O papel da família e da escola na educação sexual das crianças
A sexóloga, Laura Muller, que esclarece as dúvidas dos jovens no Altas Horas, fala sobre a importância da educação sexual
A educação sexual fala de amor, de prazer, afeto, relacionamento
Foto: Dreamstime
Há cinco anos Laura Muller dá um show à parte no programa Altas Horas, da Globo. Psicóloga especialista em sexualidade, ela responde a todas as perguntas dos jovens e artistas que participam da atração comandada por Serginho Groismann com tranquilidade, segurança e leveza. A galerinha adora!
Nascida e criada em Juiz de Fora (MG), Laura se formou em jornalismo e iniciou a carreira no jornal Folha de S. Paulo. Começou a falar sobre sexo em 1997, quando se tornou editora de Emoções e Sexo da revista CLAUDIA. Foi quando fez pós-graduação em educação sexual e lançou seu primeiro livro, 500 Perguntas Sobre Sexo. “Tínhamos poucas referências na área e me apaixonei pelo tema”, diz.
Desde então, Laura ganhou visibilidade e passou a realizar palestras por todo o país. “No final, as pessoas pediam para que eu as atendesse em consultório, mas como ainda não era psicóloga, não podia. Voltei a estudar!”, conta.
Hoje, além das palestras e do consultório, a especialista escreve para jornais e revistas de todo o país e prepara seu quarto livro, este sobre sexualidade para crianças. Neste bate-papo a sexóloga explica o papel da família e da escola na sexualidade e no combate à homofobia. Confira!
O que considera importante para a família na hora de lidar com a sexualidade das crianças?
Os pais são os principais educadores dos filhos, eles já estão dando um roteiro para a criança de como ser homem ou como ser mulher no mundo. Isso é educação sexual. Quando essa criança cresce, vão surgindo as perguntas e a família precisa estar preparada de uma forma aberta. Isso faz parte do desenvolvimento. Basta o jovem encontrar um espaço em casa para sanar suas angústias, dúvidas e falar sobre o assunto de uma forma que ele se sinta acolhido. Os pais não precisam saber todas as respostas, porque ninguém sabe. Sexo é um tema tabu, é natural ter essa dificuldade. Mas com a família à disposição, o jovem já se vê mais seguro sobre isso.
Qual a importância da educação sexual nas escolas?
Desde 1997 esse tema deve ser tratado no ensino, a partir dos 7 anos de idade. Hoje, mais de uma década depois, a gente ainda não tem a totalidade das escolas abordando o assunto. Muitas vezes as questões surgem nesse ambiente. Os beijos, as brincadeiras… Então a escola tem um papel fundamental nessa formação. A educação sexual precisa ser uma ação conjunta entre família, escola e sociedade. Estamos formando essas crianças e adolescentes para serem adultos melhores, cada vez mais confortáveis com seu corpo, sua saúde e a sua sexualidade.
Laura Muller, sexólogal: “A educação sexual precisa ser uma ação conjunta entre família, escola e sociedade”
Foto: Divulgação
A partir de quantos anos a educação sexual deve ser iniciada?
Desde os 6, 7 anos. A educação sexual é um assunto muito amplo. A gente vai falar de sexo, propriamente dito, na adolescência. Criança também tem sexo. Claro que diferente do nosso, mas tem. E ela já deve saber como funciona o corpo, esclarecer dúvidas. Em casa, às vezes mais cedo que isso, elas já costumam perguntar. E essas dúvidas precisam ser resolvidas.
Quais as principais questões na pré-adolescência?
Elas surgem entre os 11 e 14 anos, quando a menina vai ter a sua primeira menstruação e o menino a primeira ejaculação espontânea, chamada polução noturna. Nesse período é muito importante explicar o que está acontecendo, as transformações do corpo infantil para o corpo adolescente… A menina, quando menstrua a primeira vez, já pode engravidar. O menino, na hora que ejacula, significa que já produz espermatozoides e pode, sim, engravidar uma menina. É preciso ser muito claro para falar de sexo e explicar todas essas questões para que esse pré-adolescente se torne um adolescente mais seguro.
Por que falar sobre isso é tão importante hoje em dia?
A educação sexual fala de amor, de prazer, afeto, relacionamento. É importante para que a gente viva de uma forma mais saudável, prazerosa, tanto física quanto emocionalmente. É preciso se prevenir das doenças sexualmente transmissíveis, da gravidez fora de hora… E esse é o caminho para isso.
A homofobia é um tema em evidência… Como tratar isso com os jovens? O que os pais e o colégio podem fazer para mudar essa realidade?
Primeiro é preciso entender que homossexualismo não é doença. Cada um tem o direito de ser o que é. Cada pessoa tem seu conjunto de valores, crenças, histórias de vida e seu jeito de olhar o mundo e se relacionar com ele. Se uma pessoa é homossexual, bissexual ou heterossexual não existe problema nenhum. Cada um deve ser o que é, sem se esconder. Não é preciso problematizar a história, porque não é um problema. A gente é que cria isso. Nós devemos entender que isso é algo natural.
Como foi o seu período escolar?
Eu, como a maioria dos adultos de hoje, não tive educação sexual na escola. Pra mim foi uma surpresa quando, na fase adulta, descobri quanta coisa não sabia, quantas lacunas existiam… O resultado acabo vendo hoje, em palestras ou questionamentos. Mas agora temos espaço para falar de sexo, em revistas, na TV, e mudar um pouco esse cenário.
Tem algum recado para nossas leitoras?
Façam o que se sentem confortáveis para fazer. Sem ficar pensando nas regras, no que os outros dizem. Vejam aos seus olhos a forma mais confortável de viver a vida sexual.