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Alessandro Mendini e as suas peças cheias de cor e humor

Em sua breve passagem pelo Brasil, um dos designers italianos mais conhecidos no mundo visitou a redação de CASA CLAUDIA e concedeu esta entrevista à editora Regina Galvão.

Por Reportagem Regina Galvão
Atualizado em 26 Maio 2022, 11h23 - Publicado em 7 out 2013, 17h49

O italiano Alessandro Mendini não se leva a sério. Ou melhor, procura encarar a vida com leveza e bom humor. Essa atitude positiva está presente em seu trabalho, sempre colorido e irreverente. Aos 82 anos, ele já criou de saca-rolhas e cafeteiras a edifícios imponentes. Considerado um mestre na Itália, Mendini, que também é escritor, curador e professor, se despe de afetações, como mostrou em sua breve passagem por São Paulo. Foi o palestrante convidado da Casa Cor Stars e assinou a repaginação da A Lot Of Brasil, marca de mobiliário. Em visita à redação de CASA CLAUDIA, ele concedeu esta entrevista.

Como seu trabalho influencia a vida das pessoas?

Meu trabalho é fazer instrumentos que servem para viver e morar. Há a questão funcional e também o aprimoramento da qualidade estética, que ajuda as pessoas a viver de uma maneira mais positiva.

Qual a importância do humor e da cor para o design?

Cor é um elemento de linguagem do mundo, porque o mundo é todo colorido. Usar cor significa usar o modo de expressão da natureza. O humor serve para tornar os objetos mais simpáticos. Quando o objeto é agradável e o designer o trata de forma irônica, perde-se o caráter retórico e acadêmico dele. 

O humor e a cor são as essências de seu trabalho?

Sim. E não só uso a ironia como também aplico a autoironia. O designer não deve se considerar pessoa mais importante do mundo. Deve saber que seu trabalho é algo relativo, e o humor evidencia isso. Já a cor me interessa porque as flores são coloridas e as flores sçao o que há de mais belo na natureza.

Sua casa é colorida?

Minha casa é um espaço muito simples, muito elementar. Tem cores nas paredes e os protótipos de meus projetos. É pequena e não muito estudada, mas muito acolhedora. Quando faço objetos para a indústria, eles me dão os produtos e tenho vários deles em casa. Eu fiz para a Alessi uma coleção de 100 vasos decorados por outros 100 artistas. Eles me deram esses 100 vasos e tenho uma parede tomada por eles. Uma vez por ano é preciso retirar todos e limpar um por um. Estão em prateleiras ocupando uma parede grandíssima.

Qual sua cor favorita?

Rosa.

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Rosa? Por quê?

Por que é a cor da rosa e a rosa é o mais belo objeto do universo.

Um crítico inglês disse anos atrás que você é a Carmem Miranda do design. O que achou dessa definição?

Carmem Miranda era bem mais bonita do que eu. E se vestia melhor. Era uma pessoa extremamente criativa e cheia de energia e este paralelo absurdo me agrada.

Qual é seu método para criar algo novo?

Em nosso estúdio, somos pessoas que trabalham como operários em uma fábrica. Começamos bem cedo e terminamos no fim da tarde. Tem muito trabalho de estudo e de método. Então, não tem inspiração que venha do céu. Trabalha-se analisando a história, comparando-se um projeto ao outro, lentamente se aproxima da novidade.

O senhor já falhou em algum projeto?

Certamente, fazemos muitíssimos erros. Todo mundo erra e nós também, mas isso é interessante, não se pode dizer que todo trabalho se concretiza em um gol.

Você se lembra de algum erro?

Nunca caiu uma casa. (risos) São erros que você esperava atingir um objetivo e não chega a ele completamente. Esperava fazer uma coisa e não consegue exatamente o que desejava. Os erros são formas de se fazer ajustes.

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Como tem sido a experiência com a marca A Lot Of Brazil?

Essa experiência é mérito de Vanni Pasca (curador da coleção lançada pela empresa brasileira, comandada pelo designer Pedro Paulo Franco) e se mostrou muito interessante porque permite uma espécie de ponte entre o método criativo da Itália e o do Brasil, que passa por um momento de efervescência. Eles estão produzindo produtos pertinentes para a Europa e o Brasil. E esse intercâmbio é algo que interessa muito a nós, italianos. E provavelmente também aos brasileiros.

E por que se decidiu renovar o sofá Kandissi, de 1978?

Não fui eu, mas Vanni Pasca. Ele escolheu renovar o Kandissi com o Pedro. A princípio, eu não entendi como dar a ele uma vida nova, mas acabamos fazendo-o pequeno porque o original é muito grande, fazendo-o brilhante porque o original é estofado. Haverá também uma versão com madeira da Amazônia e uma versão para áreas externas, nas cores: vermelho, amarelo e azul.

Como é a parceria com seu irmão Francesco?

Essa parceria é fundamental. Primeiro porque é um milagre que trabalhemos juntos há tantos anos e nunca tenhamos passado por uma briga. Segundo, somos uma espécie de integração empática. Projeto do meu modo e ele do dele. Essas duas formas se integram. Somos muito necessários um ao outro, porque aquilo que falta em mim está nele e vice-versa. Portanto, se eu tivesse que trabalhar sem ele, estaria em grande dificuldade. E penso que ele também.

Que pessoas influenciaram o senhor na sua carreira?

Quando eu falo de mim, falo de nós e também do nosso grupo de jovens colaboradores. Eu tenho referências entre os arquitetos, mas não tenho um mestre. Tenho referências na arte, no cubismo, no expressionismo, em Gaudí. E o mestre é Gio Ponti, com que trabalhei, uma pessoa muito carismática e importante.

E sobre o Memphis?

Eu não participei de Memphis. Mas do Estúdio Alchimia, um pouco antes de Memphis. Depois do design radical, na época em que eu dirigia a revista Casa Bella e se fazia a teoria contra o design. Criamos um grupo chamado Estúdio Alchimia e fizemos um projeto muito particular e revolucionário do ponto de vista da linguagem e do modo de produção do design, especialmente do europeu, coligado ao da Califórnia. Desse grupo nasceu o Memphis, mas eu não fiz parte dele.

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Qual dos seus projetos arquitetônicos mais o emociona?

O mais interessante está no Museu Groninger, no norte da Holanda. Um projeto de muito estudo e feito com uma equipe de holandeses de extrema competência. Nele, pudemos incluir muitos dos nossos objetos de design. Representa quase uma espécie de mãe, que recebeu nossos projetos.

Além de arquitetura e design, pelo que mais o senhor se interessa? Tem algum hobbie? Cozinha, música, literatura?

Cozinhar absolutamente não. Não sei nem ligar o gás. Quando não estou trabalhando, prefiro não fazer nada. (risos) Leio, ouço música, mas pouca. Caminho, mas não faço esporte.

Que música ouve?

Um pouco de música oriental, étnica, sons da natureza, Mozart, mantras, Chopin. Mas isso uma vez por ano.  

E leitura?

Leio crítica e livros de psicologia e psicanálise. Muita revista especializada. Estou lendo, nesta viagem, A Ilha do Tesouro de Robert Louis Stevenson.

O mundo está mudando rápido demais e nós somos bombardeados de informação a cada segundo. Como o senhor vivencia e analisa essa nova era?

Meu ritmo de informação do mundo é o antigo, devagar. Tenho pouco contato com internet e não uso e-mail. E, então, estou tranquilo. Compreendo que são coisas muito importantes, mas, desse ponto de vista, sou um deficiente contemporâneo.  O acesso de informação no mundo é um tanto interessante quanto trágico. Então, é preciso buscar o equilíbrio. Por exemplo, a informação sobre arquitetura e design é em tempo real, mas sem crítica. Enquanto que, em uma revista, a informação passa por uma crítica prévia. Esse é um problema contemporâneo e a crítica está mudando. É uma espécie de revolução da crítica, mas não sei o que acontecerá.

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Qual sua avaliação sobre o trabalho dos irmãos Campana?

O trabalho deles no cenário mundial é muito importante porque vem da natureza de um país grande como o Brasil, que produz objetos muito cheios de humanidade e sensibilidade, de precisão antropológica e coligando muitos modos de usar os tecidos, os materiais. Eles criam objetos de muita fantasia e formas que não existem no mundo. Eles inventaram. Uma sorte terem começado pela indústria italiana e são muito importantes como exemplo de método de trabalho. Fazem essa ligação de tradição e do popular com as novidades tecnológicas industriais.

Você os conhece?

Sim, nos vimos ontem no estúdio deles.

Qual sua opinião sobre o design arte? O design feito para poucos?

Eu faço esse design arte. É muito interessante porque permite uma experimentação pura, livre de qualquer tipo de vínculo. Pode-se compará-lo com o parâmetro da escultura e da arte. O protótipo é uma espécie de escultura que se apoia um objeto funcional. Uma poltrona pode ser transformada em uma visão. É um belíssimo trabalho e muito interessante, mas o aspecto negativo é ser vinculado diretamente ao luxo e ao preto do luxo.

E sobre Oscar Niemeyer?

Um arquiteto fantástico, bravíssimo. Uma pessoa com uma grande visão da arquitetura.

Você o conhecia?

Não.

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E há algum outro arquiteto brasileiro que você conheça e goste do trabalho?

Não sei de nome, mas, da outra vez que estive no Rio de Janeiro, me encantei com uma grande poltrona de um arquiteto brasileiro feita de madeira e couro, dos anos 1960.

Deve ser o Sergio Rodrigues.

Sim, deve ser. Esse foi um período muito importante para o design brasileiro e também para a arquitetura. Gosto de Lina Bo Bardi, que foi uma grandíssima arquiteta. Visitamos o SESC Pompeia e adoramos.

Quais são seus próximos projetos?

Estão na Coreia do Sul e na China. Na Coreia, estamos fazendo um condomínio habitacional e também luminárias. Na China, trabalhamos para uma empresa que fabrica itens de construção, como porta, janela e piso. Vamos para lá em outubro e dezembro.

Vocês viajam muito?

Não, de vez em quando.

E o que mais estão planejando?

Não sei se posso falar, mas estamos fazendo um móvel para a A Lot Of. Vi o protótipo ontem. É de alumínio.

E gostou do protótipo?

Sim, gostei. Vamos apresentá-lo na feira de Milão no ano que vem.

 

 

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