Cala-te boca!
Tá chata essa patrulha. Viramos seres beges, sem sangue, anestesiados em uma maneira detergente de ser
Na era de tantas molduras no pensar, me deu uma vontadinha de ser rebelde por alguns minutos. Gorda, vadia, viado, piranha, Bolsominion, horrenda…. Jogue a primeira pedra quem nunca avançou o sinal e errou na colocação de um pensamento?
Foi bruta, arisca, ofensiva e grosseira em vomitar no outro, palavras de baixíssimo escalão? Mas penso também no oposto. Tá chata essa patrulha. Viramos seres beges, sem sangue, anestesiados em uma maneira detergente de ser. Enxaguamos qualquer traço de ira. Bélica ficava sua avó. Agora somos mornos.
Não estou incentivando nenhuma rebelião dos costumes voltando casas atrás em nossa maneira preconceituosa de ver o mundo, mas sou a favor do erro. Sou a favor da verdade nua e crua e, em minha humilde opinião, pedir desculpas e retroceder no jogo da vida não faz você perder a vez.
Vejo amigos que retocam legendas e textos em posts das redes sociais. Baleia, tosca, nojenta, babaca, burra, putchanga, frígida….Vejo palavras escolhidas como morangos silvestres em campos perfeitos. Acho tudo pasteurizado, robotizado, idêntico.
Viramos uma fábrica de dizer améns e aleluias e – se Deus soubesse a nossa natureza inflamada, explosiva e vermelha, daria uma chance à pequenos delitos verbais. Antes que eu me esqueça, à merda todos os cabrestos literários. Hoje quero causar. Me emendo depois, prometo. Posso?
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