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O Sarahah faz sentido se você não quer que se metam na sua vida?

Por que tantas pessoas estão se jogando no app que possibilita o recebimento de mensagens anônimas? Fomos tentar descobrir.

Por Júlia Warken
Atualizado em 20 jan 2020, 09h23 - Publicado em 2 ago 2017, 20h05

O Sarahah é o mais novo app do momento e provavelmente você já ouviu falar dele a essa altura. Trata-se de um aplicativo onde você pode mandar mensagens anônimas a qualquer pessoa que esteja cadastrada por lá. Basta que você saiba email com domínio .sarahah que a pessoa em questão está usando.

Com isso, quem resolve se aventurar nessa brincadeira, divulga o seu email de usuário através de redes sociais como Facebook, Twitter e Instagram. Depois, é só esperar que as mensagens comecem a surgir.

Ah, e tem outro detalhe importante: o app não possibilita que o usuário responda as mensagens. Você só recebe e guarda aquilo para si ou corre para as redes sociais para dizer “gente, aqui no Sarahah alguém me perguntou como eu faço para pintar o cabelo e vim responder”.

Muita gente acredita que tudo isso é bem desnecessário e enfadonho, mas uma coisa é fato: atualmente, o Sarahah é o aplicativo gratuito mais baixado da App Store no Brasil e nos EUA. E a questão que fica é: faz sentido usar esse tipo de serviço, mesmo que a gente esteja constantemente dizendo que cada um deveria cuidar da sua vida? E, nesse cenário, o que torna a proposta do Sarahah algo tão sedutor para milhares de pessoas?

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A psicóloga Janaína Leão acredita que o sucesso está sendo grande, pois a maioria dos usuários são adolescentes. “Na adolescência o nível de curiosidade sobre o que as pessoas pensam e falam sobre nós é altíssimo. Como estão com a sua maturidade em formação, eles acabam não mensurando os perigos e riscos que correm ao buscar exposições desnecessárias”.

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Mulher teclando no celular
(diego_cervo/ThinkStock)

Mas sabemos que muitos adultos também estão aderindo ao aplicativo e Janaína acredita que, independentemente da idade, a escolha por essa exposição pode indicar alguns traços psicológicos em comum. “Carência, baixa autoestima, necessidade de aprovação e desejo de autoafirmação são fatores que contribuem”.

No caso da jornalista Carol Patrocinio, a utilização do app pareceu uma boa forma de fazer um pequeno experimento. Ela conta que queria ver se o círculo de pessoas com quem está conectada nas redes sociais é realmente “do bem” ou se lhe enviariam mensagens de ódio. Carol revela que, há muito tempo atrás, fazia uso de uma rede social de perguntas e respostas (como ASKfm e Formspring), e que uma pergunta particularmente cruel fez com que decidisse fechar sua conta.

Por causa dessa experiência, ela passou muito tempo sem falar sobre si nas redes sociais, com receio de se expor. Mas, com o passar do tempo, começou a publicar uma série de textos sobre suas vivências – inclusive aqui no MdeMulher – e passou a conhecer muita gente bacana pelo caminho.

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“Eu comecei a ver que tinha muita gente legal ao meu redor e que quando você fala de você, acaba criando laços. Aí, quando surgiu esse app eu pensei ‘vou ver no que dá’. Foi mais um teste, sabe? No sentido de: será que as pessoas continuam sendo horríveis? Ou será que eu estou realmente construindo uma comunidade de pessoas legais?”

Carol diz que, por enquanto, a experiência tem se mostrado positiva e que vem recebendo críticas construtivas, além de mensagens carinhosas. Mesmo assim, ela acredita que, para se arriscar no Sarahah, a pessoa precisa estar em paz consigo mesma. “Eu tô aqui com 20 anos de terapia nas costas, com autoconhecimento, e eu decidi trabalhar com esse tipo de coisa. Agora, para uma pessoa que tá em depressão, que é neuroatípica, que tem alguma questão interna não trabalhada, ou que faça parte de um grupo minorizado, aí sim nós temos um problema muito grande. Porque as pessoas já estão convivendo todos os dias com gente que é ruim com elas, e na hora do anonimato isso se intensifica”.

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Pessoa teclando no celular

Quem teve experiências desagradáveis no Sarahah foi a fotógrafa Deborah Nisenbaum. Ela já sofreu perseguição por parte de um ex-namorado abusivo e também costuma lidar muito “nariz torto”, por escrever abertamente sobre sexualidade na web. Mesmo assim, resolveu se aventurar no app, por curiosidade mesmo. “Adoro entrar em todas as porcarias novas que a galera faz, então eu fiz”.

Assim como Carol, Deborah diz que seu estado emocional também pesou na decisão – se rolasse ódio, ela sabia que ia segurar a bronca. Aí, como ja previa, alguns ataques aconteceram e até mesmo uma espécie de ameaça.

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“Recebi umas coisas muito bizarras, como uma pessoa dizendo ‘cuidado com as tuas companhias, tem gente que vai te saquear pelas costas’. E uma outra pessoa, que provavelmente é o meu ex, falando ‘você é uma puta sem vergonha que tá fazendo fama em cima de uma história que não é verdade’. Porque eu cheguei a comentar publicamente que o meu ex me agrediu e, depois disso, recebi muita coisa anônima de gente babaca e ele me mandou muita coisa também”.

Deborah diz que chegou a “pegar um bodezinho” do app, mas não cogitou cancelar a conta de vez. “Para cada mensagem merda que eu recebo chegam ao menos outras três que são muito bonitas”, comenta.

Pois bem. O Sarahah pode ser usado para que as pessoas disseminem coisas bacanas? Sim. Mas quem se arriscar nessa ~brincadeira~ também precisa estar pronto para encarar o fato de que o app é um terreno fértil para o ódio e para que todo mundo se sinta no direito de dar pitaco na sua vida.

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