O plantão de Dia das Mães das maiores cuidadoras de doentes com Covid-19
Para as enfermeiras e técnicas de enfermagem, este domingo representará mais um dia de luta no combate à pandemia, sob o medo de infectar mães e filhos
Entre números que sobem, medidas emergenciais em meio à crise causada pelo novo coronavírus, várias pessoas estão tendo que ressignificar a dor do luto, lidar com a saudade de enquetes queridos e, principalmente, enfrentar o medo.
Para as profissionais da saúde na linha de frente, este domingo de Dia das Mães pode ser mais um dia ou noite de plantão – agora, são intensificados os desejos pela melhora dos pacientes e pela preservação de suas próprias vidas e de sua família.
Técnica de enfermagem em uma UTI de um hospital público do Rio de Janeiro, Alyne Lobo está de plantão nesta data e tem dois filhos: uma jovem de 26 e um menino de 17. Evidentemente, segue preocupada com eles. “Minha filha estava morando na casa de uma prima, porque era próxima ao trabalho dela. Com a pandemia, ela precisou fazer home office e decidiu voltar pra casa, por não saber quando nos veria novamente”, conta Alyne, que percebe a preocupação que os filhos têm tido com ela.
O medo de Alyne é intensificado porque ela é funcionária terceirizada, logo, não recebe todos os benefícios trabalhistas estendidos aos funcionários diretos. “Para completar a renda, faço plantões extras em escalas contra a Covid-19”, explica. Acumular plantões é uma das muitas realidades de técnicas, enfermeiras, médicas e faxineiras de hospitais em meio a pandemia. Entretanto, trabalhar neste domingo terá um significado especial.
Na linha de frente, quem atende mais diretamente os pacientes internados por Covid-19 são os enfermeiras e técnicos de enfermagem, que administram medicamentos, dão banho e estão quase a todo instante próximas aos leitos. É inegável que esses profissionais – a maioria, mulheres – são os principais cuidadores de quem está longe dos cuidados familiares de suas mães ou filhos.
A enfermeira Graciela Martins Pinto atua em um pronto atendimento municipal em Itu (SP); ela descreveu sua rotina e como espera que seja este domingo.
“Podemos comemorar todos os outros dias”
“Minha rotina mudou totalmente. Além dos uniformes e jalecos habituais, temos que usar gorros, máscaras, jalecos impermeáveis, óculos protetor. Não dá para comer nem beber água com frequência usando os equipamentos; até ir ao banheiro é mais difícil.
“Em casa só nos unimos depois que eu tomo banho e coloco roupas limpas. Trabalho em plantões de 12 horas, com um dia de descanso entre eles; o tempo de trabalho não aumentou, mas o nível de tensão está duplicado. Além de chegarem pacientes graves precisando de cuidados intensivos, podem chegar casos assintomáticos correndo o risco de transmitir o vírus para nós e outros pacientes.
“Não me isolei da minha filha adolescente, mas ainda tenho muito medo de contaminá-la, por isso acabei me afastando um pouco. Tento manter uma certa distância para diminuir o risco de contaminação. Minha também mãe mora comigo, faz parte do grupo de risco, então sigo tomando todos os cuidados.
“Meu segundo maior medo, é de contrair o novo coronavírus, partir e deixar a minha filha. Sempre falo do meu trabalho para ela, que quando saio de casa é para cuidar das pessoas que as famílias não conseguem. Por crescer ouvindo isso, ela está acostumada, além admirar o que faço.
“Neste domingo, quero dizer, para minha equipe e para todas as mães que, como eu, saíram de casa cedo, deixando nosso pedacinho de gente dormindo, que todos os dias Deus nos dê forças para lutar, nos mantenho firmes na linha de frente.
“Para minha filha e a minha mãe, gostaria de dizer que, mesmo com o coração apertado e medo de tudo o que está acontecendo, preciso deixá-las seguras em casa e atender outras pessoas que precisam de mim. Vamos poder comemorar essa data outro dia, ou todos os outros dias”, diz a enfermeira Graciela.