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Juliana Borges é escritora, pisciana, antipunitivista, fã de Beyoncé, Miles Davis, Nina Simone e Rolling Stones. Quer ser antropóloga um dia. É autora do livro “Encarceramento em massa”, da Coleção Feminismos Plurais.
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Allende Vive!

"Ao som de 'El pueblo unido jamais sera vencido', do grupo chileno Inti Illimani, escrevo o diário de hoje"

Por Juliana Borges
Atualizado em 16 set 2020, 16h25 - Publicado em 12 set 2020, 19h49

São Paulo, 11 de setembro de 2020

Ao som de “El pueblo unido jamais sera vencido”, do grupo chileno Inti Illimani, escrevo o diário de hoje. Não é um dia qualquer. Há 47 anos, Salvador Allende e o Chile sofriam um golpe do que seria uma das ditaduras mais sangrentas da América Latina. E Allende, então presidente, como um ato de resistência frente as torturas e humilhações que viria a sofrer, se suicidaria com AK-47, presente do amigo e líder socialista cubano Fidel Castro.

A discussão em torno das circunstâncias da morte de Allende foi por um muito tempo um ponto de tensão no Chile. Primeiro, porque a morte ocorreu minutos depois que o líder do golpe, Augusto Pinochet, acessava o Palácio La Moneda com outros membros do Exército. Segundo, pelo próprio tê-la anunciado. E, terceiro, pelo tipo de arma utilizada. Mas, em 2011, a Sala Penal do máximo tribunal chileno ratificava o suicídio.

Salvador Allende é uma figura importantíssima. Sua vitória aconteceu em meio a diversos golpes anticomunistas na América Latina, realizados por forças conservadoras, muitas militares, destes países e amparados pelo intervencionismo estadunidense.

O golpe de 11 de setembro de 1973 pode ser configurado como um processo terrorista, tendo em vista as tensões e práticas da extrema-direita chilena, mas porque, literalmente, bombardearam o Palácio La Moneda, residência oficial da Presidência chilena. Imagine você esse absurdo, como um ataque com bombas a casa que representa todo um país e ao líder representativo da nação? Após esse golpe e da ascensão de Pinochet, o Chile passou por um processo de muitas perseguições políticas, a artistas, principalmente aos que participavam do movimento Nueva Canción Chilena – o movimento tinha como objetivo a recuperação da música tradicional e folclórica chilena, realizando a fusão com ritmos latino-americanos. A música Violeta Parra é considerada uma de suas precursoras.

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A questão é que com Allende, o Chile vivia um processo de intensos movimentos e organizações populares, de efervescência cultural, de diálogos e ampliação democráticos. Tudo interrompido porque Allende defendia distribuição de renda, fortalecimento nacional, fim das desigualdades: uma agenda socialista democrática.

Acho importante falar de Salvador Allende hoje pelo que ele representa, mas para que a gente compreenda que o 11 de setembro já é importante como resistência a políticas terroristas desde os anos de 1970. E que, portanto, mais do que uma data de lamento, temos uma data de resistência.

Em um momento em que vemos retornar tempos sombrios de altas de inflação, em que comer tem se tornado cada vez mais difícil, que precisamos resistir. Em um momento em que tentam repaginar a famosa frase de Marie Antoinette – que comam brioches! para “que troquem o arroz pelo macarrão!” – o nosso silêncio pode ser nossa pior opção. A canção que abre o diário de hoje é simbólica. As resistências podem ser variadas, principalmente se pensarmos que fortalecer os laços comunitários e a solidariedade tem sido uma emergência desses tempos. A unidade popular tão sonhada por Salvador Allende era mais do que um sonho chileno, mas um sonho latino-americano também. E custa para que nós brasileiros nos conectemos mais com nossos vizinhos do que com povos que estão a oceanos de distância.

Eu tô bem reflexiva nessa sexta-feira e acho que Allende dá o toque final em tudo isso, nesse desespero diante do tudo ao redor, nesse incômodo com a nossa apatia, nessa nossa dificuldade em resistir. Muita coisa pode ser explicada sobre isso. Mas, não sei se estou com tanta capacidade de síntese, principalmente em um dia como o de hoje. Talvez tenhamos que lembrar dos versos da canção de Inti Illimani ao dizer que precisamos de mais canções de liberdade, de mais disposição para pensar “avante!”, para que a vida que venha seja melhor e para que conquistemos nossa felicidade.

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