Jêniffer de Paula e o poder do afroempreendedorismo
Dona da marca Omissoró e criadora do Kilombo Cultural, loja colaborativa de empreendedoras negras, não acredita em crescer sozinha
Tudo começou com brincos feitos de caixa de leite e forrados com belos tecidos estampados. Foi assim que Jêniffer de Paula, de 38 anos, encontrou a maneira de sustentar a única filha. Mãe solo, ela trabalhava com telemarketing no turno da noite. A pequena passava o dia na escola e, quando Jêniffer voltava para casa, de madrugada, a criança já estava dormindo. “Minha filha tinha 10 anos, e minha mãe cuidava dela para eu trabalhar. Cada dia ela aprendia algo novo na escola e eu sentia que estava perdendo tudo, não estava vendo ela crescer”, conta a CLAUDIA. Por isso, ela decidiu sair do emprego e se dedicar à venda dos acessórios que ela mesma fazia. “Postava as fotos no Facebook e as pessoas adoravam”, lembra. Assim nasceu, há sete anos, a Omissoró, marca de acessórios em ankara africana, que hoje também inclui no catálogo roupas com as famosas estampas multicoloridas.
Além de vender na internet, Jêniffer comercializava seus produtos em feiras coletivas, entre elas a Feira Preta. Foi lá que recebeu incentivo para abrir uma loja física. Mas ela não queria fazer isso sozinha. E surgiu, então, há pouco mais de um ano, a Kilombo Cultural, a primeira loja colaborativa de Tiradentes, bairro do extremo leste de São Paulo, onde ela nasceu e vive até hoje. “Queria fazer com que o povo do meu bairro consumisse das pessoas daqui mesmo, sem precisar sair para comprar em outras lojas”, conta. Mais que isso, Jêniffer queria multiplicar oportunidades entre mulheres como ela. “Quando eu via para as feiras, levava minha filha pequena e era sempre outra vendedora, que muitas vezes eu nem conhecia, que cuidava da minha filha enquanto eu conversava com os clientes. Sempre foi assim, umas cuidando dos filhos das outras. Então, para mim, não tinha sentido fazer algo que não fosse coletivo ou colaborativo”, explica. A Kilombo Cultural é a razão de Jêniffer ser uma das Potencializadoras, parceria especial entre CLAUDIA, Meta e PretaHub, que conta a história de empreendedoras incríveis.
Hoje, a loja colaborativa conta com produtos de sete mulheres. Cada uma delas paga R$ 50 mensais, mais 10% sobre cada venda realizada, valores muito abaixo do que os praticados por outros empreendimentos desse tipo. Jêniffer comemora que já conseguiu contratar a primeira vendedora da Kilombo Cultural, uma jovem trans. “Para mim, é muito importante trabalhar com outras mães solo, com mulheres trans e outras de nós que enfrentam mais dificuldades”, diz.
Ela conta que demorou muito para se entender como uma empreendedora, palavra que nunca associou a mulheres pretas e periféricas, como ela. “Mas fui atrás de formação, fui estudando, ganhando aprendizado e evoluindo pouco a pouco. Hoje, digo com orgulho que sou empresária, dona da minha própria marca, fundadora de uma loja, empregando diretamente pelo menos uma pessoa.” Jêniffer não acredita em “eupreendedorismo”. Ela quer crescer puxando outras ao seu lado. E é essa força e autoconfiança que ela, com seu trabalho, tenta transmitir às demais.
O projeto Potencializadoras é uma parceria do PretaHub, da CLAUDIA e da Meta para contar histórias de mulheres negras empreendedoras. A fotógrafa baiana Helen Salomão e Wendy Andrade se uniram para retratar 15 mulheres que fazem parte da Aceleração de Negócios de Empreendedoras Negras, iniciativa idealizada pela Meta e pela PretaHub.