Mulheres contam o que foi preciso para mudar de vida e carreira
Reviravoltas no que há de mais íntimo fazem parte do percurso de quem quer reconectar com a própria essência
Depois de decidir ficar alguns meses afastada do mercado de trabalho, a publicitária Glória Domenech, 45 anos, precisou voltar ao escritório. Em um semestre, perdeu 10 quilos e acumulou um descontentamento crescente. Viu nas suas crianças, um menino e uma menina, na época com 9 e 4 anos, o sinal de alerta: as notas não paravam de cair.
“Um sinal vermelho surgiu para mim, algo não estava indo bem, afinal. Tinha a sensação de que eles tinham tudo o que precisavam – escola, boa alimentação, uma casa confortável – mas era preciso mais. Eles estavam herméticos e não sentiam que podiam contar comigo para a resolução de problemas”, conta.
Foi aí que, mesmo com uma carreira exemplar, decidiu parar tudo. Afastou-se da profissão, mergulhou na Associação de Pais da escola e passou a estudar sobre educação, infância e adolescência.
É claro que o movimento não foi tão simples quanto esta narrativa. Felizmente, contava com uma poupança que foi alimentada por anos e tem um companheiro que se mantém no trabalho – e as contas continuam a ser divididas entre os dois. Mas sua visão mudou por completo. “Eu tinha a crença de que a produtividade se traduzia, na maioria das vezes, em resultado financeiro. Hoje, aceito que o auge da minha produtividade são os filhos que deixarei para o mundo. Preocupo-me muito mais com os filhos que deixarei para o mundo do que com o mundo que deixarei para os meus filhos”, argumenta.
Sem se dar conta, a executiva traçou um caminho em comum a muitas outras, especialmente as mais jovens. Ela virou a chave para uma vida com mais sentido; uma das marcas dos millennials. Mais do que ter um negócio ou construir uma carreira, viver com propósito é uma das grandes características das gerações que estão tomando conta do mercado de trabalho atual. O resultado da quinta edição da Millennial Survey, da consultoria Deloitte, que ouviu mais de 7.000 pessoas em 29 países, incluindo o Brasil, comprovou essa tendência. Segundo o levantamento, ao menos 66% pensam em deixar suas organizações atuais até 2020.
Mas todo mundo pode tentar rupturas tão bruscas assim? Glória traça a analogia com um tripé. “Aprendi que três pilares são importantes neste tipo de movimento. 1. Se esta ideia te atrai efetivamente. 2. Se há possibilidade real de alcançá-la e 3. Se o sustento será viável através dela”, comenta.
Atualmente, para aprender e se inspirar, também participa de sessões de coaching de vida com Gabrielle Picholari, autora do e-book Autocompaixão: A Essência da Felicidade e professora de habilidades socioemocionais na Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo. Ela é fundadora do projeto Olhar Fértil, que disponibiliza uma série de cursos e palestras para promover a busca pelo autoconhecimento – pessoal e profissional.
Por experiência própria, Gabrielle comprovou que precisou se desvencilhar de padrões limitantes para poder caminhar de encontro às próprias vontades. “Percebi que havia uma voz violenta dentro de mim que fazia com que eu fosse crítica demais comigo. Mesmo que as pessoas me elogiassem, eu não acreditava. Fui descobrir que eram lembranças do meu pai, um homem rigoroso, que estipulava padrões altíssimos. Cheguei, por exemplo, a ficar dois meses de castigo por não passar em um vestibular de Medicina”, conta.
Foi um longo processo, de mais de 10 anos. “Hoje costumo dizer que muitas perturbações emocionais, como a ansiedade, vêm também do medo. E devemos combatê-lo com confiança e com o acolhimento de quem somos, especialmente através da compaixão”, afirma. Neste momento, o coach entra como um complemento à terapia, por exemplo, para se descobrir onde quer chegar e o que faz sentido em sua vida. “Não tem como acreditar na vida sem confiar em si mesmo. E só quando nos enxergamos verdadeiramente conseguimos tirar o melhor do que somos”, argumenta.
EM TEMPO…
Gabrielle Picholari ministra, no próximo dia 16 de maio, a palestra gratuita Da Autocompaixão ao Propósito de Vida, em São Paulo. Saiba mais aqui.