As tarólogas modernas dos filmes e séries
Em Hollywood, roteiristas se equivocam sobre o papel de tarólogas
Na última temporada de Grace e Frankie entrou uma personagem sensacional, que mudou o rumo da história. A taróloga de Frankie, Madame Elsbeth (Artemis Pebdani) que prevê com exatidão o que vai acontecer, e fica a dica, não é uma boa notícia. Levanta a mão quem não compartilha da ansiedade das personagens antes da leitura? Quem já fez consulta sabe que todos têm medo de ouvir o que não querem. Certamente nem Grace nem Frankie saíram dali as mesmas.
Eu a-mei Madame Elsbeth porque me fez lembrar de algumas situações que vivi com a minha guru e amiga, Adriana Kastrup, a quem fui apresentada há mais de 15 anos pela minha irmã, Cris Paixão, também colunista de CLAUDIA. Adriana é precisa como Elsbeth e ensinou a um grupo muito bacana de mulheres como fazer uma leitura séria de tarô, portanto hoje eu tenho o privilégio de ter mais de uma taróloga para chamar de “minha”. A curiosidade de que Elsbeth é também uma juíza respeitada é um dos sinais mais recorrentes dos dias de hoje, onde um trabalho racional pode coexistir com o lado esotérico.
Claro que Elsbeth, assim como a maior parte das tarólogas na ficção, é o alívio cômico da série. Tem uma bola de cristal e se conecta com o além nas horas mais bizarras, mas o jogo que ela tirou para as personagens estava correto, e longe vão os dias em que as cartas eram mostradas muito distantes de seus reais significados. Em Hacks, minha série favorita do momento, Debra Vance também só faz suas decisões depois de uma visita à sua guru em Sedona, que também viu um jogo exatamente como iria acontecer. Podem rir o quanto quiserem, mas as cartas não mentem. E quando aparece a Torre, como no jogo de Debra, eu tenho calafrios!
Embora divertidas, lamento que Hollywood ainda guarde para as tarólogas um papel sempre questionado, geralmente para personagens histriônicas e apresentadas quase como “bruxas”. É um desserviço com um trabalho bacana, de profissionais sérias que buscam ajudar seus consulentes. Talvez porque as cartas sejam mesmo um roteiro, mesmo que aberto e passível de ajustes, filmes e séries só tragam tarólogos para a trama para subverter as expectativas. As cartas dão spoilers ou foreshadows (dicas), e apenas na conclusão vemos que efetivamente acertam.
Em A Casa Gucci, Pina, personagem de Salma Hayek, acaba influenciando as decisões erradas de Patrizia Gucci (Lady Gaga) e se envolvendo em uma trama criminosa. Em O Beco do Pesadelo, Toni Collette é Zeena, uma vidente que só faz leitura certa para um círculo de amigos, alertando a Stanton (Stanley Cooper), do que estava em seu destino. Em séries como O Mundo Sombrio de Sabrina, Pretty Little Liars, Charmed ou Penny Dreadful, as cartas do tarô eram usadas com frequência, mas nem sempre com o significado real.
A pior leitora de todas na tela foi Solitaire (Jane Seymour), que, ao abrir o jogo para James Bond (Roger Moore) em Viva ou Deixe Morrer interpretou a carta dos amantes no sentido literal, que não poderia estar mais distante de uma leitura correta. Más experiências assim levaram Amy Poehler a reviver uma consulta com uma vidente mal humorada no filme Entre Vinho e Vinagre (Wine Country), da Netflix. Lady Sunshine, a taróloga, pode até ter sido impaciente e meio seca, mas acertou na mosca também. Ela bem que avisou que a tensão entre as mulheres na casa ia subir. Sabe o que mais? Parece que os roteiristas de Hollywood têm mais o que aprender das cartas de tarot do que pensam. Minimamente poderão contar histórias com maior precisão. Eu sigo respeitando as minhas tarólogas…