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Os desafios das escolas nos tempos da web

Tornar a aula interessante para quem já nasceu com acesso à internet na palma da mão é o atual desafio. Aos poucos, escolas encontram saídas para misturar - dentro e fora da classe - técnicas tradicionais às novidades trazidas pela tecnologia

Por Simone Costa (colaboradora)
Atualizado em 22 out 2016, 19h42 - Publicado em 12 nov 2015, 10h57

O velho quadro-negro já não é suficiente para prender a atenção dos alunos durante as aulas. Essa é a grande questão das escolas que têm, em suas classes, os nativos digitais, aqueles que nasceram com a internet ao alcance das mãos. E isso não é pouco. Dados do levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2013 mostraram que 49,9% da população entre 10 e 14 anos tem celular. Dos 15 aos 17 anos, o índice sobe para 76,7%. Um avanço considerável em relação a 2005, quando só 19,2% do primeiro grupo e 35% do segundo tinham o aparelho – que, então, oferecia muito menos funções. “O professor que fica apenas na aula discursiva está fadado ao fracasso: ele precisa se conectar com o dia a dia do jovem, e a tecnologia faz parte disso”, diz Renata Gazzinelli, diretora pedagógica do Instituto Educacional Manoel Pinheiro, em Belo Horizonte. Mas não dá para ceder por completo ao estilo dessa geração. Acostumada à rapidez da vida online, ela nem sempre consegue manter o foco em uma só tarefa. “A dificuldade de concentração é o que exige mais cuidado”, diz Cezar Tridapalli, coordenador de Midiaeducação do Colégio Medianeira, em Curitiba.

Online e offline

Manter a conexão dos alunos com os assuntos propostos na grade curricular tem exigido das escolas uma dose de criatividade. No Colégio e Escola Técnica Oswaldo Cruz, em São Paulo, os jovens podem usar dispositivos móveis durante as aulas e o material didático é digitalizado. Os professores também conseguem acessar a web para explorar mapas e aplicativos, como o que permite ver detalhes do corpo humano. Mas a escola não adota a internet como única ferramenta na conquista daatenção em classe. Para garantir o aprendizado, educadores precisam ficar atentos para que o uso da tecnologia não se transforme em algo automático, a que se recorre sempre que a necessidade é despertar a curiosidade. “O professor precisa pensar em estratégias, como ocupar outros espaços da escola e recorrer às rodas de conversa para instigar o aluno de forma que ele não perca o interesse rapidamente”, diz Carlos Querido, diretor do Oswaldo Cruz. No Colégio Santa Maria, em São Paulo, o tablet é usado em todas as séries, mas os alunos também são estimulados a vivenciar experiências reais. A escola alia práticas conhecidas, como o estudo do meio, em que os alunos visitam lugares para colher informações e impressões, às novas tecnologias. “Neste momento, há turmas trabalhando em um aplicativo sobre a imigração em São Paulo”, conta Maria Cristina Forti, orientadora pedagógica do 8º ano do Santa Maria. Esse é um exemplo de como os recursos tecnológicos podem renovar métodos de ensino que existem hátempos. A pesquisa online, entretanto, não substituiu o estímulo para que os estudantes visitem bibliotecas. No Colégio Equipe, em Recife, os professores levam os pequenos até as estantes e orientam sobre como utilizar o acervo de livros e revistas para os trabalhos. Assim, eles se acostumam desde cedo à ideia de que o material físico e o virtual se complementam. “Muitos livros e periódicos são fontes importantes. É essencial que os alunos saibam encontrar essas referências bibliográficas e usá-las para o aprendizado”, afirma Sâmea Franceschini, coordenadora dos anos finais do ensino fundamental do Equipe.

Sem copiar e colar

Com a chegada da internet, pais e professores passaram a se preocupar com a possibilidade de que os alunos copiem os textos online para fazer os trabalhos escolares. “A forma como o professor introduz o tema ajuda a evitar esse problema”, diz Marcia Padilha, coordenadora da pós-graduação em educação inovadora do Instituto Singularidades, em São Paulo. “Se ele fizer uma solicitação genérica, como escrever sobre a abolição daescravatura, o risco de o aluno apenas amontoar frases copiadas dainternet ou mesmo de livros é maior”, avalia ela. A saída seria envolver o jovem no processo de pesquisa de outra maneira. Por exemplo, sugerindo que ele entreviste pessoas próximas sobre o impacto dessa fase da história na realidade do país. “Eles podem copiar frases e citar as fontes, mas pedimos também que deem um parecer pessoal sobre o assunto dapesquisa”, conta Maria Cristina, do Santa Maria. Assim, o trabalho ganha um aspecto autoral, onde nem cabe a cópia pura e simples.

Em grupo

Os trabalhos em equipe, velhos conhecidos de qualquer estudante, também não acabaram em tempos digitais, já que agregam benefícios importantes para o aprendizado. Quando o professor sugere que as crianças ou adolescentes se juntem para chegar a um consenso, ele está estimulando aspectos como a interação com desenvoltura, o desenvolvimento da tolerância e do respeito às opiniões. Alguns especialistas acreditam até que a internet tornou as tarefas em conjunto mais ricas. “Se antes os alunos se reuniam na casa de quem tinha uma enciclopédia, hoje cada um adianta sua parte sozinho e, quando se juntam, é para refinar as informações”, diz Carlos Querido. No Oswaldo Cruz, a partir do 6º ano os alunos apresentam um trabalho anual em grupo. O formato é livre; pode ser uma monografia, um blog ou um audiovisual. Os critérios de construção coletiva continuam valendo, mas agora os formatos permitem maior criatividade.

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Feito à mão

Recentemente a Finlândia, referência mundial em educação, anunciou que, a partir do segundo semestre de 2016, o ensino da escrita cursiva e as aulas de caligrafia serão optativas. Escrever com letra de fôrma vai continuar sendo ensinado – e a ideia é que os alunos comecem a digitar mais cedo. No Brasil, no entanto, provas fundamentais, como a redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), são redigidas à mão. “A escrita tem função importante no desenvolvimento cognitivo”, defende Renata Gazzinelli. Uma pesquisa de 2012 da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, examinou o cérebro de crianças não alfabetizadas enquanto reproduziam letras à mão e no computador. Durante a escrita manual, as áreas ativadas são parecidas com as de adultos alfabetizados, sugerindo que isso facilita o aprendizado. “A escrita também tem função social. Desenhar as letras faz parte da formação da identidade”, explica Maria Cristina. Quanto às abreviações, comuns em conversas pelo celular, educadores lembram que os estudantes são orientados sobre o uso dessa linguagem, que nasceu com a internet. “É como na língua falada: o importante é a pessoa se comunicar. Mas o aluno não deve usar abreviações em um trabalho ou prova”, diz Cezar Tridapalli, do Colégio Medianeira. Como praticamente todas as outras novidades que vieram com a tecnologia, essa é uma maneira de atualizar o jeito de aprender, mas também tem hora certa para ser utilizada. Em 2014, o celular se tornou o principal meio de acesso à informação para crianças e adolescentes

Fonte: Pesquisa Tic Kids Online, do Comitê Gestor da Internet no Brasil

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