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Conheça 2 projetos incríveis de automaquiagem para cegas

Foi pensando em elevar a baixa autoestima das mulheres com alguma deficiência visual que a rede de salões Jacques Janine e a Maybelline criaram iniciativas inspiradores. Conheça

Por Redação CLAUDIA
Atualizado em 15 abr 2024, 08h33 - Publicado em 14 out 2016, 20h17
Celina Germer
Celina Germer (/)
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Feche os olhos por um instante e pense: se não pudesse enxergar, deixaria de admirar e cuidar do próprio rosto? Mesmo que seja uma questão pouco recorrente para a maioria de nós, a baixa autoestima é um dos maiores problemas enfrentados, diariamente, pelas mulheres que não possuem cem por cento da visão.

Celina Germer
Celina Germer ()

Foi com o intuito de transformar a percepção daquelas que nutriam descaso ou raiva pelo que “não funciona como deveria”, que a rede de salões Jacques Janine, em parceria com a Laramara (Associação Brasileira de Assistência à Pessoa com Deficiência Visual), ministrou duas edições de um curso de automaquiagem para mulheres cegas e com baixa visão. 

Com duas aulas semanais de duas horas cada, a participação de 21 meninas até agora é só o começo de um longo caminho a ser trilhado. Para o próximo curso, totalmente gratuito, estão previstas, pelo menos, 40 interessadas na lista de espera. A faixa etária, bem variada, compreende participantes de 20 a 60 anos. Cada uma das cinco profissionais acompanha, de perto, os pares de mulheres que aprendem tanto a passar um delineador, quanto a descobrir como encontrar o melhor tom de base para a pele. 

Celina Germer
Celina Germer ()

Maquiadora e consultora de imagem da franquia, Chloé Gaya, explica que o maior propósito da oficina é também reafirmar a confiança de que o que elas estão fazendo é bonito e está correto, mesmo que não possam ver: “Atendemos uma aluna que havia perdido a visão de uma forma muito traumática e por isso rejeitava a região dos olhos, de uma maneira que nem sequer gostava de tocá-los. Ela nos disse que venceu esta barreira e voltou a ter essa interação. Afinal, não é porque aquela parte do nosso corpo não cumpre sua devida função que não podemos embelezá-los.”

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Celina Germer
Celina Germer ()

Outro exemplo de superação que também marcou Gaya foi o de uma moça que não tirava seus grandes óculos do rosto por ter ‘vergonha’ de mostrar para os outros sua deficiência. Aos poucos, ela foi deixando de lado o acessório e desmistificando o tabu que era esconder-se atrás daquilo: “É muito gratificante acompanhar este processo desde o início, porque cada uma tem uma história de vida diferente, e diversas habilidades com a maquiagem. São todas de uma sensibilidade e capacidade incalculável, tanto é que eu penso sempre – nós aprendemos muito mais com elas do que elas com a gente.”

A grande surpresa da segunda edição do evento ficou por conta da presença da ex-aluna Ana Claudia Domingues, que desempenhou o papel de tutora durante as aulas. Ana perdeu a visão após ter sido diagnosticada com retinose pigmentar: “Nunca achei que poderia usar maquiagem no meu dia a dia ou se conseguiria maquiar meus olhos, porque é a região mais sensível do meu rosto. O curso me trouxe uma nova perspectiva de vida. Também fiquei surpresa com o convite, por isso, pretendo mostrar às alunas que é possível usar sombra, base e batom, para que elas possam valorizar sua beleza, assim como aprendi com a minha.”

“Vermelho é quente. Para mim, café é vermelho”

“Eu amo muito fazer maquiagem em frente ao espelho. Se eu estou bem internamente, vou para frente do espelho e me vejo maravilhosa”, conta Nathália Santos, de 24 anos – cega desde a adolescência por conta de uma condição rara chamada retinose pigmentar apigmentada. Comunicadora e dona do canal ‘Como Assim Cega?’ no YouTube, Nathália nunca enxergou cores, distinguia tons de cinza, branco e preto. Depois que perdeu completamente a visão, decidiu que queria continuar se vestindo como gostava: cheia de cores e estampas. Passou a usar maquiagem nesse período, contando com os pitacos da mãe.
 
Nathália descobriu sua condição aos 12 anos. Antes, acreditavam que ela possuía miopia. Estudava em livros ampliados e com recursos criativos. Leu mais de 200 livros entre os 12 e os 15 anos, quando a visão fraquejava cada vez mais. “Aprendi braile em uma semana, porque não estava mais conseguindo ler”, conta. Para identificar as cores, associa a sentidos e emoções: “Vermelho é quente. Para mim, café é vermelho”.

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Leia mais: Páginas da vida: “Nunca deixei os desafios impostos pela deficiência limitarem meus voos”​.
 
Na hora de combinar as roupas ou definir a maquiagem, leva essa memória sensorial em conta – além de alguns truques, como marcação das embalagens e das etiquetas para não errar. “Eu não sei como são as cores, mas o que elas despertam em mim. Ao me arrumar, escolho o que quero passar com elas”.

Reprodução/Instagram
Reprodução/Instagram ()

Para se maquiar, a jovem acompanha os contornos do rosto, usando as mãos para espalhar os produtos. A base é espalhada por toda a pele com facilidade; depois de aplicar o batom, usa um cotonete com demaquilante ao redor dos lábios para garantir que não deixou nada fora do lugar; para aplicar rímel, leva os cílios ao produto, e não o contrário. Ela garante que não é difícil: “Nós conhecemos o nosso próprio rosto, é só saber onde cada coisa deve estar”.
 
Para ajudar mulheres cegas que queiram aprender a se maquiar sozinhas, a marca de cosméticos Maybelline criou a plataforma Audio Makeup, que ensina o passo a passo de beleza em audiodescrição. Desenvolvido pela maquiadora Juliana Rakoza, uma das inspiradoras do projeto foi a própria Nathália: “É um ótimo primeiro passo. Não é porque somos cegas que não podemos ser vaidosas”.

Matéria escrita por Débora Stevaux e Letícia Paiva. 

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