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Estas mulheres mudaram a vida ao achar o propósito na carreira

Abandonar rotina de trabalho sem reflexões, transmitir um legado, procurar recompensas que vão muito além do dinheiro tem norteado a nova busca profissional

Por Iracy Paulina
Atualizado em 8 jan 2018, 16h07 - Publicado em 8 jan 2018, 16h07

Mudanças no comportamento contemporâneo apontam que uma conta bancária continua importante, mas recheá-la a qualquer custo ou com atividades enfadonhas perdeu peso. As pessoas descobriram os financiamentos coletivos para suas ideias ou negócios e decidiram não ser presa fácil do consumo massificado. Muitas compartilham bens e serviços, compram com base em critérios ideológicos, boicotam empresas com posições ultrapassadas e valorizam produtos que poupem o planeta. Também entenderam que é necessário viver com plenitude e empenhar mais tempo com elas mesmas. Tudo isso mexeu com a economia e, principalmente, com a forma de encarar o trabalho.

O palestrante norte-americano Daniel Pink, cultuado como guru no mundo administrativo, põe o propósito de vida – que ele define como o sentimento de fazer parte de algo maior – entre os três pilares da motivação (os outros seriam autonomia e domínio). A palavra propósito, com essa dimensão, tomou corpo e é sempre pronunciada quando o assunto é a escolha ou a transição profissional.

Hoje, é comum fazer mais de uma alteração de rumo para ajustar-se a uma bússola muito particular, que é o sentido de vida. Parar, pensar e mudar tem se mostrado uma inclinação mais frequente entre as mulheres. “Em geral, elas têm inquietação maior para conciliar o trabalho com seu jeito de existir”, observa a coach Juliana De Mari, dona da Prosa Coaching, em São Paulo, especializada em ajudar mulheres na transição da carreira. Quatro entrevistadas por CLAUDIA contam o que precisaram fazer para deixar falar a voz interior.

O ideal vira moeda

“Dizem que quem não sabe direito o que quer trabalha com consultoria. Atende várias empresas, testa inúmeros projetos, até se encontrar”, afirma a engenheira Joice Toyota, diplomada pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). Aconteceu com ela, que trabalhava como consultora em uma multinacional. “Atuei na compra de uma companhia por outra, lancei produtos, criei estratégias para que essas operações tivessem sucesso.” Uma dessas ações colocou-a em contato com a Secretaria de Educação do Amazonas. Viu as deficiências da escola pública e entendeu que elas podiam ser enfrentadas com uma gestão melhor.

Ali aconteceu o clique. Joice tomou consciência de que desejava algo de impacto social e em escala. “Quem tem esse alcance são os governos. E eu podia ajudá-los”, pensou. Embora tivesse acabado de ganhar uma gerência, por promoção, pediu as contas. Fez MBA em gestão e mestrado em educação na Universidade Stanford, Estados Unidos. Em 2014, começou a planejar a ONG Vetor Brasil, que recruta e treina jovens recém-formados nas melhores universidades para um programa de trainee em gestão pública. Como no nosso país grandes problemas vêm do inchaço e da ineficiência da máquina estatal, da corrupção no alto escalão e da falta de seriedade na criação de políticas públicas, o campo de trabalho que Joice abriu é imenso. “No curto prazo, o objetivo é ajudar os governos a implantar projetos melhores. No longo, contribuir para criar uma rede de bons gestores”, explica ela, que já atende 30 administrações estaduais e municipais em 24 estados. Sua retirada, em dinheiro, por enquanto é menor do que poderia estar ganhando na multinacional de onde saiu. Mas o propósito que deu à sua vida não cabe na calculadora. “A satisfação que tenho é incomparável. Faço o que amo, e isso beneficia as pessoas.”

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(Mot Santos/CLAUDIA)

Organização que transforma

Demorou um pouco para a pedagoga Luara Faria, 43 anos, perceber que sua performance havia se esgotado. “Tinha atuado como professora, dona de escola, coordenadora pedagógica, diretora. Já não estava mais feliz com a rotina, mas achava que era uma fase. Ia passar.” Há três anos, inscreveu-se em um curso de organização, mais como um hobby e para esfriar a cabeça. Imaginou que talvez aplicasse o aprendizado na própria casa. “Mas amigos começaram a pedir que eu rearranjasse ambientes para eles. Adorei a atividade”, lembra.

Sua empresa se firmou arrumando quartos de criança, home offices, cozinhas de recém-casados e pondo tudo no lugar depois de mudanças de endereço. Para Maria Elisa Moreira, professora de liderança do Insper, em São Paulo, a procura por uma atividade carregada de propósito de vida tem engrossado os índices de negócios femininos. Não por acaso, em 2016, as mulheres eram 51,5% dos empreendedores brasileiros, de acordo com a pesquisa Global Entrepreneurship Monitor – um contingente de 8 milhões de empresárias.

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Para além da satisfação pessoal, Luara nota que a missão de personal organizer traz um propósito imaterial quando recebe o feedback do cliente. “Ele me contrata com um objetivo, mas acaba se transformando.” Muitos relatam que ao desengavetar coisas velhas revivem e elaboram experiências difíceis, revisitam pensamentos, tiram da frente o que atravanca. “Há um efeito psicológico. Mexer na casa repercute na mente, no plano profissional. Já salvei até casamentos”, lembra. “O reflexo no outro é uma alegria para mim.”

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(Mot Santos/CLAUDIA)

A mudança precisou esperar

No Natal de 2016, a administradora de empresas e psicóloga Salma Cortez, 50 anos, reuniu a família com um outro tom. “Chegou a hora da minha virada”, comunicou. Era o passo definitivo para concretizar um desejo que identificara no curso de psicologia, na USP. “No estágio clínico, quando percebia que ajudava os pacientes a superar dificuldades, eu vibrava. Parecia que faria aquilo para sempre”, recorda. Mas passou a trabalhar numa corporação que recrutava e selecionava pessoal para companhias de telecomunicações. Foi, depois, sócia em uma consultoria em recursos humanos. “O alcance da psicologia nessa área é limitado. Está em função da organização, e o lucro pesa muito”, conta. “Não tem foco no humano, como a psicoterapia.” Com uma filha pequena para criar sozinha, Salma adiou os planos. Preparou o terreno para uma transição mais segura durante os quatro anos em que frequentou a formação em terapia alquímica, que trata o corpo, a mente e o lado emocional com essências florais.

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Com a filha adolescente, vendeu um apartamento e aplicou em um fundo, criando reservas para eventualidades. Saiu da sociedade e abriu um consultório aliando a psicologia à terapia com florais. “Reduzi o orçamento a 70%, mas estou supermotivada”, afirma.

“Quem ajusta a carreira a seu propósito de vida entende que nasceu para algo maior. Põe as habilidades a serviço do coletivo”, diz José Roberto Marques, presidente do Instituto Brasileiro de Coaching. O que dá a Salma a certeza de que acertou é o progresso dos pacientes. Para ficar em alguns exemplos, cita uma pessoa que já se vê capaz de mudar os hábitos alimentares e dosar a ansiedade diante da comida e uma mulher que se sente fortalecida para deixar os relacionamentos abusivos.

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(Mot Santos/CLAUDIA)

Em comunhão com os valores

O carro parecia naufragar. Chovia pesado e a enxurrada barulhenta, que se avolumava rapidamente, assustou a publicitária Amanda Borges, 30 anos. Estava a caminho da agência onde trabalhava, viu-se presa no trânsito alagado e refletiu sobre si mesma: “Eu me preparei tanto para vender ketchup e produtos bancários?”. Tinha 26 anos e havia atendido grandes empresas nacionais e globalizadas nas áreas financeira, siderúrgica, de alimentos e higiene pessoal.

Incomodava não ver naqueles mercados nenhuma preocupação em preparar o cliente para escolher um consumo consciente e saudável. “Chega”, disse. Pediu demissão e se deu um tempo de trégua com o dinheiro do seguro do carro, que sofreu perda total. Viajou, estudou moda, montou a Minimal, grife de roupa confeccionada com critérios sustentáveis que usa tecidos nobres, como seda e linho. “São modelos atemporais, feitos para durar”, explica. “No negócio, conheço bem meus fornecedores, tenho controle sobre a operação e entrego um produto mais ‘verde’ ”, conta.

O filósofo Roman Krznaric, fundador da The School of Life de Londres, costuma dizer que a vontade de se realizar atuando em algo que esteja de acordo com os próprios valores, paixões e personalidade, é a invenção do mundo moderno que veio para ficar. A atuação de Amanda prova isso. Seu projeto “pé no chão” começou em uma casinha de vila, sem vitrine. Cresceu e, em março passado, virou um ateliê maior. “Aqui, pratico o que acredito.”

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(Mot Santos/CLAUDIA)

 

 

 

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