Conheça Marisa Mestiço, a diretora por trás do sucesso do Masterchef Brasil
A chefe dos chefs é diretora-geral do MasterChef Brasil desde 2018 e coordena 150 pessoas no reality show gastronômico mais popular do Brasil

Uma mulher possível – esta é a definição que Marisa Mestiço, 44 anos, atribui a si mesma. Depois de encarar uma maratona de gravações do MasterChef Brasil, programa do qual é diretora-geral e coordena 150 pessoas, além da rotina em casa com marido e dois filhos pequenos, não há como escapar da pergunta feita pela reportagem: “mas como é que você dá conta?” Sua resposta não poderia ser mais pragmática: “Eu não dou”.
Comandar o maior reality show gastronômico do país foi, até agora, o ponto alto da sua carreira. E elaborar esse sucesso passou pela aceitação de que o verdadeiro trunfo para viver com leveza não é a habilidade de equilibrar todos os pratos, mas a de saber a hora de deixá-los cair.
“Durante muitos anos eu achei que dava conta de tudo. E agora, olhando para trás, vejo que fingia dar conta, esperando que alguém dissesse: ‘Ai, ufa, a Marisa deu conta’. Mas isso custou minhas noites, meu relacionamento, minha família, meus amigos. Então, descobri que estava tudo muito pesado para mim. Comecei a entender que deixar os pratinhos caírem faz parte da vida”, afirma.
Sempre digo: ‘A gente dorme com um problema. Se acordar no dia seguinte e ele ainda estiver lá, então é um problema de verdade. Se sumiu, era só emoção’
Marisa Mestiço
Marisa radiante

A reflexão, apesar de ensimesmada, está longe de defini-la como uma pessoa taciturna. Cumprindo os mandamentos astrológicos dos leoninos nascidos em agosto, Marisa é radiante e expansiva. Na redação do MasterChef, no prédio da Band TV, em São Paulo, sua mesa marca bem esse espírito: muitas fotos dos filhos e dela com seus amigos do trabalho, quatro plantinhas (duas vivas e duas mortas, mas ela garante que está tentando reverter esse quadro) e, posicionada acima do monitor, uma cabeça de boneca pintada com canetinhas coloridas – obra de arte concebida por sua filha Luiza, de 10 anos.
Ao lado do seu computador, uma mini geladeira com a foto da Ana Paula Padrão estampada na porta passa um recado: “Deixei a Ana na geladeira por enquanto”, brinca Marisa – a jornalista comandou a apresentação do reality desde sua estreia no Brasil, mas decidiu deixar a atração este ano. Bem posicionada sobre um armário, uma pequena exposição dos prêmios conquistados pelo MasterChef Brasil asseguram o sucesso.
“É até engraçado, porque eu sou assim, com essa voz dançante, essa cara meio angelical, mas eu sou muito rígida. Responsabilidade é algo que você precisa ter ao assumir um projeto grande. Sempre digo: ‘A gente dorme com um problema. Se acordar no dia seguinte e ele ainda estiver lá, então é um problema de verdade. Se sumiu, era só emoção’”, brinca.
Para Érick Jacquin, um dos jurados do programa, é esse astral que faz com que Marisa fuja da regra pouco cortês do audiovisual. “Ela dirige muito bem as pessoas, de forma muito doce e agradável – o que é muito difícil de ver na televisão. A maioria dos diretores é muito grossa. Ela se entrega muito, deixa fluir, mas, quando a gente precisa, ela está ali”, afirma.
“Eu me sinto muito segura nesse projeto com a Marisa à frente, dirigindo, nos protegendo também, porque às vezes a gente fala umas besteiras”, brinca Helena Rizzo, também jurada do reality. “Acho que ela está sempre nos fortalecendo e estimulando. Dá para ver que ela é firme quando a gente não se comporta.”
Primogênito

Marisa gosta de dizer que o MasterChef é seu primeiro filho, pois ainda não era mãe quando o projeto chegou ao Brasil. Ela integrou a equipe que o tirou do papel, desde o rascunho até a elaboração final, e, quando o programa estreou em 2014, já atuava como coordenadora de conteúdo.
Apesar do sucesso estrondoso do reality já naquele primeiro ano, Marisa passou esse período em meio a uma avalanche que nada se assemelhava à atmosfera de entusiasmo que tomava conta da sua vida profissional. “Meu pai estava morrendo, meu marido desempregado e eu estava grávida. Tudo aconteceu junto”, lembra.
Ambição não é bem o sentimento que levou Marisa a ocupar o cargo que tem hoje. Tanto que sequer entendeu que se tratava de uma promoção quando recebeu o convite de Patricio Diaz para assumir seu lugar na direção geral do programa, em 2018. “Pensei no modo automático da pessoa que sempre se propôs a fazer de tudo, que resolvia os problemas e era o quebra-galho. Não me senti escolhida, mas assumindo um lugar que alguém não queria estar”, conta.
Na época, a falta de entusiasmo surpreendeu Diaz que, àquela altura, já tinha consultado toda a equipe do MasterChef sobre a escolha de Marisa para assumir a direção-geral. “Eu vim de origem periférica e pessoas da periferia não estão acostumadas a planejar a sua carreira. Você vive em função do dinheiro que pode trazer para dentro da sua casa, para ajudar sua família. Eu sei que não acredito em meritocracia, mas acho que, para chegar até aqui, foi um pouco de sorte de estar nos lugares certos na hora certa”, afirma.
Marisa é do extremo-sul de São Paulo, do bairro São José, nos arredores do Grajaú. A humildade da sua origem talvez justifique a modéstia do pensamento sobre si mesma – pouco atrelada à realidade. Além de ser jornalista por formação, Marisa também é atriz, roteirista, produtora, cinegrafista e, antes de encabeçar a direção do reality, fez de tudo no audiovisual, dirigiu programas menores e transitou entre o nicho de esportes e entretenimento.
Em família

Depois de 11 anos no ar, ela fala da equipe como se fosse parte da sua família. O estúdio do MasterChef foi quintal para as brincadeiras de seus filhos, Luiza e Bento, que cresceram no sling preso à Marisa ou no colo de Ana Paula Padrão e Paola Carosella. Entre uma gravação e outra, ela viu sua vida mudar de curso diversas vezes, se separou e reatou o casamento, perdeu o pai e viu a mãe enfrentar um câncer, viveu uma pandemia e fez amizades que ultrapassaram a barreira profissional.
Quando engravidou de Luiza, Marisa se lembra de ter sido surpreendida por Paola. “Ela pegou a mala da saída da maternidade da filha dela, juntou todas as coisas que tinha guardado e me deu de presente. Eu fiquei tão emocionada, mas tão feliz. E não foi porque era a Paola, mas porque era minha amiga, e aquilo era algo muito importante da filha dela”, lembra Marisa.
Em outros momentos em que Marisa se sentiu fragilizada, foi Ana Paula que não só ofereceu o ombro amigo, como também permitiu que ela pudesse se olhar com mais carinho. Foi assim que começou a usar batom, por exemplo, algo que até então ela não fazia. “Sempre trabalhei num universo muito masculino e, para ser respeitada, comecei a me masculinizar.
Passei a me vestir como homem, a tratar como homem, a ser escrota como homem. Quando me tornei diretora-geral, a Ana me disse: ‘Por que você está se escondendo?’ Eu escondia o corpo. Ali, eu me transformei. Virei uma pessoa muito mais expansiva”, conta.
Dada a chance de recorrer ao trocadilho, não se pode desperdiçá-la: aqui, vale dizer que o segredo do tempero do MasterChef é a intimidade. É a relação entre equipe técnica e artística que torna possível o entrosamento na frente das câmeras e a dinâmica capaz de mobilizar um país, seja em torno da comida ou da história dos participantes.
O programa venceu o Troféu Imprensa 2025 como melhor Reality de Culinária e causou outro momento de reflexão na vida de Marisa. “Nunca imaginei que em 23 anos de profissão eu ia ser reconhecida e fazer algo pelo qual as pessoas se identificam, se emocionam, se envolvem. Descobri que tenho uma voz muito potente, e essa voz tem que reverberar. Preciso devolver o que eu construí para outras pessoas”, afirma.
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