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Conheça Grazi Mendes, uma das 100 afrofuturistas mais influentes do mundo

Conheça a executiva, acadêmica e escritora que se tornou uma líder referência no Brasil sobre imaginação através da tecnologia

Por Paola Carvalho
Atualizado em 11 nov 2024, 18h23 - Publicado em 11 nov 2024, 18h15
Aos 44 anos, executiva e escritora reúne em seu novo livro memórias de uma trajetória que a fez chegar entre uma das 100 afrofuturistas mais influentes do mundo (Rodrigo Sanches/CLAUDIA)
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Grazi Mendes assumiu a primeira posição de liderança aos 9 anos, quando tornou-se presidenta do Clube de Leitura que criou em sua escola, na periferia de Belo Horizonte (MG), cidade em que nasceu.

Agora, aos 44, acaba de lançar o livro Ancestrais do Futuro: Qual a Mudança que a Sua Caneta Alcança (editora Benvirá), no qual reúne parte da trajetória que a colocou na lista das “100 afrofuturistas mais influentes do mundo” (Most Influential People of African Descent – MIPAD), iniciativa apoiada pela Organização das Nações Unidas (ONU). Ela recebeu o reconhecimento em Nova York (EUA), em setembro. 

Ancestrais do Futuro: Qual a Mudança que seu Movimento Alcança?

livro ancestrais do futuro

O livro de Grazi se inicia com uma lembrança. “Por debaixo da mesa da cozinha, consigo ver os pés das cadeiras e os pés de minha mãe e minha irmã, que andam apressadas pela casa, provavelmente me procurando após algumas horas de sumiço. Seguro nas mãos um dos poucos livros que temos em casa.  Quando volto os olhos para as páginas, a realidade ao meu redor se apaga lentamente, como se feita de fumaça, e em seu lugar vejo surgir outro cenário, uma cidade desconhecida, um personagem que vive aventuras inspiradoras. Crio outro mundo, porque ali começo a imaginar”, conta Grazi, filha de mãe empregada doméstica e pai vigia, alfabetizada pela irmã mais velha.

Hoje, quando volta os olhos para a capa que leva a assinatura de seu próprio nome, pergunta-se se aquela Grazi, que se escondia embaixo da mesa para ler, também vislumbrava o poder que existia na imaginação.

Ela segue imaginando, criando, realizando e, mais do que isso, construindo pontes e fazendo perguntas: o que o ato de imaginar pode construir? E como o reconhecimento do potencial dessa ferramenta modifica nossa relação com o tempo em que vivemos, com o futuro que queremos construir e com o legado que deixaremos?

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Pensadora de futuros

“Quando vejo o meu nome em listas internacionais, junto a pessoas que admiro tanto e me inspiro, sei que não sou só a Grazi Mendes, pensadora de futuros, ativista e executiva, mas também a garota que, há muitos anos, desejou fazer parte de uma sociedade mais inclusiva, diversa e plural. E é por ela que eu tenho trabalhado na construção desses futuros”, afirma Grazi, que também é diretora  de Diversidade para América Latina da Thoughtworks, uma das maiores consultorias de tecnologia do mundo.

Grazi Mendes e a radicalidade da imaginação
Quando vejo o meu nome em listas internacionais, junto a pessoas que admiro tanto e me inspiro, sei que não sou só a Grazi Mendes, pensadora de futuros, ativista e executiva, mas também a garota que, há muitos anos, desejou fazer parte de uma sociedade mais inclusiva, diversa e plural” (Rodrigo Sanches/CLAUDIA)

Líder executiva e acadêmica, ela destaca-se nas áreas de diversidade, inclusão e liderança inclusiva. Com mestrado em Design e especialização em Neurociência e Comportamento e em Inovação Digital, sua pesquisa foca na inclusão de mulheres negras na tecnologia. É cofundadora do cursinho preparatório “Voa, Papagaio!”, que promove a entrada da juventude periférica nas universidades, e da Ponte, uma consultoria que atua na educação e construção de espaços acolhedores em empresas.

Também é professora convidada em programas de desenvolvimento de lideranças e cultura inclusiva nas principais escolas de negócios do Brasil e fellow do Columbia Women’s Leadership Program, programa de liderança feminina da Columbia University.

Não por menos, ela sente a responsabilidade de abrir caminhos. “Sei que eu sou exceção. Por isso, para mim, estar na Times Square, em Nova York, com um prêmio em mãos, é um sinal de interrogação: por que tão poucas pessoas pretas, especialmente mulheres, ocupam esse lugar?”. Os números a incomodam: menos de 1% de mulheres negras ocupam cargos de liderança, ao mesmo tempo que são 28% da população brasileira.

“A realidade da sociedade não se reflete nas instâncias de poder”, reforça. 

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Imaginação é radical

Essa trajetória também é atravessada pela tecnologia. Na década de 1990, Grazi fez um curso técnico sobre manutenção de computadores, que assim como livros eram considerados artigos de luxo. Aos 16 anos, começou a trabalhar com processamento de dados em uma concessionária, dividindo as tarefas com o filho do dono, que ingressaria na universidade.

“A gente não sonha com o que não vê”, pontuou. Ali, ela enxergou a possibilidade de ser a primeira da família a fazer um curso superior e foi atrás. Ganhou uma bolsa de estudos para Administração de Empresas, o que abriu portas para seu primeiro estágio em uma multinacional de telecomunicações. “Descobri que existe um poder grande nas frestas. Hoje, posso abrir a porta da frente”, disse. 

Ao longo de sua carreira, Grazi foi reconhecida em prêmios importantes, como personalidade profissional da área de Pessoas pela Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), e personalidade profissional da área de Pessoas e Cultura pela Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento (ABTD).

Em 2021, foi nomeada uma das #TOP10 HR Influencers do Brasil pela GOIntegro LATAM. Como TEDx speaker, abordou o tema “Coragem como Movimento de Futuro”. Em suas falas, em muitos palcos, ela faz um alerta: “Estamos tentando humanizar máquinas e robotizar pessoas”.

Grazi Mendes e a radicalidade da imaginação
“É uma tecnologia humana para enxergar o mundo para além do que podemos perceber; precisamos nos nutrir de repertório e capacidade de imaginar” (Rodrigo Sanches/CLAUDIA)

E, contra isso, ela aponta uma ferramenta, a “imaginação radical”, que não é sobre como as coisas são, mas como poderiam ser e, por isso, seria mais potente que a realidade, uma vez que não está limitada ao que está imposto.

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“É uma tecnologia humana para enxergar o mundo para além do que podemos perceber; precisamos nos nutrir de repertório e capacidade de imaginar; fazer investimentos na capacidade imaginativa para avançarmos como sociedade.” 

Outra ferramenta indicada por Grazi é a “tecnologia da esperança”, aquela que reúne indignação para não aceitar as coisas como elas são e coragem para mudá-las. E para melhor usar qualquer que seja a ferramenta, ela acredita que é preciso resgatar a capacidade de se fazer perguntas.

“Olha que paradoxo: a inteligência artificial está baseada na nossa capacidade de elaborar boas perguntas, de fazer bons questionamentos”, alerta.

Ressignificando o futuro

Uma importante e mais recente parte de sua trajetória ficou de fora da história que escreveu, mas tem possibilidade de ganhar novas páginas em breve.

Há um ano, Grazi recebeu um diagnóstico de câncer de mama bastante agressivo, adiando o lançamento do livro, que já estava pronto. Depois de sete meses de quimioterapia, sente orgulho da mulher que se tornou, encarando a vida de outra forma. “Em um processo de cura, tudo se ressignifica”, afirma. 

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De lá para cá, nesse curto recorte de tempo, ela se reconheceu em uma nova versão, retomando antigos projetos e abraçando novos. “Recebi uma bolsa para estudar na Columbia University (NY), conheci a Oprah Winfrey, tanta vida acontece”, disse nesta entrevista, realizada por meio de videochamada, que concedeu enquanto ainda estava em Nova York, em meio a uma apertada agenda.

Pela tela, ela mostra a tatuagem de Sankofa: um símbolo e conceito africano que representa o retorno ao passado para ressignificar o presente e construir o futuro. “A reprodução do inadequado é um futuro que não vale a pena ser vivido. Ou, como diz o Emicida [cantor e escritor], para que o amanhã não seja igual a ontem”. 

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