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Juliana Borges é escritora, pisciana, antipunitivista, fã de Beyoncé, Miles Davis, Nina Simone e Rolling Stones. Quer ser antropóloga um dia. É autora do livro “Encarceramento em massa”, da Coleção Feminismos Plurais.
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Experiências de imersão no pós-pandemia. Evoé!

Após um período de reclusão infindável, para Juliana Borges, a profundidade será a escolha sempre

Por Juliana Borges
30 jul 2020, 21h12

São Paulo, 30 de julho de 2020

Uma das zapeadas dessa semana, me levou a um programa do Arte1 sobre teatro. Nunca fui muito assídua de teatro. O período em que mais assisti peças foi quando estudava Letras e tinha uma queda por um garoto que estudava na Escola de Arte Dramática, o que me levava a inventar todo o possível para visitar o prédio, além de acompanhar várias montagens que lá aconteciam. Não sei muito o motivo disso. Aliás, sei um pouco, já que minha mãe sempre foi cinéfila e isso foi meio que uma herança cultural e, talvez, genética.

O que estudei de teatro foi ínfimo e sobre o clássico “teatro grego”, jamais esquecerei a trilogia de Ésquilo, a Oresteia. Conhece? Um composto de três tragédias, Agamêmnon, Coéforas e Eumênides, a trilogia é um texto literário inestimável e importante para discutirmos, por exemplo, o conceito de Justiça, compreender jogos e relações de poder. Como considero isso um desfalque tremendo em minha formação, acabei por estacionar naquele programa que apresentava não uma discussão conceitual sobre teatro, mas de uma proposta experimental de teatro: a imersiva.

O teatro imersivo – e, por favor, amigos do teatro, deem um desconto para o meu parco conhecimento e síntese – é uma proposta para colocar o “espectador” em posição ativa dentro da experiência teatral. Assim, a plateia interage, é parte da narrativa, a influencia e alimenta. Uma proposta que se contrapõe a verticalidade, que demarca barreira entre atores e espectadores. No teatro imersivo não somos mais os que observam e testemunham, somos os que vivenciam. A experiência pretende ativar nossas emoções, instigar nossos sentidos, transformar experiência em memória a partir da pulsão dos nossos afetos. Pelo o que entendi do programa, as técnicas exigem ampliação também dos atores, já que esses trabalham um roteiro, mas que está atento ao improviso diante das interações com o público-partícipe. Mas, também há uma influência e mudança no cenário, em como esse será pensado, projetado, construído. A depender do roteiro, várias cenas acontecem simultaneamente, de modo que as experiências são únicas e múltiplas porque dificilmente você verá tudo o que está sendo encenado na instalação. Voltar à peça pode ser como ir a uma nova peça. E é. Eu achei incrível.

E isso me levou a pensar em como vou querer experienciar o mundo no pós- pandemia. Imersão é um mergulho, um inserir-se ou ser inserido em algo, num algo fluído. A imersão também pode propiciar ativar outros estados de consciência, já que o físico se transforma e é estimulado por ações, por reações sensoriais. Esses estímulos podem fazer com que essa nossa consciência se desperte e a experiência seja intensa e real, ative e reative memória, se impregne em nós.

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Muito tem se discutido sobre o depois do amanhã, nessa pandemia. De que aceleramos processos como o home office enquanto realidade que se fixará, de intensificação da educação à distância, de cada vez mais laços afetivos mediados pelas redes sociais, pela tecnologia. Mas quando me perguntam o que eu farei no dia depois do amanhã, mais do que sorrir, eu penso que desejarei imersões.

A falta do calor humano, do abraço, do toque, do sensorial tem sido terrível. E os abraços não serão os mesmos, nem uma ida a um boteco. Será um abraço mais demorado ou um mergulho intenso no outro? Que tipo de experiência eu, você, buscaremos depois disso tudo? A ida a uma balada será como antes? Nosso corpo todo é moldado para vivermos experiências sensoriais. Então, que tipo de experiência esperaremos daqui para frente? Como será cada estímulo musical entrando pelos nossos ouvidos e passando como circuitos em nossos corpos? Eu certamente, buscarei processos mais interativos, mais estimuladores, que me propiciem envolvimento, que esperem de mim reações. Não vou mais aceitar passividade das interações cotidianas! Porque nunca sabemos quanto mais elas irão durar. E eu não quero desperdiçar mais nenhum segundo.

Depois de 3.456.786 dias em casa, eu quero mergulhar em abraços, quero mergulhar em gargalhadas tão altas que até duvidarão que eu sou eu – já que sempre odiei barulhos altos, quaisquer que fossem. Agora, eu sonho com eles, pela voz de cada pessoa pela qual nutro afeto. Desculpe, mas vou querer tudo exacerbadamente, tudo como um perder-se na experiência. Pode ser que dure só alguns meses, mas eu vou vivê-los como se fossem para sempre. E, claro, irei mais ao teatro. Minhas escusas mais sinceras ao brômio Dioniso. Nunca mais negligencio um presente dos deuses. Evoé!

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