Os bebês também precisam de amigos
Pesquisas recentes mostram que o bebê é capaz de construir laços de amizade desde muito cedo. E que o convívio com outras crianças enche a vida dele de novas percepções de si mesmo e do mundo ao redor
No contato com outra crianças, o bebê fica mais consciente de quem ele é, do que gosta e do que não gosta”, Beatriz Ferraz, psicóloga
Foto: Dreamstime
Você acha que seu filho de um ano precisa de amigos? Você não está louca nem ansiosa demais. A professora Luanna de Macedo Chiarelli, de São Paulo, trabalhou com crianças de 1 a 4 anos e percebeu na prática os benefícios que a amizade entre os bebês apontam. “Os pequenos interagem o tempo todo e, mesmo sem brincar juntos, imitam o comportamento dos colegas. Se um levanta e abaixa, o outro faz igual. Quando um bate uma peça de encaixe em outra, o gesto é repetido pelo aluno que está vendo a cena”, conta Luanna.
O prazer desse convívio, porém, vai além da aprendizagem. A psicóloga Beatriz Ferraz, assistente de direção pedagógica, confirma que os pequenos compartilham formas de explorar o mundo. “No contato com outras crianças, o bebê fica mais consciente de quem ele é, do que gosta e do que não gosta, das suas diferenças em relação aos adultos. Ele amplia a compreensão das situações”, explica a especialista.
O surgimento da amizade
Por volta do segundo ano, o relacionamento sai da esfera da simples empatia para entrar no campo seletivo das primeiras amizades. Segundo a professora Renata Lefevre, é nessa idade que as duplas e os trios começam a aparecer. “É lindo. Você nota que, ao chegar à classe, o aluno vai direto procurar pelo amigo com quem tem proximidade”, conta a educadora.
Em muitos casos, esse afeto se manifesta até no cuidado com o colega. “Tem criança que, quando escuta um amigo chorar, sai da brincadeira e vai atrás do outro para ver o que aconteceu. Elas se dispõem até a ajudar, segurando o algodão para fazer um curativo, ou ficam de lado, observando e fazendo companhia”, diz Renata.
Segundo ela, antes dessa idade, os bebês tendem a se preocupar mais com a brincadeira em si. “Eles se agrupam de acordo com o que o outro está fazendo. Se ‘eu’ gosto do tanque de areia, brinco mais com aqueles que também gostam”, explica. Com o tempo, novos valores passam a guiar essas relações. Até que chega uma hora em que não importa tanto o que está sendo feito, mas com quem. E eles se unem em grupinhos.
Além dos muros da escola
Algumas rotinas propostas pela escolinha facilitam a descoberta de si e do outro. Um exemplo são as atividades em roda, quando os pequenos são questionados sobre quem está presente ou ausente, quem tem cabelo curto ou longo… E esse é um caminho para a construção das primeiras amizades. “Aos poucos, quando a criança quer trazer um brinquedo de casa para compartilhar com o amigo, por exemplo, você percebe que essas relações romperam os muros da escola e podem se estender por anos”, constata a professora Luanna.
As primeiras amizades não precisam se dar dentro de um berçário. Tecnicamente, até os 4 anos, a convivência com primos e filhos de amigos da família ou de vizinhos é suficiente para estimular a sociabilidade. “Mesmo contatos mais casuais, como os que acontecem em clubes, atividades recreativas e parquinhos, favorecem as descobertas do bebê”, diz Beatriz.
No contato com outras crianças, o bebê fica mais consciente de quem ele é, do que gosta e do que não gosta, das suas diferenças em relação aos adultos. Ele amplia a compreensão das situações