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Diário De Uma Quarentener

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Juliana Borges é escritora, pisciana, antipunitivista, fã de Beyoncé, Miles Davis, Nina Simone e Rolling Stones. Quer ser antropóloga um dia. É autora do livro “Encarceramento em massa”, da Coleção Feminismos Plurais.

Quando um resfriado vira uma paranoia

A escritora Juliana Borges descreve os efeitos da ansiedade em uma saída necessária durante a pandemia

Por Juliana Borges
15 set 2020, 21h39
 (Brothers91/Getty Images)
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São Paulo, 15 de setembro de 2020

Eu componho o grupo que ainda se mantém em isolamento social. Não digo que seja um privilégio, porque acredito que privilégio signifique muito mais, como compor a parcela dos mais ricos e ter poder real. No meu caso, eu consegui ter trabalhos que, mesmo pjotizados, me garantem uma rotina de horários mais flexível, além de trabalhos que envolvem reflexão, análise e escrita e que podem ser feitos de casa. Na verdade, home office, para mim, já era a regra. E, por isso, e só por isso, continuo aqui.

Mas, tive que sair na semana passada. Aliás, por uma nova aventura que iniciei com outros dois amigos – conto sobre ela noutro dia –, estou saindo uma vez por semana. E daí que saí bem em dia que o sol resolveu aparecer para ser marcante. Sabe como é? Aqueles dias que parece que a água seca do corpo enquanto ainda nem terminamos a garrafa. Eu ainda tenho medo de andar de metrô, principalmente depois de ler que é um dos lugares com a maior probabilidade de contágio. Então, decidi chamar um carro por aplicativo. Mas ele estava terminando uma outra viagem, de modo que no momento em que entrei no carro, pensei se havia tido tempo para a desinfecção. Como eu ando com um spray próprio – desculpem, sou desse tipo –, resolvi o problema. Vidros bem abertos, ventilação a todo vapor e o álcool em gel para garantir. Passei o dia na livraria, sob um calor infernal, pendulando entre lavar as mãos e passar álcool todo tempo. E o retorno para casa até que foi tranquilo, após uma ida ao mercado para já garantir uma semana toda sem ter que sair.

Só que esse vírus e as novas dinâmicas mexeram mesmo com a gente. Durante todo o dia, eu senti uma angústia tremenda. Aliás, recente pesquisa, do Instituto Data Favela, apresentou que 73% dos brasileiros se sentiram ou se sentem angustiados diante dos novos tempos. Só que minha angústia, em geral, anuncia uma crise de ansiedade. E foi o que eu tentei evitar durante todo o dia.

A gente pira tanto nesse corona, que eu comecei a sentir minha garganta arranhando ainda no carro de volta para casa. Depois de todo o cerimonial de desinfecção em casa, eu deveria estar tranquila. Mas, eu comecei a sentir falta de ar. Já queria chamar o Samu. Mas era ansiedade. E tome chá de camomila – eu tento usar o ansiolítico como um último recurso. Pouca adiantava. E no dia seguinte, eu tossi. Era um engasgo, mas até eu ter a total noção disso, eu já logo medi minha temperatura. Na madrugada, durante a insônia, que já é habitual e só piorou com a pandemia, eu resolvi pesquisar sintomas do Covid-19. A despeito de todas as informações que me diziam que os sintomas aparecem apenas após 5-7 dias, eu achava que eu poderia ser um caso fora da curva e já ter sentido sintomas em 4 horas. E eu jurava que a tosse era apenas seca, mas quem procura acha e encontrei casos, raros, em que a tosse também pode conter catarro. Mas, pode ter sido algum site maluco, apenas alimentando mais ainda minha ansiedade.

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No dia seguinte, eu precisei do ansiolítico. E o tempo mudou. Eu não tive febre, falta de ar relacionada a alguma questão pulmonar. Eu tive uma pré-imensa-crise-de-ansiedade anunciando um resfriado que já dava seus sinais um dia antes de eu sair para a livraria. Mas, juro para você, foram os piores dois dias da minha vida. Nessa semana, eu saio de novo – a livraria me espera – e será inevitável. Santa vacina, venha logo.

Em tempos de isolamento, não se cobre tanto a ser produtiva:

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