Artesanato: uma cozinha decorada com alma brasileira
Na cozinha de Maria Benigna, os encantos não são apenas de forno e fogão: ela reservou lugar de destaque nas prateleiras para peças de arte popular, que reverenciam a memória materna e o amor pelo Nordeste.
Foi o empenho da mãe na valorização da arte popular brasileira que levou a consultora da área cultural Maria Benigna Arraes de Alencar Gervaiseau a iniciar a bela coleção de peças que decoram esta cozinha. “Ela tinha orgulho de sua origem nordestina e dedicou a vida inteira a divulgar o trabalho de artistas da região”, conta a moradora, filha da socióloga Violeta Arraes Gervaiseau (1926-2008), que teve intensa atuação como ativista política e comandou, nos anos 1980, a Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult), estado em que nasceu. Influenciada pela paixão materna, a proprietária começou a reunir, ainda na juventude, esculturas talhadas por mestres como Manoel Graciano e Noza. “O acervo segue crescendo. Sempre percorro centros e lojas de arte popular, tanto aqui em São Paulo quanto no Nordeste”, diz. De tão vasto, o conjunto ocupa até o trecho ao redor do fogão no apartamento em que ela vive. “Gosto de ver os itens pela casa toda.” Coube ao arquiteto Gustavo Calazans abrir espaço a eles sobre armários e bancadas na reforma. O pedido não o surpreendeu. “Cozinhas se tornaram locais de convívio. Busco equilibrar esse aspecto com praticidade, já que não deixa de ser o ambiente de preparo dos alimentos”, frisa ele. Alimentos esses para o corpo ou para a alma, como no caso de Maria Benigna.
A coletânea traz objetos garimpados principalmente no Norte e no Nordeste
Das dezenas de obras reunidas pela moradora em mais de 40 anos, a maior parte vem do Ceará, onde reside seu pai, de Pernambuco e do Amazonas. Entre os artistas preferidos estão os mestres Noza (1897-1983) e Nino (1920-2002). Mas ela também tem em casa as tradicionais bonecas do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais.