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Thais Chede: um papo sobre carreira, síndrome da impostora e igualdade

Em entrevista à CLAUDIA, executiva fala sobre sua trajetória profissional e de como se moldou para ambientes corporativos até se encontrar

Por Raíssa Basílio
13 jun 2023, 08h37
Thais Chede
Thais Chede (Maurício Fidalgo/Globo/Reprodução)
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Vivemos um período considerado de privilégio para muitas mulheres, ainda que não seja o ideal e precisamos ter plena noção disso.

A mulher brasileira recebe um salário, em média, que condiz com 78% do que um homem ganha, de acordo com os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Isso precisa mudar.

Hoje em dia, os ambientes de trabalho seguem predominantemente masculinos, mas existem os mistos, de acordo com a segmentação, o que é um avanço. Muitas mulheres tiveram que andar para que pudéssemos correr – ainda que exista um longo caminho pela frente.

Uma dessas presenças femininas que abriram portas é a executiva Thais Chede, que passou 25 anos na área comercial da Editora Abril e quase 10 como diretora de afiliadas da Globo.

Conversamos com a profissional, que nesses últimos anos se aventurou também como escritora no recém-lançado Uma sobe e puxa a outra: Sem saber que era possível, foram lá e fizeram.

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No capítulo que assina, Thais discorre sobre sua carreira profissional. “Ambiente corporativo, em empresas majoritariamente masculino, machismo estrutural e eu cheguei até aqui. Eu achei que seria legal contar um pouquinho dessa história”, conta à CLAUDIA

Série de livros
Série de livros “Uma sobe e puxa a outra” (‎Literare Books International/Divulgação)

Chede abre sua participação na obra de uma forma muito significativa, ao citar que em 1962 foi aprovado o Estatuto da Mulher Casada, em que os direitos civis das mulheres casadas foram ampliados e elas não precisavam mais de autorização dos maridos para trabalharem.

Ela conta que descobriu o fato em uma pesquisa e o propósito é justamente causar um choque nas gerações que vieram depois. O resultado disso é bem nítido, a executiva se destacou em ambientes dominado por homens e mostrou a importância da pluralidade de gêneros. Leia a entrevista:

CLAUDIA – Partindo da minha experiência profissional, trabalhei pouco com mulheres em cargos de lideranças. Hoje em dia, noto como essa compreensão é fundamental, em diversos setores da vida profissional. Como foi isso para você?

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Thais Chede – Eu tive muitos chefes homens maravilhosos e assim eu cruzei com homens bacanas na minha carreira e os homens não tão bacanas. Assim como as mulheres, tiveram as bacanas e as não bacanas, né? É então assim, essa compreensão é só feminina. Eu concordo com você. Os homens, eles respeitam né? Com mulher é diferente, ela vai te compreender que durante a gravidez você não vai conseguir trabalhar da mesma maneira, terão dias que você vai falta, passar mal no trabalho. Então existe uma compreensão e empatia, eu acho que isso é legal. Mas assim, do lado masculino se a gente tiver o respeito já está bom”.

Você abriu portas para muitas mulheres no mercado de trabalho, seja na sua área quanto em outras.

Assim como você vai abrir para tantas outras portas. Eu tenho o receio de estar simplificando, mas, lá atrás, esses conceitos não estavam disseminados. Não se falava com essa fluência sobre machismo e gêneros, hoje em dia isso é completamente plural e existem muitas questões relacionadas. Há um nível maior de sofisticação na compreensão das pessoas é muito maior hoje. Existia uma forma mais velada. Naquela época, você tentava se adaptar se tornando um pouco masculina. Nas roupas que você usa na pragmatismo que você quer adquirir, na forma às vezes, um pouco mais objetiva, de se expressar. Especialmente quando eu comecei, eu fui promovida e comecei a entrar nas mesas de diretoria, onde só tinham homens, todos de terno de gravata. Então eu tentava me adaptar. Inclusive na forma como eu me vestia porque, na minha cabeça, evitaria que eles olhassem para mim o tempo inteiro como uma mulher.

Pode comentar um pouco mais sobre isso?

Em um determinado tempo, eu tentei me enquadrar no modelo masculino, mas quando eu fui ganhando um pouco mais de segurança, notei que não era necessário. A gente não precisa se vestir igual aos homens. É legal se vestir de terno, eu adoro, acho chiquérrimo, mas não precisa ser só isso. A partir disso, eu dei uma relaxada. É engraçado porque na Abril as pessoas falavam que eu tinha um estilo diferente, eu ia trabalhar com sandália rasteirinha, com os dedos de fora, e não salto ou sapato fechado. Eu não gostava disso, não fazia meu estilo. Uma vez, na quando eu fui trabalhar na Globo, a gente tinha uma reunião de segunda-feira. Eu lembro que a primeira vez que eu fui, eu sentei e vi que dava para ver os pés das pessoas. Eu conseguia ver o de todo mundo e via as mulheres todas de sapato de salto fechado, em um calor absurdo. Eu nunca vou me esquecer no fim de uma reunião dessas, um dia uma delas, veio para mim e falou: “Thais, eu hoje participar dessa reunião e olhar o seu pé de sandália rasteira para mim é libertador. Eu nunca mais vou usar esses sapatos”.

Você foi à frente do seu tempo até nisso…

Para mim, era tão normal. A [Editora] Abril, depois dessa fase de ternos e gravatas, foi ficando uma empresa mais livre. Você se vestia de um jeito mais livre. Eu sai de um modelo em que achava que precisa me vestir e portar como os homens, para depois aprender que não precisava ser desse jeito

No entanto, nessa trajetória nem tudo foram flores.

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Mas Thais, nessa jornada você não encontrou assédio moral, você não sofreu? Eu sofri, porém a forma de lidar era fingir que você não viu. Hoje, olhando para trás, eu penso assim: ‘poxa vida, se ao invés de fazer isso eu tivesse enfrentado e botado a boca no mundo?’. Talvez eu tivesse contribuído para que a evolução fosse um pouco mais rápida. Mas, ao mesmo tempo, eu não tinha espaço para isso. Até hoje, eu percebo momentos que não tinha identificado machismo estrutural atuante e vindo, às vezes, das próprias mulheres. Eu vejo em mim atitudes que tive replicando o modelo de machismo estrutural. Temos que responsabilizar as mulheres também.

Há alguns anos, a gente não tinha muita concepção tão esclarecida do machismo estrutural da sociedade.

Você vai ter ainda essa fluência e não precisa ser de uma forma agressiva, porque os amigos e dentro do ambiente de trabalho, às vezes pintam ideias machistas. Não somos perfeitas, então a minha visão é de transformação, não de cancelamento e punição. Se a gente tem oportunidade de pontuar que aquilo ali não é legal para uma pessoa que vai compreender, é muito melhor do que você acusar. Esse é o meu jeito até hoje. A não ser que seja uma coisa absurda, eu acho que vale muito mais a pena você conversar.

Mudando um pouco de foco, outro problema que acomete mulheres é a síndrome da impostora, que você discorre um pouco no livro Uma sobe e puxa a outra.

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Eu consigo identificar que a síndrome da impostora batia sempre quando eu tinha que dar um passo adiante. Eu sempre achava que eu não estava preparada. Eu não contei no livro, mas quando eu recebi o primeiro convite para ser diretora, eu era par de uma outra pessoa, de um cara. E a gente tinha trabalhado juntos há muito tempo e eu pensava por que não estavam convidando ele. Eu achava que ele era melhor do que eu. Era um negócio muito forte, eu realmente achava que eu não era capaz. A síndrome sempre bate para mim bem na hora que eu tenho que sair da minha zona de conforto para fazer alguma coisa que não me considero capaz. Eu tenho síndrome da impostora, mas também tenho inseguranças.

Thais conta do nervosismo de se preparar para uma reunião com pessoas importantes e de ter que subir no palco em um evento deste tipo. Nem tudo é síndrome da impostora.

Eu acho que esse nervosismo é bom porque você tem que se preparar para as coisas. Assim como você precisa se preparar para escrever melhor, eu tenho que me preparar para subir no palco mesmo nervosa e fazer uma apresentação boa. A gente não pode atribuir tudo a síndrome da impostora. Para conquistarmos espaços, precisamos ter um esforço também. Não basta simplesmente ser mulher. É preciso se preparar, estudar, aprender a falar e a escrever, manter o equilíbrio, ser uma boa líder, lidar com as pessoas e a respeitar o seu limite. Tem horas que precisamos parar. Eu sou bem forte em relação a isso, mas tinham horas que era impossível. Eu brincava e dizia que ia no shopping, isso era verdade. Eu olhava as vitrines e esvaziava minha cabeça assim de um jeito, sabe? Eu não comprava nada, mas só de passear e de ninguém me conhecer. Tomar um café sozinha, ir ao cinema e fingir que ninguém sabe quem você. É uma boa terapia, e você coloca uma barreira, respeitando seus limites. Depois eu aprendi a fazer coisas melhores, como meditar.

É importante se respeitar, né? Estamos em uma geração que o burnout está virando uma parte da vida.

Lá atrás, eu não respeitava muito meus limites. Eu queria fazer tudo, porque como eu achava que eu era pior que todo mundo, eu tinha que fazer tudo. Trabalhar de manhã, tarde e noite, fazer em todos os eventos e todas as apresentações. A gente carrega uma bagagem que é grande, mas eu acho que a gente aumenta também. A gente se propõe a carregar mais coisas do que o necessário.

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