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A carreira e os planos de Isabel Ruas, fundadora da Oficina de Mosaicos

Cresce a demanda por painéis de mosaicos em obras, segundo a arquiteta Isabel Ruas, um dos principais nomes desse mercado no Brasil

Por Camila Pati
13 abr 2021, 09h00
Isabel Ruas
Isabel Ruas: tocando grandes projetos, ela planeja expansão internacional (Bruno Lenarducci/Divulgação)
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Enquanto setores padecem na crise gerada pela pandemia do novo coranavírus, a construção civil comemora saldo positivo de contratações. Só em 2020 foram mais de 30 mil empregos gerados, segundo dados do Caged, tendência que segue em 2021. O aquecimento do setor tem efeito em cadeia e puxa a demanda até por áreas bem mais específicas de trabalho.

Portuguesa radicada no Brasil desde a década de 1970, a arquiteta Isabel Ruas, fundadora da Oficina de Mosaicos e uma das principais mosaicistas em atividade no Brasil, que o diga. Com contratos na área governamental e na iniciativa privada, ela sentiu o aumento da demanda, sobretudo, em obras civis. “Nossos trabalhos começam a ser negociados um ou dois anos antes de sua execução. Os mosaicos contratados no início da obra só vão ser aplicados no fim dela. Muitas das obras que estávamos para fechar nesse período, fechamos realmente”, diz.

Ela classifica o mercado de mosaicos no Brasil como um nicho: pequeno, muito especializado e com pouca gente produzindo. “Trabalhamos predominantemente no Rio de Janeiro e em São Paulo. Embora haja também demanda em outros locais”, diz.

Entre os grandes projetos que Isabel tem tocado atualmente estão um painel  com desenho concebido pelo artista plástico Paulo Werneck e o restauro e a reprodução de sete painéis do mesmo artista no terraço-jardim do Instituto dos Resseguros do Brasil (IRB), no Rio de Janeiro.

restauração de painéis de Paulo Werneck no IRB
restauração de painéis de Paulo Werneck no IRB (Oficina de Mosaicos/Divulgação)
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Há 40 anos tocando a Oficina de Mosaicos, ela já formou muitos mosaicistas profissionais. Sem escolas formais de mosaicos no Brasil, é na prática que se aprende o ofício. Para se dar bem na parte de criação de mosaicos, ela diz ser essencial, além de dominar a difícil técnica do mosaico, investir nos conhecimentos artísticos.

“Tem que ter artistas que saibam pensar a relação das cores, e bons técnicos para fazer um bom corte e o encaixe das peças”, diz.  Hoje, na fase mais madura de sua empresa ela também estabeleceu parcerias com artistas não formados pela oficina.

Interessada na relação da arte com a arquitetura, o foco de Isabel são as obras de grande escala, como o painel de Haruyoshi Ono, do Estúdio Burle Marx, feito pela Oficina de Mosaicos, para um edifício na Vila Olímpia, em São Paulo. O painel tem 7,1 m x 7,1 m:

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Um dos grandes orgulhos de sua carreira é ter empreendido o maior painel de mosaico da América do Sul, localizado em um prédio de 11 andares na Avenida Angélica, em São Paulo. A transposição do desenho, concebido pelo artista Claudio Tozzi, para o mural de 600 metros quadrados foi desafiadora, lembra. “É uma montagem onde quase não se vê linha reta, uma mistura muito difícil de tamanho e com muitos tons de azul. Foi um grande desafio de logística e planejamento, pois tínhamos um prazo curto, de três meses.”

maior painel de mosaico de São Paulo
(Inês Bonduki/Divulgação)
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Outro trabalho marcante é a restauração do painel “Alegoria das Artes”, de 1950, de Di Cavalcanti, atingido pelo incêndio no Teatro Cultura Artística, em 2008. A obra, feita entre 2010 e 2011, lhe rendeu o prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, que homenageia a preservação do patrimônio cultural brasileiro. “O restauro foi fantástico, fruto de muito estudo e muito debate e diálogos constantes com o Ipham (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional”, lembra.

A proximidade com as obras monumentais traz o desafio da imersão no mundo da construção civil, ainda predominantemente masculino e machista. “Temos que enfrentar e conquistar espaço, pois estamos no andaime junto com as outras equipes”, diz. Se inicialmente, ela diz ter se cercado de funcionários homens para se defender, hoje ela usa outra estratégia fruto da resiliência conquistada com a maturidade e a experiência. “Aprendi a prever problemas e já deixar tudo negociado. Sabemos o que vai acontecer, quais os problemas que podem aparecer e deixamos tudo claro antes”, diz.

A experiência também ajudou Isabel a ser menos centralizadora no trabalho. “Antes, eu era autossuficiente, queria fazer tudo sozinha e a equipe era um acessório. Hoje, é parte estrutural”, diz. Ela  que começou a trabalhar com mosaicos na década 1980, ao aplicar a técnica em projetos de paisagismo,  não pretende parar tão cedo. Mas quer, cada vez menos estar no centro dos trabalhos.

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“Tenho um sócio muito jovem e artistas interessantes que trabalham conosco. Quero tornar a oficina menos dependente de mim mesma.” Entre os planos para o futuro estão a expansão da atuação internacional. “Já estamos nos Estados Unidos, Portugal e Caribe e gostaríamos de estar em outros locais.”

 

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