O que fazer quando o filho não leva a faculdade a sério?
Especialista explica como os pais devem lidar com jovens que não priorizam os estudos.
Minha filha faz faculdade particular em outra cidade. Com esforço, arco com todos seus custos. Descobri, porém, que ela foi reprovada em algumas disciplinas e vive em festas. Tenho o direito de cobrá-la? (Pergunta enviada por leitora)
O ingresso na universidade representa para o jovem muito mais do que sua inserção em outra etapa da educação. Marca também a entrada no mundo adulto, onde há mais responsabilidades e também liberdade – que vai desde a chance de escolher as disciplinas a ser cursadas até, em alguns casos, a separação física da família (quando há necessidade de mudança de cidade). No início dessa fase, é comum que o estudante se entusiasme com a avalanche de novidades e perca de vista seus objetivos acadêmicos e profissionais. “Sua filha pode estar em um processo de adaptação, buscando a própria identidade nesse novo contexto”, aponta Rosa Maria Lopes Affonso, professora de psicoterapia e desenvolvimento humano na Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo. Nesse caso, é importante ajudá-la a ajustar o foco o quanto antes.
Para isso, a melhor saída é o diálogo direto. Mostre a ela que ser tratada como adulta implica benefícios e responsabilidades. Explicite o esforço necessário para mantê-la e como isso é feito, sim, com prazer, desde que seja bem aproveitado por ela – e não só em festas. No lugar de cobranças e chantagem, prefira estabelecer acordos e metas de mudança, deixando claro que ela precisa se comprometer com os estudos e que é responsável pelos próprios passos. “Os pais devem se posicionar como figuras de maior experiência que podem orientar os filhos, mas a execução das tarefas e a gestão da própria formação competem ao jovem”, lembra Shirlei Sales, pedagoga e professora da Universidade Federal de Minas Gerais.
De olho nesses desafios e no desejo de várias famílias de controlar os filhos também nessa fase, algumas instituições, como o Centro Universitá-rio Belas Artes e a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), em São Paulo, vêm promovendo reuniões de pais. “É só para eles ficarem tranquilos e perceberem que um ciclo foi encerrado e outro começa na vida do filho”, informa Fábio Chaves, assessor da ESPM. Mas a prática vem suscitando críticas. “Isso tira a autonomia do aluno”, afirma Eliane Greice Davanço Nogueira, professora de psicologia do desenvolvimento da Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul. A dependência para a resolução dos problemas pode resultar em um adulto acomodado. “A vida e o mercado hoje pedem pessoas independentes e proativas”, ressalta Eliane. Marque conversas com sua filha, não com os professores; afinal, é ela quem tem que se mexer.
Outro caminho é dividir com a filha o sustento dessa nova etapa. Que tal arrumar um estágio e pagar algumas contas, mesmo que das festas e do celular? Assim, não só sobra menos tempo para a falta de rumo como ela vai aprender a valorizar o esforço que você tem feito.
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