Resignificando a vida sexual após o fim do casamento
"Toda essa sensação de tristeza, luto e fracasso uma hora vai passar, eu tenho certeza"
Quatro atos
“Lembra daquela cena da série Broad City em que a Ilana não consegue mais gozar e ela descobre que é por causa do Trump?”, Cíntia perguntou subitamente na hora do almoço. Quase engasguei com vontade de rir, mas consegui dizer que lembrava. “Acho que isso aconteceu comigo. Desde as eleições, o meu tesão parecia que tinha sumido”, ela continuou. “Mas então já passou?”, perguntei curiosa.
Cíntia enrubesceu e mastigou um pedaço de frango por um tempo. Então se aproximou da mesa para sussurrar: “Lembra como ela recuperou o tesão?”. “Não. Na terapia?”, arrisquei. Ela sacudiu a cabeça: “Você viu a foto do Haddad bronzeado?”.
Finalmente livre. Toda essa sensação de tristeza, luto e fracasso uma hora vai passar, eu tenho certeza. Não é possível que eu passe o resto da vida para me recuperar dessa separação. Eu precisava disso, de liberdade. Tudo bem que, agora, nesta balada, ela não parece fazer muito sentido, nem sei o que tô fazendo aqui, mas uma hora vou sentir vontade de dar pra todo mundo, de gozar, ejacular, voltar a ser quem eu era antes de sete anos de casamento e esse regime de uma trepada anual.
Uma hora vou querer dar até pra essa garota aqui do lado, que treme só de me olhar. Como ser jovem é lindo! Essa pele, esse corpo, esses olhos, que bonitinho ela nervosa, né? E o beijo é bom, a boca é macia, beijo é algo que a gente não perde a vontade, já sexo… hoje não. Hoje eu só sarro nela que já fica molhada só de encostar, mas transar mesmo, só outra noite. Porque já tô cansada e ela quer me acompanhar até em casa por segurança. Então a gente transa hoje mesmo.
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Ele broxou no primeiro, mas disse que ia compensar no segundo. E eu nem acreditei porque, mesmo sem penetração, tinha sacado que ele transava com carinho, abraçadinho, olhando no olho. Era do tipo que gostava de fazer massagem e perguntava três vezes se podia me chupar. Isso era ótimo, de verdade. Mas eu tava havia meses sem transar.
Pior, havia meses sem lubrificar, sem desejar nada. Não queria transar fofo, precisava de alguém que me enlouquecesse, mas, ainda assim, aceitei o convite. Quando toquei a campainha, a casa cheirava a pizza. “Fiz pizza pra gente”, disse mostrando a massa artesanal no forno. “Como assim?”, perguntei sem entender. “Ah, deixei a massa fermentando hoje cedo porque achei que você ia gostar de uma comidinha caseira”, ele falou com doçura. “Quanto tempo pra ficar pronta?”, perguntei maliciosa. “Quinze minutos. Vamos pro quarto?”
“Sabia que cê é uma das pessoas mais criativas dessa empresa?”, um carinha bêbado soltou na happy hour da firma e me peguei realmente curiosa e lisonjeada. “Como assim? Por que cê tá falando isso?”, perguntei. “Ah…”, ele hesitou um pouco. “Olha, na verdade, acho que nunca conheci o teu trabalho, mas o Ariel sempre te elogia”, disse se referindo a um rapaz em quem eu mal reparara.
Procurei Ariel com o olhar. Tinha achado simpático da parte dele, mas zero interesse sexual. Até porque Ariel nem fazia meu tipo. Ele devia ser bem mais jovem, uns cinco anos pelo menos, e pessoas mais jovens não me interessavam. Nem Ariel. Sem falar que não era bonito. Quer dizer, não era do tipo que eu acharia bonito. Tirando o peitoral. “O peitoral é unanimidade entre as mulheres”, pensava. “De qualquer forma, realmente não é bonito”, refletia com meu copo de cerveja.
Só tinha um charme, um jeito tímido, um sorriso largo, charmoso, sabe? Merda, eu queria pegar Ariel. Beijar ele escondido no banheiro, ir beijando ele até o estacionamento, masturbar ele no carro, deixar ele chupar meus peitos, queria ir pra casa com ele, trepar até as pernas tremerem…
As próximas reuniões desse projeto vão ser um inferno.
*Seane Melo é jornalista e autora de Digo Te Amo para Todos Que Me Fodem Bem (Quintal Edições)
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