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Leitora de CLAUDIA fala sobre o preconceito racial que sofre

Roberta Tavares conta como até mesmo em um ambiente estudantis, como as universidades, o racismo ainda impera

Por Isabella Marinelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2017, 09h00 - Publicado em 31 out 2017, 09h00

Seja quem for a mulher que cada uma escolher ser, CLAUDIA está pronta para dividir esse caminho com elas. A gente quer estar com você, leitora, nesta trilha pela igualdade de direitos e oportunidades. Nenhuma de nós está mais sozinha. E, juntas, somos muito mais fortes e chegaremos muito mais longe.

Nós somos as mulheres que não mais esperam pela bênção da sociedade para reivindicar o que é nosso. E nós sabemos que, não importa qual seja nosso desejo, não importa qual seja nossa escolha, nós temos direito.

Inspire-se na história de Roberta Tavares, historiadora, 33 anos, de Belém.

#EuTenhoDireito de não sofrer preconceito racial

Nasci em uma comunidade quilombola no interior do Pará. Só me mudei para Belém depois dos 20 anos, quando perdi minha avó e quis fugir do sofrimento, viver algo diferente. Cursei história e hoje faço mestrado. Mesmo depois de tantos anos, a sensação de não pertencimento continua e às vezes fica aflorada, dependendo do que encaro no dia a dia. Em geral, ser mulher no Brasil, viajar sozinha, sentar à mesa de um bar sem homens é difícil. Mas em Belém o assédio é assustador. Eu tenho um agravante, sou negra.

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O olhar preconceituoso da sociedade faz com que eu tenha de viver situações constrangedoras. Muitas vezes, atravessando a rua, ouço alguém gritando de dentro de um carro que tenho a cabeça cheia de piolhos ou que deveria pentear os fios. Quando estou forte, respondo, reajo. Mas há dias em que desabo. E depois me sinto ainda mais culpada por não ter feito nada. Isso é monstruoso. Após o episódio, você ainda se violenta cobrando uma reposta, uma reação menos doída e mais ativa.

Faz diferença eu ter estudado e conhecer nosso contexto histórico e social. Tenho orgulho de ser negra, carregar minhas características. Mas o racismo faz com que os jovens não entendam que o problema é o preconceito, não o cabelo ou a pele deles. Eles não compreendem por que são deixados de lado. O negro não consegue precisar quando sofreu preconceito pela primeira vez, porque ele é instituído, acontece desde a escola, quando nenhum colega quer ser seu par na quadrilha de festa junina. Alisar o cabelo é uma maneira não só de buscar o que é considerado bonito pela sociedade mas também um meio inconsciente de se proteger do racismo. Meu cabelo crespo ficou preso por muitos anos, apesar de eu nunca ter feito alisamento. Hoje ele é livre e eu fiquei mais exposta.

Na academia, o preconceito é sutil, velado. Sou negra, de comunidade quilombola e, normalmente, vista como objeto de pesquisa. Ao me tornar pesquisadora e produzir conhecimento, me posiciono politicamente, quebro um paradigma. Estudo escravidão e coloco os negros como protagonistas da história, falo de uma perspectiva diferente. Isso também é um enfrentamento.

Eu não cedo, continuo me colocando porque sei que podemos mudar a sociedade. Começando pelo imaginário social de Belém. Aqui, acredita-se que as meninas do interior, indígenas ou negras, quando chegam à cidade devem assumir trabalho de serviçais. Elas exercem atividades análogas à escravidão e ficam disponíveis para o patrão até sexualmente. Mas não fomos criadas para isso. Queremos estudar, fazer arte, ser relevantes. As pessoas que nos ouvem se cansam, acham que enxergamos racismo em tudo. A frequência dos episódios lhes parece absurda. Mas não é. O racismo está presente desde quando alguém nos expõe na rua até quando um professor na universidade faz um comentário enviesado e só você entende a ofensa.”

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