Amor de praia pode subir a serra?
Não há regras para os relacionamentos, mas é importante saber lidar com expectativas e frustrações
Em 2014, a nutricionista Renata Alopertt começou uma tradição de janeiro: ela e as duas amigas com quem divide apartamento no interior paulista tiram férias e passam o mês todo no Guarujá, no litoral de SP. Os três primeiros anos foram de total curtição e muitos romancezinhos sem consequências, mas em 2017 a coisa mudou de figura. Renata conheceu Renato (“Além de tudo, nossos nomes são iguais”) logo depois do Réveillon e eles engataram um namoro que dura até hoje. Um típico caso de amor de praia que subiu a serra.
“Foi bem intenso. A gente se conheceu em uma festa e na primeira conversa me deu um ‘click’. Ele diz que sentiu o mesmo. Agora, nossa vida é ir um para a cidade de outro em fins de semana alternados, já que ele mora em São Paulo [capital]”, conta. Neste mês de janeiro, eles estão juntos no Guarujá, na mesma praia em que se conheceram. As amigas de Renata foram junto. “Nosso trio virou quarteto.”
O tal click nunca rolou para Bárbara Lopes, de Blumenau, que sempre passa as férias de janeiro no litoral catarinense. “Fico com caras e garotas muito legais, tudo certo ali na hora, mas nas vezes em que eu quis que o relacionamento fosse adiante, a outra pessoa não estava na mesma vibe. Em outros casos, teve gente que sugeriu tentarmos namorar, mas aí eu é que não queria”, diz. “Na verdade, meio que não acredito que amor de verão suba a serra, viu?”
Não existem regras para os relacionamentos
As histórias de Renata e de Bárbara se repetem com outras pessoas Brasil afora ano após ano. Por isso, sempre haverá quem defenda que amor de praia suba a serra, sim, enquanto outra turma torcerá o nariz e achará que não é bem assim.
“Não tem regra. Nos encontros, sempre há a possibilidade de conhecermos ‘A’ pessoa certa no momento certo. Pode ser que isso seja na praia, nada impede”, afirma a psicóloga Gabriela Malzyner. A coach de relacionamentos Lúcia Berta pensa da mesma maneira: “O ambiente em que as pessoas estão não faz diferença quando a sintonia é verdadeira. Essa mesma dúvida pode ser colocada quanto a conhecer a pessoa certa na balada. Muita gente diz que da balada não sai nada sério, mas são muitos os casais que se conheceram assim e estão bem felizes.”
Por outro lado, se não acontecer, tudo bem também. “Ficar com alguém nos dias de veraneio pode ser um passatempo prazeroso e divertido. E só isso”, observa Gabriela. Para conseguir aproveitar bem, o que importa é ter em mente que não vale a pena sofrer.
Expectativa x realidade – e fuja da frustração
Lúcia lembra que “a expectativa que se deposita em alguém é responsabilidade de quem a cria, não da outra pessoa”. E este, segundo a coach, é o grande drama de muita gente quando os rolos de verão não vão adiante: ter ficado envolvida e ponto de fazer planos na própria cabeça e se dar conta de que eles não se concretizarão, seja por causa da distância que surgirá, seja por pura falta de vontade do outro.
“O melhor é curtir os bons momentos e deixar a coisa fluir. Não desperdiçar um tempo de prazer com preocupações sobre o futuro. Isso elimina pelo menos metade dos riscos de frustração”, recomenda.
“Relações são investimentos”, esclarece Gabriela. “Assim como investimos energia e esforço nas nossas carreiras, por exemplo, e nem sempre temos os resultados que esperamos, isso pode acontecer em um relacionamento. A frustração depende do que foi depositado na outra pessoa. É preciso entender que virão outras e, deste relacionamento de verão, tirar as coisas boas para reinvestir em casos que poderão ser frutíferos ou não”, continua.
Mas vale insistir se eu estiver MUITO a fim desse amor de verão?
Veja bem, há insistências e insistências. “Um pouco de insistência pode ser interessante, para se certificar se existe espaço para aquele romance na rotina”, pondera Gabriela. A psicóloga considera que, muitas vezes, não é que a outra pessoa não queira, mas apenas que ela precise encontrar esse “estar junto” no meio de seus afazeres. Uma ajudinha nesse sentido não faz mal.
Para Lúcia, existem duas abordagens válidas: se você for do tipo direta, pode perguntar abertamente se o cara ou a garota está a fim de algo mais quando acabarem as férias. O máximo que ouvirá será um não. E, se a resposta for um sim, vocês podem combinar juntos qual será a dinâmica. Bem simples.
Mas, se você for mais tímida, pode trocar mensagens quando já estiverem todos de volta às suas rotinas, sugerir um encontro e ver como é a recepção do outro lado. Se rolar, maravilha. Caso não role, saiba a hora de parar, principalmente para se preservar emocionalmente. “Se tentou uma, duas, três vezes e não deu certo nunca, é melhor deixar pra lá. Não precisa sofrer e se desdobrar se do lado de lá não vem nenhum esforço. Vida que segue”, finaliza Lúcia.