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“Na crise, a mulher em licença-maternidade torna-se mais vulnerável que outros profissionais”

Ela assinou a rescisão de contrato no dia 8 de março, com sua filha, Alice, no colo. Demitida pouco mais de cinco meses após o nascimento da bebê, a jornalista carioca Sacha Leite defende a licença compartilhada entre os pais

Por Redação CLAUDIA
Atualizado em 27 out 2016, 19h40 - Publicado em 12 abr 2016, 17h01
Acervo pessoal
Acervo pessoal (/)
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A jornalista Sacha Leite, 34 anos, foi demitida assim que se encerrou o período de licença-maternidade. Ela acredita que a longa ausência, de seis meses, foi determinante. E sugere que os seismeses deveriam ser compartilhados com o pai, em sistema de alternância – um mês para cada um. Veja aqui o depoimento de Sacha.

“Fui admitida na empresa, uma prestigiada instituição de ensino superior, quando o meu primeiro filho estava com onzemeses. Cerca de dois anos depois, assim que engravidei da minha segunda filha, pedi uma reunião de feedback com o meu chefe. Eu queria saber como estava o meu desempenho e se tinha algo em que pudesse melhorar. Ele disse que não tinhanenhuma reclamação, que só ouvia elogios ao meu trabalho, e que estava muito satisfeito.

O meu contrato era CLT, com todos os direitos que a constituição brasileira permite. A lei impede que a mulher seja demitida até o quinto mês de vida do bebê. E como esta é uma empresa dita ‘cidadã’, ela poderia oferecer até seis meses de licença maternidade.

Seriam quatro meses de licença automática e mais dois meses que eu poderia solicitar. Ainda assim, por eu ter um cargo de gestão, fiquei preocupada em me ausentar por seis meses. Pensei que isso poderia complicar a minha situação dentro da empresa.

Entrei de licença 15 dias antes da Alice nascer. Minha obstetra me orientou a me ausentar um pouco antes do dia do parto porque o bebê havia encaixado e eu estava sentindo muitas cólicas. A Alice nasceu de parto normal humanizado, sem anestesia. Foi lindo.

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Dia 7 de março, na véspera do meu retorno ao trabalho, exatos seis meses após o início da licença, o meu chefe me telefonou, perguntou como estava a Alice, e começou a dizer que a empresa estava passando por uma crise, que o presidente da empresa extinguiu o meu cargo e que eu seria demitida. Fiquei apática ao telefone. Desde que saí euestava muito apreensiva e até um pouco deprimida com essa possibilidade. No dia 8 de março, Dia da Mulher, fui assinar a rescisão com a Alice no colo.

Tenho certeza de que o longo tempo em que fiquei ausente das reuniões e das decisões estratégicas contribuíram para aminha demissão. O país está em crise, muita gente está sendo demitida, mas a mulher em licença-maternidade torna-se mais vulnerável que outros profissionais, já que na maioria das empresas não existe uma política de acolhimento de mulheres grávidas e essa ausência para cuidar do bebê é vista de forma negativa. Acho que a maternidade não deveria ser, em hipótese alguma, uma janela de oportunidade para a substituição de um funcionário.

A Organização Mundial da Saúde recomenda no mínimo seis meses de aleitamento. O ideal seria poder dividir esse tempo com o pai da criança, alternando um mês cada um. Dizer que o filho precisa mais da mãe que do pai nos primeiros meses de vida é uma questão totalmente cultural. Acho até um traço sexista dizer que este papel é exclusivo da mulher. O leite materno é muito importante por toda a questão nutricional e imunológica, mas a criança não precisa ser amamentada exclusivamente no peito. A mãe pode fazer a ordenha e a criança toma o leite na mamadeira, no copinho ou até na colher. Os pais podem fazer essa divisão de tarefas.

Na União Europeia, desde 2012, os homens têm direito ao mesmo tempo de licença que as mulheres para cuidar dos filhos recém-nascidos. Esse tempo é variável de acordo com cada país. Se isso fosse uma realidade no Brasil, eu dividiria essa tarefa com o meu marido sem problema algum.

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A demissão no nosso país mexe com a autoestima das pessoas. Todos os direitos básicos estão sucateados. O que eu vou fazer? Depender da saúde pública? Colocar meus filhos em uma escola pública? Eu amaria fazer isso, mas infelizmente o Brasil não nos dá boas condições. Então o desempregado está na rua da amargura. Tive que cortar gastos. Tenho ficado mais com as crianças e estou com menos tempo pra mim.   

A licença compartilhada seria um ganho muito importante e acho que todos deveriam lutar por ela, inclusive os homens. Mas a gente vive em uma sociedade onde mulheres e homens ainda são muito machistas para absorver essa ideia.”  

E você, o que acha? Dividiria a licença com o pai do bebê, para poder voltar ao trabalho mais cedo?

*Depoimento à jornalista Marcelle Braga.

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