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Pais-reféns compram canetinhas e mochilas milionárias. Pagam caro por não saber dizer “NÃO”

Na volta às aulas, a família perde a oportunidade de ensinar aos filhos o respeito ao dinheiro e à vontade dos mais velhos

Por Patrícia Zaidan Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 28 out 2016, 07h32 - Publicado em 29 jan 2016, 12h49
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“Quando saírem para comprar o material escolar, não levem os seus filhos.” Esse conselho foi repetido em várias reportagens de TV e rádio sobre a volta às aulas. O texto subliminar: “Deixe a ferinha em casa para ela não dar pite e te fazer arrematar a loja inteira”. Quem pautou a imprensa foi o Procon, ao verificar que a conta fica 30% mais cara quando as crianças vão às prateleiras. “Eles pedem tudo o que veem”, diz uma repórter que ouvi no rádio do carro. “Como negar, vendo aquela carinha linda?”, pergunta uma âncora da Globo. Então, fica estabelecido o pacto: os pimpolhos cobiçam tudo e os adultos não negam nada, controlados pela carinha fofa do pequeno manipulador. Faz parte da filosofia de criar os rebentos sem incômodos. As justificativas sobram: os pais estão tensos com a crise, ocupados demais e – verdade, verdadeira – têm dificuldades de pronunciar o NÃO, com medo de tudo que essa palavra pode causar. De frustração à dor. Famílias inseguras temem perder o amor dos filhos, quando impõem a eles algum tipo de interdição. “Já que todo mundo da escola tem”, elas compram canetas e mochilas milionárias, um material hypado, com super-heróis, avatares, princesas e o jedi da hora.

Cá entre nós, é muiiiiiito trabalhoso fazer oposição às crianças. Elas dão birra, esperneiam, fazem os adultos passarem vergonha. Eu me lembro de ter tentado convencer meu filho, Moreno, de que não daria algo que ele insistia, aos berros, em levar do supermercado. Não sei mais que bugiganga era; ele tinha 2 anos, eu completava 23. Falei, expliquei, disse que mamãe não podia, fiz sinais para ele perceber que os passantes estavam vendo aquela coisa feia, fechei a cara, tranquei os dentes e, finalmente, rosnei: “NÃO”. Abusado, o molequinho se jogou no chão, aumentou a dose do berreiro, bateu os pés, as mãos. Não tive dúvidas, eu me joguei também. Me estirei no piso frio do mercado, tentando repetir seu gesto. Nunca perguntei se a cena o traumatizara, mas foi meu jeito juvenil de reagir àquilo. Se ele decidiu me constranger, que se sentisse igualmente constrangido.

A gente faz bobagens quando chega ao limite, toma a estrada do exagero. Mas ali, parecia ser a única forma de não virar refém. Os quereres crescem, ganham requinte, custam cada vez mais. A carinha fofa segue mandando nos pais pela adolescência afora; planeja um mundo do seu jeito. Na marra, compra sexo, amigos, até professores. Ou acredita que vai conseguir peitar e obter seus prazeres, sempre. Se não é atendido, burla a lei, corrompe, dirige bêbado, estupra, põe fogo em índio.

Melhor não deixar a fera em casa e conduzi-la à loja, nesta volta às aulas. O tempo está bom para exercitar o NÃO. Para contar que há maus brasileiros no comércio se aproveitando e pondo os preços nas alturas. Muitos deles, aliás, já foram multados por esse crime contra a economia popular. Conte isso ao seu pimpolho. Transmita noções básicas de cidadania, respeito ao esforço da família, ao dinheiro e aos colegas que não podem ter um material escolar bombado. Não será necessário se jogar no chão para dar essa lição simples, mas imprescindível.

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