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Ana Claudia Paixão

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A jornalista Ana Claudia Paixão (@anaclaudia.paixao21) fala de filmes, séries e histórias de Hollywood
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Kate Middleton: a princesa fora de cena

Se fosse no cinema, o pesadelo de Kate Middleton seria um misto de 'A Rainha' com 'A Princesa e o Plebeu'

Por Ana Claudia Paixão
15 mar 2024, 08h15
Se fosse no cinema, o sumiço de Kate Middleton seria um misto de A Rainha com A Princesa e o Plebeu
Se fosse no cinema, o sumiço de Kate Middleton seria um misto de A Rainha com A Princesa e o Plebeu (MiscelAna/Reprodução)
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Aqui em CLAUDIA, escrevi vários artigos sobre a Família Real, mas, diante da toxicidade e agressividade do tema nas redes sociais, me distanciei. Infelizmente acompanhando a novela atual, foi impossível evitar lembrar de dois filmes que refletem muito do que estamos acompanhando com Kate Middleton.

Em A Princesa e o Plebeu (Roman Holiday), a princesa herdeira Ann (Audrey Hepburn) está em uma viagem bem programada pelas capitais europeias. Depois de um dia especialmente difícil em Roma, onde tem que participar de várias cerimônias tediosas, e onde não pode relaxar ou sequer visitar a cidade onde está, ela está exausta. Os assessores providenciam que ela tenha uma ótima noite para dormir, mas ela leva o conselho de que pode “fazer exatamente o que deseja” ao pé da letra.

Audrey Hepburn
Audrey Hepburn (Hulton Archive/Getty Images)

Escondida de todos, ela escapa secretamente da embaixada para explorar a cidade. A ideia, ao que parece, era passar apenas algumas horas em total liberdade e voltar para casa, mas como ela tinha sido medicada com um forte remédio para dormir, quando a droga faz efeito, adormece e é resgatada por Joe Bradley (Gregory Peck), um repórter americano, que está fazendo uma matéria sobre ela sem que a princesa perceba. As próximas 48h serão intensas para ela, mas, divertidas também.

O filme de 1953 não poderia estar mais distante da realidade de 2024 para Kate Middleton, a Princesa de Gales. O que é comum é que, no filme, a equipe dela tem que rebolar para despistar a imprensa pressionando por notícias e fotos da princesa. Eles alegam que ela “não está bem”, sem dar detalhes. Daí a importância da matéria de Bradley, que vai desmascarar o Palácio, apesar de expor Ann ao mesmo tempo.

Se fossem regravar A Princesa e o Plebeu hoje, Ann estaria em maus lençóis. Isso porque em tempos de fake news e redes sociais manipuláveis, não há espaço para se recusar a compartilhar sua vida, como o furacão em torno de Kate Middleton está comprovando.

A realidade de Kate não é a mesma do cinema

Depois de quatro anos de acusações pessoais que vão de bullying, frieza, e racismo, que chegaram ao volume máximo em dezembro de 2023, quando Kate foi citada como a pessoa que teria questionado a cor da pele do filho de Meghan Markle e Príncipe Harry, os ataques nas redes sociais alcançaram um volume assustador. É muito ódio dos dois lados, é apavorante acompanhar.

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Meghan, Harry e Oprah
Harry e Meghan em entrevista inédita com Oprah (CBS/Reprodução)

E quem imaginaria que haveria ainda mais na virada do ano? Embora se mantivesse firme e sorridente nas festas de Natal, Kate, hoje a figura mais popular da Família Real e mais fotografada em eventos sociais (a timidez e quase aversão de seu marido, Príncipe William, em aparecer, colocam Kate à frente de todas as oportunidades de fotos oficiais dos últimos anos), simplesmente avisou ao mundo que “iria fazer uma cirurgia programada no abdômen”, que “não é câncer”, e que ela só voltaria aparecer “depois da Páscoa”.

Sei que em qualquer outro momento pareceria suficiente, mas o desfile de prepotência e má compreensão do que significa a comunicação transparente de uma pessoa extremamente pública como a futura Rainha da Inglaterra está tomando proporções épicas. Tudo porque está brigando por “privacidade”. O mundo se recusou a aceitar o que foi dado, o que foi próximo de nada.

Kate Middleton
Kate Middleton: duquesa de Cambridge em evento oficial no dia 8 de novembro de 2020 (Mark Cuthbert/UK Press/Getty Images)

O que parecia “piada” – criar uma teoria conspiratória sobre o desaparecimento de Kate Middleton – ganhou contornos de crise política. Até então, ela era conhecida por nunca cometer um erro em público, portanto o derrape foi catastrófico.

“Ser vista para ser acreditada” – e nunca reclame ou explique

Quando uma jornalista espanhola espalhou a notícia de que Kate estaria em coma, ou até morta, a pressão por notícias deixou de ser divertida e passou para ser agressivamente assédio.

Bom, certamente é assim que a equipe da Princesa está lidando com o assunto e, com isso, piorando o cenário. Especialmente porque em uma realidade da cultura de superexposição, o mantra da Rainha Elizabeth II de “ser vista para ser acreditada” ganhou proporções nocivas.

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Kate Middleton reaparece após sumiço de dois meses.
Kate Middleton ao lado de sua mãe, Carole Middleton, na região de Windsor, nesta segunda-feira, 4 de março (TMZ/Reprodução)

Se isso se aplicava bem por 60 anos, ANTES das redes sociais existirem, faz sentido porque era necessário – na visão da monarca – que ela e sua família comparecessem à um grande número de eventos para que houvesse a oportunidade de serem fotografados e terem contato com os súditos. No entanto, nos dias de hoje, além de desnecessário, a expectativa é de que além desses eventos controlados, os súditos tenham acesso às vidas pessoais de todos eles. Sabe um Big Brother da Realeza? Tipo isso.

Quando o Príncipe Harry comparou a vida deles como a de animais de zoológico não estava exagerando. Os súditos alegam que “pagam por eles”, portanto como consumidores, têm o direito de saber tudo, literalmente, na hora que quiserem e com a frequência que quiserem.

Eles são pessoas públicas e hoje em dia não há um limite claro do que seja privado. Porém, eles são pessoas públicas e de relevância, em especial falando de problemas de saúde, é preciso sim explicar mais do que foi dito, e incluir atualizações.

O problema é seguiram tortuosamente o outro mantra de Elizabeth II – nunca reclamar, nunca explicar – que é exatamente o oposto do que as novas gerações aplicam e esperam: transparência e honestidade. E aqui estamos.

Que desastre!

Por alguma razão desastrada, no domingo, 10 de março, o Palácio de Kensington divulgou uma foto da princesa com os filhos. O efeito foi o de jogar um fósforo aceso em palha seca: incendiou ainda mais o drama.

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A foto estava cheia de problemas: Kate sem aliança, sinais de photoshop e a irritação do Palácio em falar além do que ela “está se recuperando da operação”. O que está acontecendo com Kate?

Ver essa foto no Instagram

Uma publicação compartilhada por The Prince and Princess of Wales (@princeandprincessofwales)

Quando a foto foi identificada como editada, Kate se viu obrigada a assumir a culpa, quebrando décadas da tradição de evitar explicar. Um erro que será para sempre lembrado em sua biografia.

A Rainha, outra referência do cinema

Em 2006, Peter Morgan lançou o filme que rendeu um Oscar para Helen Mirren – A Rainha – sobre quando em 1997, a Rainha se recusou por dias expressar alguma tristeza pela morte da Princesa Diana e os súditos se voltaram contra ela. Mais uma vez, parece o que estamos testemunhando novamente.

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Apesar das teorias conspiratórias, ninguém morreu, mas Kate Middleton está na posição que a Rainha esteve. O fato de que Rei Charles III também esteja vivendo ele mesmo problemas sérios de saúde, contribui para a crise. Ele escolheu ser mais direto, mas está deixando William e Kate lidarem sozinhos com o problema, mas quem está vulnerável é o seu reinado.

Se em The Crown foi ele quem pressionou a Rainha a endereçar a nação sobre Diana, era de se esperar que na vida real ele estivesse fazendo o mesmo agora com Kate Middleton e Príncipe William, não apenas na ficção.

Final feliz é apenas ficção?

Em A Princesa e o Plebeu, Ann apronta todas sem ser identificada e na hora H, Bradley desiste de fazer a matéria e a protege, guardando o segredo dos dias de liberdade que ela conseguiu ter para si. Em A Rainha, que foi a semente de The Crown, Elizabeth II conseguiu inverter a rejeição e herdou o carinho dos súditos até o fim de seus dias.

Não há como as redes sociais permitirem à Kate Middleton a alternativa dada à princesa Ann de A Princesa e o Plebeu de ter privacidade. Não vai acontecer. Só restaria a ela a seguir o exemplo de A Rainha. E agora fica a dúvida… será que teremos a sétima temporada de The Crown?

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