de relevância, em especial falando de problemas de saúde, é preciso sim explicar mais do que foi dito, e incluir atualizações.
O problema é seguiram tortuosamente o outro mantra de Elizabeth II – nunca reclamar, nunca explicar – que é exatamente o oposto do que as novas gerações aplicam e esperam: transparência e honestidade. E aqui estamos.
Que desastre!
Por alguma razão desastrada, no domingo, 10 de março, o Palácio de Kensington divulgou uma foto da princesa com os filhos. O efeito foi o de jogar um fósforo aceso em palha seca: incendiou ainda mais o drama.
A foto estava cheia de problemas: Kate sem aliança, sinais de photoshop e a irritação do Palácio em falar além do que ela “está se recuperando da operação”. O que está acontecendo com Kate?
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Quando a foto foi identificada como editada, Kate se viu obrigada a assumir a culpa, quebrando décadas da tradição de evitar explicar. Um erro que será para sempre lembrado em sua biografia.
A Rainha, outra referência do cinema
Em 2006, Peter Morgan lançou o filme que rendeu um Oscar para Helen Mirren – A Rainha – sobre quando em 1997, a Rainha se recusou por dias expressar alguma tristeza pela morte da Princesa Diana e os súditos se voltaram contra ela. Mais uma vez, parece o que estamos testemunhando novamente.
Apesar das teorias conspiratórias, ninguém morreu, mas Kate Middleton está na posição que a Rainha esteve. O fato de que Rei Charles III também esteja vivendo ele mesmo problemas sérios de saúde, contribui para a crise. Ele escolheu ser mais direto, mas está deixando William e Kate lidarem sozinhos com o problema, mas quem está vulnerável é o seu reinado.
Se em The Crown foi ele quem pressionou a Rainha a endereçar a nação sobre Diana, era de se esperar que na vida real ele estivesse fazendo o mesmo agora com Kate Middleton e Príncipe William, não apenas na ficção.
Final feliz é apenas ficção?
Em A Princesa e o Plebeu, Ann apronta todas sem ser identificada e na hora H, Bradley desiste de fazer a matéria e a protege, guardando o segredo dos dias de liberdade que ela conseguiu ter para si. Em A Rainha, que foi a semente de The Crown, Elizabeth II conseguiu inverter a rejeição e herdou o carinho dos súditos até o fim de seus dias.
Não há como as redes sociais permitirem à Kate Middleton a alternativa dada à princesa Ann de A Princesa e o Plebeu de ter privacidade. Não vai acontecer. Só restaria a ela a seguir o exemplo de A Rainha. E agora fica a dúvida… será que teremos a sétima temporada de The Crown?