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Ana Claudia Paixão

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A jornalista Ana Claudia Paixão (@anaclaudia.paixao21) fala de filmes, séries e histórias de Hollywood
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2ª temporada de The Gilded Age acerta na mescla de fatos e ficção

Escapando do dramalhão fácil, a série da HBO Max acertou no ritmo e na afinação do elenco em uma segunda temporada melhor que a primeira

Por Ana Claudia Paixão
24 nov 2023, 18h02
Denee Benton em "The Gilded Age", produção original da MAX.  (Max/Reprodução)
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Uma das diversões do grupo de fãs da série The Gilded Age é identificar os fatos e personagens históricos que transitam entre os fictícios, seja uma participação de Oscar Wilde à soprano Christine Nilsson, ou a presença fixa de Caroline Astor, interpretada por Donna Murphy, entre outros. Com um riquíssimo material de pesquisa, e uma reconstituição de época impecável, a série é um deleite e Julian Fellowes – de Downton Abbey – nos transporta mais uma vez para o mundo de ricos e trabalhadores, dessa vez nos Estados Unidos. Um conteúdo para o perfeito escape, com boas atuações, dramas, risadas e até um certo suspense romântico.

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A protagonista Carrie Coon espelha em boa parte a fascinante história de Alva Vanderbilt. (Max/Reprodução)

Como comentei quando foi lançada, a personagem principal é Bertha Russell, interpretada por Carrie Coon e que espelha em boa parte a fascinante história de Alva Vanderbilt. Assim como sua inspiração, Bertha é um paradoxo de modernidade e enquanto busca se inserir na sociedade tradicional de Nova York, com suas regras e preconceitos. Como a escritora Edith Wharton explica lindamente em A Época da Inocência, “as ruas de Manhattan são retas e numeradas, mas as regras da sociedade não”. E é onde The Gilded Age transita com gosto.

A trama seguiu onde paramos em 2022, com Bertha conseguindo sua primeira vitória contra a arrogância dos mais tradicionais e a mocinha, Marian Brooks, vivida pela filha de Meryl Streep, Louisa Jacobson, com o coração partido. Eu juro que depois da frustração de Ted Lasso (sempre serei do grupo que torcia por Ted e Rebecca, o #tedbecca) prometi a mim mesma não chipar personagens em vão. E cá estou eu querendo que Marian fique logo com Harry Russell, mas as esperanças estão sendo reduzidas aos poucos. Quem é romântica não aprende, pelo visto.

Muitas coisas me divertem em The Gilded Age porque me remetem a um verão nos Estados Unidos, quando morava em Nova York e ia nos fins de semana para Newport, Rhode Island. Foi lá que ouvi pela primeira vez todas as histórias hoje exploradas na série e fiquei fascinada com as mansões que ainda hoje são abertas para visitação e que estão servindo de cenário para a produção. Escapismo é bem vindo, gente! Aquele luxo é real, mesmo que tão distante.

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Outra diversão é o impressionante elenco de grandes estrelas do teatro e musicais da Broadway, que me faz pensar que é quase um crime que nenhum deles cante ou dance em nenhum momento. É outro segredo de The Gilded Age, ali estão algumas das mais belas vozes do entretenimento americano, circulando em papéis até menores.

Mas nem tudo é “perfeito”. Usar Bertha revivendo os dramas de Alva Vanderbilt é maravilhoso, mas em vez de fazer o mesmo espelhamento da rival dela, a Sra. Caroline Astor, em Agnes Van Rhijn (Christina Baranski), trouxeram a “verdadeira” Caroline para a trama e mesmo que Donna Murphy seja incrível, o antagonismo de Agnes em geral cai no vazio isso porque em geral é usualmente imóvel, entra em cena para dizer frases curtas e marcantes, mas não interage realmente com ninguém. A presença de Caroline Astor esvazia a existência de Agnes, um espelho distante da divertida Lady Violet Crawley (Maggie Smith) de Donwton Abbey.

Basicamente estamos lidando com os mesmos problemas das histórias de época: mulheres ‘precisam’ se casar para terem um lugar na sociedade e as que tem um mínimo de personalidade arriscam uma solidão eterna. Daí não há novidade, mas a Guerra das Óperas que é o pano de fundo da ação aconteceu mesmo em 1883, assim como houve a estreia mal fadada da peça de Oscar Wilde, o soprano Christine Nilsson, que viria inspirar a criação do clássico O Fantasma da Ópera realmente era a estrela mais disputada da temporada e houve uma disputa por um Duque britânico, embora não de Buckingham. Se disser quem “ganhou” será um provável spoiler da série, portanto vou ficar quieta por hora.

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Christine Baranski em “The Gilded Age”. (Max/Reprodução)

Ao lado das tantas séries de época, em especial a adaptação de The Buccaneers, cuja trama é semelhante à The Gilded Age e inspirada nas mesmas pessoas reais fica ainda mais difícil não traçar uma comparação, onde a decisão de transformar o livro de Wharton em uma espécie de Bridgerton parece cada vez mais um erro. Enquanto a série da Apple TV Plus não chega à química da série da Netflix, a da HBO Max surpreende por ser original, divertida e até mesmo, moderna. Só para entenderem, tanto Nan Saint George de Buccaneers como Gladys Russell (Taissa Farmiga) são inspiradas na triste e traumática vida de Consuelo Vanderbilt e não poderia receber abordagens mais diversas. Prometo falar mais de Consuelo em breve!

Outro lado interessante é que, como o showrunner Julian Fellowes não tem lugar de voz, a diversidade representada pela personagem de Denée Benton, a querida Peggy Scott, é cuidada diretamente pela historiadora Dra Erica Armstrong Dunbar, que passou os últimos 20 anos pesquisando a vida das mulheres afro-americanas no século 19 e trouxe para a história personagens verdadeiros assim como situações onde fica claro o racismo da época. Ninguém realmente faz a conta, mas a escravidão nos Estados Unidos só tinha acabado pouco tempo antes do período no qual se passa a série. Por isso ver a sociedade de negros livres e ascendendo socialmente tem relevância, mesmo que não seja o foco central.

Mas talvez a melhor notícia é que com o resultado bem sucedido dessa segunda temporada, que já está se encaminhando para fase final, talvez possamos começar a sonhar com uma terceira fase. Afinal, há tanto drama para se desenrolar que poderia facilmente chegar à uma quarta temporada! Eu, pelo menos, quero ainda mais.

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