A imortalidade das heroínas de Jane Austen
Em tempos angustiantes, reler e relembrar as heroínas de Jane Austen pode ser uma opção de se sentir melhor
Jane Austen nasceu há 245 anos, na Inglaterra. Em sua brilhante carreira como escritora em um período que não era comum mulheres escreverem, ela deixou 6 livros, sendo que dois deles só foram publicados após sua morte.
Muitas pessoas associam sua obras a apenas livros românticos e é verdade que a fórmula de Austen não é de reviravoltas ou heroínas rebeldes. Ao contrário, são mulheres fortes, tímidas e com forte senso de decoro (da época). O que é sensacional da autora é mesmo dentro de uma história de amor, ela faz críticas de comportamento humano pertinentes e atemporais. Austen retratava o cotidiano inglês do interior do país com um texto rico, certeiro, irônico e brilhante. Ela nos presenteou com algumas personagens que viraram referência, como Elizabeth Bennet, Elinor e Marianne Dashwood e Emma Woodhouse, para citar apenas as mais famosas.
Em tempos de angústia e isolamento, reler ou rever os filmes adaptados das obras de Jane Austen pode nos faz sentir bem. Para cada livro da escritora, várias adaptações foram feitas para o cinema ou TV.
Vamos lembrar suas heroínas?
Razão e Sensibilidade
Elinor e Marianne Dashwood são as irmãs unidas que refletem a amizade de Austen com sua irmã, Cassandra. As duas também tem personalidades opostas: Marianne é pura paixão enquanto Elinor é contida e discreta. Ambas sofrem mais pela maneira que amam do que pela falta de dinheiro a que são impostas. Em um ambiente onde a falsidade e segredos podem literalmente partir o coração, elas têm que sobreviver em condições econômicas incertas.
Se a opção é não ler, há o filme. Emma Thompson ganhou um Oscar de Melhor Roteiro Adaptado ao levar para o cinema a única versão do primeiro romance publicado de Jane Austen. Thompson fez um roteiro sucinto, fiel e brilhante e que ainda nos rendeu uma atuação brilhante da (então) adolescente Kate Winslet pré-Titanic. A Marianne Dashwood de Winslet é exatamente como a autora descreve nos livros e é um desafio não simpatizar com ela imediatamente. Entre os fãs de Austen, Marianne tem um lugar que outras personagens não têm. Atenção para o spoiler se não conhece a obra. Para muitos, Marianne é a única personagem que Austen puniu ao não encontrar uma alternativa para sua felicidade que não fosse ser domá-la e mudá-la. Marianne que era moderna ao defender casamento por amor, união sem vergonha de expressão quase morre de decepção e conclui que o casamento com o homem mais velho (mesmo que bacana e apaixonado) Coronel Brandon é a melhor opção. Há quem diga que a conclusão é o único livro da autora com um final infeliz. Se conseguir encontrar o filme em algum streaming ou canal pago, destaco também a brilhante trilha sonora de Patrick Doyle
Orgulho e Preconceito
É o livro mais conhecido e adorado de Jane Austen e sua protagonista, Elizabeth Bennet, é unanimidade. Lizzie é uma personagem divertida, não é perfeita (é super orgulhosa) e já foi defendida nas telas do cinema por Lily James (na versão zumbi), Keira Knightley e Greer Larson. Assim como Elinor e Marianne, ela tem uma relação linda com a irmã, Jane. Em uma trama de pequenas surpresas e muito romance, Lizzie Bennet vive às turras com o arrogante senhor Darcy e é um desafio não torcer por ela ou por ele. O livro não é um dos maiores clássicos da literatura à toa e é uma delícia para reler em tempos de incerteza.
Mansfield Park
Essa obra não é a mais popular de Austen, mas rendeu muitas frases famosas que encontramos por aí como inspiradoras. Fanny Brice é a primogênita de uma família muito pobre que é enviada para viver com a tia rica. Lá, CLARO, passa por situações de saia justa com as primas desmioladas, pessoas sem boas intenções e descobre o amor com o… ugh… primo, Edmund. No livro a amizade e amor dos dois nos faz esquecer a ligação familiar que na época da autora não era nenhum impedimento. Fanny Brice é a heroína contida da autora que não traz nenhum traço de rebeldia, apenas integridade inabalável.
O texto de Mansfield Park é um dos melhores de Austen. Ela consegue tratar seus antagonistas com carinho e sem precisar falar mal deles, nos deixa ver a mesquinhez de suas intenções e almas. O mais curioso desse livro em particular é que Austen trata de infidelidade conjugal abertamente, de relações sexuais fora do casamento e também critica a colonização britânica com sua violência. Tudo isso em meio à uma ‘simples’ história de amor. Há um filme, mas o livro é infinitamente melhor.
Emma
Um dos livros mais populares depois de Orgulho e Preconceito, Emma é também um clássico. Emma Woodhouse não é uma heroína comum de Austen, ao contrário, ela é a personagem que frequentemente aparecia nas suas páginas como a anti heroína. Emma é rica, bonita, arrogante e cega em sua vida de privilégios. Muito inteligente e manipuladora, ela até tem boas intenções mas é também responsável por algumas lágrimas. Não é à toa que Austen dizia que apenas ela gostava de Emma. Bom, Austen e o Sr Knightley, mas isso é para quem conhece a obra…
Emma tem qualidades, claro e seu amadurecimento ao longo do livro é o que faz dela uma personagem muito querida.
No cinema, Gwyneth Paltrow virou uma estrela na versão de 1996, que não é fácil encontrar nem no streaming. Kate Beckinsale também interpretou a mocinha em outra adaptação mais ou menos na mesma época. Mas a versão mais adorada de todas até o momento é As Patricinhas de Beverly Hills, que levou a história para uma Los Angeles dos anos 1990.
Na nova versão feita para o cinema, o papel de Emma é feito por Anya Taylor-Joy e tem um roteiro assinado por Eleanor Catton. Veja o trailer.
Northanger Abbey
Um livro curto onde Austen brinca com os populares livros de sua época que lidavam com mistérios. Catherine Morland tem muita imaginação fã de romances góticos. Não é a personagem mais famosa ou marcante da autora, mas o livro tem seus fãs.
Persuasão
Pessoalmente considero o melhor livro de Jane Austen. Foi publicado logo após sua morte e tem uma personagem mais sofrida, madura e que paga por um erro cometido em sua adolescência. O texto tem menos ironias, mas é reflexivo e maduro. Anne Elliot é uma das heroínas mais lindas da obra de Austen porque ela reúne as qualidades de Elinor e Marianne Dashwood e Elizabeth Bennet combinadas. Sua história com o major Frederick Wentworth é ainda dentro do padrão do universo de Austen, mas com reviravoltas e conclusões distintas. Não há versão para o cinema, mas na Amazon Video Prime tem a versão do filme de 1995 que vale rever, se optar por conhecer a obra fora das páginas. Mas os livros são sempre superiores a qualquer versão.