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Ana Claudia Paixão

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A jornalista Ana Claudia Paixão (@anaclaudia.paixao21) fala de filmes, séries e histórias de Hollywood
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As mulheres poderosas de ‘Duna: Profecia’ e seus espelhos em outras séries

Na nova série da MAX vamos conhecer melhor as Bene Gesserit, a irmandade feminina cheia de ambições e segredos

Por Ana Claudia Paixão
Atualizado em 17 nov 2024, 12h32 - Publicado em 17 nov 2024, 12h25
As mulheres poderosas de 'Duna: Profecia' e seus espelhos em outras séries
Conheça as mulheres protagonistas de ‘Duna: Profecia’, a nova aposta do MAX para o streaming que contará a história política e feminista por trás das Bene Gesserit (MAX/Reprodução)
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Em um ano cheio de grandes personagens femininas, chegou a hora de fechar 2024 com uma irmandade que promete ocupar as nossas últimas seis semanas.

De 17 de novembro até de 22 de dezembro estarei envolvida com o universo de Duna: Profecia. Isso porque a série da MAX afirma que vai contar a origem das Bene Gesserit, a ultra misteriosa ordem religiosa imaginada por Frank Herbert. Porém, a verdade é que teremos mais do que isso: veremos toda politicagem por trás da trama também.

Sim, podem revirar os olhos porque soa como um “Game of Thrones no espaço” e tem sido inevitável sempre citar a série fenômeno. O que não impede de fazer  o exercício de buscar outras referências.

Se os puristas reclamaram das liberdades dos filmes de Denis Villeneuve, já deu pra perceber que terão toda a chance de reclamar (e muito) por aqui. Mas vamos ao que interessa, pois entre as várias mulheres fortes que vão desfilar na tela, teremos que prestar atenção nas duas irmãs: Tula e Valya Harkonnen, interpretadas por Olivia Williams e Emily Watson.

As mulheres poderosas de 'Duna: Profecia' e seus espelhos em outras séries
Pôster promocional de “Duna: Profecia” (MAX/Reprodução)

Duas grandes atrizes, cinquentonas e que vão mexer com o universo. E considerando que há sim uma vertente machista estrutural a colocar a irmandade como vilã, me proponho a buscar paralelos na ficção para confirmar a força delas.

Quem são as Bene Gesserit?

A essa altura, é essencial gravar esse nome, tá? Embora a ordem ainda não tenha esse nome no início da série, essa irmandade feminina (e feminista) é sim dissimulada e atuante em toda franquia.

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As Bene Gesserit são treinadas em habilidades físicas e mentais e dominam desde técnicas de autodefesa até manipulação política, mantendo controle sobre seus corpos e mentes em um grau que as permite influenciar diretamente o curso da história.

Elas possuem objetivos próprios, buscando a evolução da espécie humana e a criação de um ser superior, o Kwisatz Haderach, através de uma cuidadosa manipulação genética e social.

Feminismo e controle sobre o corpo

Em uma sociedade dominada por homens e marcada por estruturas patriarcais, as Bene Gesserit são independentes e trabalham para garantir seu espaço e influência.

Sua autonomia sobre seus próprios corpos — escolhendo quando e com quem procriar, e até o sexo dos filhos — se alinha a uma abordagem feminista, mas é também vista com receio e preconceito por aqueles que não entendem ou temem esse controle.

As mulheres poderosas de 'Duna: Profecia' e seus espelhos em outras séries
Emily Watson como Valya Harkonnen em ‘Duna: Profecia” (MAX/Reprodução)

Sim, essencialmente, os homens. A proposta de Frank Herbert não era para ser simpática às mulheres, tanto que em muitos momentos elas são efetivamente as antagonistas, mas essa ótima deve ser atualizada em Duna: Profecia.

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A representação de Tula e Valya e suas motivações

No universo expandido de Duna, Tula e Valya Harkonnen representam duas figuras fortes dentro das Bene Gesserit e, como falei, são apresentadas como antagonistas.

Não é impossível ter uma leitura que isso vem do reflexo de uma perspectiva machista, onde mulheres poderosas, quando em oposição, são vistas como rivais ou até mesmo como vilãs.

Valya, por exemplo, é uma personagem que age ostensivamente de acordo com os interesses das Bene Gesserit, mas sua ambição e lealdade à ordem a fazem parecer fria e calculista, características muitas vezes negativamente atribuídas a mulheres ambiciosas.

Esse retrato simplista é uma consequência dos rótulos que desconsideram a complexidade de suas motivações, sendo a principal, vingança para sua família.

Como a sociedade as enxerga?

Como são esquisitas e poderosas, as Bene Gesserit são frequentemente vistas com desconfiança e preconceito pelos homens e pelas estruturas de poder do universo de Duna.

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Elas podem muito mais, mas sua função é a de “leitoras da verdade” e são ‘usadas’ para “auxiliar” aos homens a tomar decisões. Ainda assim, a influência delas nos bastidores incomoda. Daí a genialidade do plano criado por Valya.

Qual a conexão de Valya Harkonnen com Lady Jessica e Paul Atreides?

Um dos grandes segredos no filme é a ligação de Lady Jessica com os Harkonnen. Só para te situar, caso tenha esquecido ou ainda não saiba, no universo de Duna, as famílias Atreides e Harkonnen não se bicam.

A origem desse ódio milenar entre eles é inclusive anterior à Duna: Profecia, mas finalmente será endereçado em maiores detalhes na série.

Portanto, Valya Harkonnen é uma ancestral distante de Paul Atreides, e, por extensão, uma parente indireta de Lady Jessica.

Paul, aliás, só existe por conta do plano que Valya vai traçar na série, que é moldar a ordem em suas decisões e influências políticas, contribuindo para a complexa rede de manipulação genética e controle político para criar, o messias, que chamam de Kwisatz Haderach (Paul).

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Rebecca Ferguson como Lady Jessica em ‘Duna Parte 2’ (MAX/Reprodução)

Em tese, sabemos, o plano original era para que Paul, na verdade, fosse uma mulher, mas que Lady Jessica escolheu seguir seu próprio caminho ao gerar um filho homem, contrariando as instruções da ordem.

A visão de Valya sobre o futuro da ordem e suas ambições para o Kwisatz Haderach representam, em certo sentido, o oposto da autonomia e poder que Paul passou a exercer nos filmes, mas não é também como se ela estivesse justificada.  Olivia Williams e Emily Watson são vitais para dar profundidade à Tula e Valya Harkonnen.

Conhecidas por suas interpretações intensas, são essenciais para aumentar a tensão nessa guerra pelo poder. Entre as duas, Valya é a protagonista e dará à Emily Watson, que brilhou mais recentemente em Chernobyl, a chance de conectar com outras gerações.

A ambiguidade da personagem é um desafio que para ela, será fascinante. A habilidade da atriz de expressar emoções contidas e sofrimento silencioso faz de Valya uma figura enigmática, alguém que, mesmo quando parece implacável, sugere uma profundidade humana que vai além das aparências.

A quem podemos comparar Valya Harkonnen?

Até ganhar seu lugar na nossa mente, já posso antecipar algumas personagens às quais vamos comparar Valya, levando em conta outras figuras femininas complexas que exercem poder em sistemas patriarcais e enfrentam julgamentos por isso.

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Gerri Kellman em Succession

Gerri é uma advogada e executiva da empresa Royco, controlada pela família Roy, em Succession. Assim como Valya, ela é estrategista, reservada e habilidosa no jogo político.

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J Smith Cameron como Gerri Kellman em ‘Succession” (MAX/Reprodução)

Gerri usa seu poder nos bastidores e, apesar de sua competência, é vista com desconfiança e até desrespeito pelos homens ao seu redor. A comparação com Valya destaca o quanto mulheres ambiciosas e influentes podem ser subestimadas e como enfrentam rótulos negativos ao exercer poder.

Rhaenyra Targaryen em House of the Dragon

Rhaenyra luta para afirmar seu direito ao trono em uma sociedade que prefere herdeiros homens. Assim como Valya, ela está disposta a quebrar convenções e fazer alianças arriscadas para assegurar seu lugar.

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Emma D’Arcy como Rhaenyra Targaryen em ‘A Casa do Dragão” (MAX/Reprodução)

Ambas desafiam diretamente a ordem patriarcal e sofrem as consequências, o que exemplifica o impacto da ambição feminina em mundos dominados por homens.

Catarina de Médici em The Serpent Queen

Catarina de Médici, de A Rainha Serpente, é outra ótima comparação, até porque muita gente confunde Emily Watson com Samantha Morton. E Rainha Serpente é minha série favorita de 2024, por acaso.

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Samantha Morton como Catherine De Medici em ‘The Serpent Queen’ (MAX/Reprodução)

Mas vemos na série que Catarina, desde jovem, aprende a manipular as complexas intrigas da corte para manter e aumentar seu poder. Ela é astuta e pragmática, movida tanto pela sobrevivência quanto pela ambição, assim como Valya.

Ambas enfrentam uma resistência contínua, sendo julgadas por suas táticas e por sua capacidade de orquestrar alianças.

Alicent Hightower em House of the Dragon

Alicent é uma personagem que se torna uma peça central em uma guerra de poder entre famílias. Enquanto luta para proteger sua posição e a de seus filhos, suas ações são muitas vezes percebidas como frias e calculistas.

As mulheres poderosas de 'Duna: Profecia' e seus espelhos em outras séries
Olivia Cooke como Alicent Hightower em ‘A Casa do Dragão’ (MAX/Reprodução)

Essa comparação realça o quanto a sociedade julga mulheres que optam por jogar o jogo político, assim como Valya, desumanizando-as por suas decisões estratégicas

Clare Shaw em A Diplomata

Clare é uma agente de inteligência em A Diplomata que sabe jogar o jogo político e não hesita em fazer escolhas difíceis. Sua postura estratégica e o fato de que frequentemente age nas sombras, manipulando as situações para alcançar seus objetivos, lembram Valya.

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Eidra Grahan como Ali Ahn em “Diplomat” (Netflix/Reprodução)

Assim como ela, Clare representa uma mulher que trabalha em sistemas onde sua inteligência e influência são temidas e questionadas.

Sofia Falcone em O Pinguim

Sofia, como Valya, é uma personagem que navega em um ambiente dominado por homens, utilizando astúcia e manipulação para se estabelecer. Ela é estrategista, fria quando necessário, e disposta a explorar alianças e rivalidades para avançar seus objetivos.

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Cristin Milioti como Sofia Falcone em ‘Penguin’ (MAX/Reprodução)

A comparação com Sofia reforça a ideia de mulheres que precisam endurecer para sobreviver e prosperar em contextos violentos e patriarcais. Ambas são vistas com desconfiança e enfrentam julgamentos que questionam sua legitimidade, o que as torna figuras polarizadoras.

Cersei Lannister em Game of Thrones

Cersei compartilha com Valya a experiência de operar em uma sociedade brutalmente patriarcal, onde seu poder é sempre contestado. As duas são ferozmente protetoras de seus legados e dispostas a fazer escolhas implacáveis para alcançar seus objetivos.

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Lena Headey como Cersei Lannister e ‘Game Of Thrones’ (MAX/Reprodução)

Cersei também representa o tipo de mulher que é vista como uma ameaça justamente por sua ambição e inteligência, características que também definem Valya.

A associação com Cersei destaca o papel das expectativas de gênero, mostrando como mulheres ambiciosas são tratadas como vilãs, em vez de serem vistas com a mesma admiração que homens no mesmo papel.

Shiv Roy em Succession

Shiv Roy é uma personagem perfeita para comparação com Valya, pois ela é complexa, ambiciosa e constantemente desafiada por ser uma mulher em um ambiente dominado por homens. Assim como Valya, Shiv é julgada por seus familiares e colegas, especialmente quando adota uma postura mais agressiva ou assertiva.

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Sarah Snook como Shiv Roy em ‘Succession” (MAX/Reprodução)

A comparação com Shiv destaca o conflito entre desejo de poder e as limitações impostas pelo patriarcado, além de reforçar a questão de como a sociedade espera que mulheres com poder sejam mais “dóceis” ou “éticas” do que homens na mesma posição. Concordam?

Presença Feminina e Resistência

Qualquer série que ressalte o peso da presença feminina na ordem social é interessante. E as Bene Gesserit são tão misteriosas que mesmo sem complexidade, seriam interessantes.

Tula e Valya representam mulheres que, apesar das pressões e das expectativas, mantêm sua individualidade e são impulsionadas por um desejo genuíno de proteger a ordem.

Os conflitos internos da ordem Bene Gesserit oferecem uma exploração profunda do que significa ser uma mulher em um ambiente onde o poder feminino é ao mesmo tempo valorizado e temido.

Por isso, será que vamos torcer por elas? Estou ansiosa!

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