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Mitos e verdades sobre como os jovens usam a internet

Depois de sete anos estudando a relação de adolescentes com as redes sociais, a americana Danah Boyd lança um livro que derruba mitos a respeito dos efeitos nocivos da internet e defende a liberdade dos jovens para navegar à vontade.

Por Redação M de Mulher
Atualizado em 28 out 2016, 00h31 - Publicado em 14 abr 2014, 22h00
Maria Laura Neves
Maria Laura Neves  (/)
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“A verdade é que os adolescentes estão mais interessados nos amigos do que na tecnologia”, Danah boyd, pesquisadora
Foto: Getty Images

A pesquisadora Danah Boyd, do Berkman Center da Universidade de Harvard, passou sete anos tentando entender como é a relação dos jovens com as mídias sociais. O resultado de tantos estudos se transformou em um livro ainda sem previsão de lançamento no Brasil: It’s Complicated – The Social Lives of Networked Teens (É complicado – A vida social dos adolescentes conectados). Na obra, ela explica como as novas gerações estão lidando com as redes sociais e fecha um diagnóstico complexo, desafiador, mas, sobretudo, otimista: “Os adolescentes estão muito bem”.

O problema é que os pais ainda não acreditam no lado bom da internet. Boa parte do temor dos adultos com relação a esse novo universo vem do fato de eles não conseguirem entender a maneira como os adolescentes lidam com as mídias sociais, segundo Danah. Não raro, as gerações mais velhas olham para a tecnologia com o filtro nostálgico das memórias. Idealizam o passado desconectado e julgam a infância deles melhor do que a de seus filhos. Além disso, ainda veem o mundo digital segregado das relações pessoais. Acreditam que a internet é um escape para adolescentes tímidos e com problemas de socialização, como acontecia quando eles eram os jovens. Mas o fato é que meninos e meninas vão para a rede não para ficar ensimesmados atrás de uma tela, e sim para se conectar com os colegas da escola, do bairro, do clube e até mesmo com a família. Ou seja: a presença deles no mundo virtual não é excêntrica. Em vez disso, é normal e esperada. Facebook, Twitter e Instagram são os lugares legais para se estar. “Os adolescentes estão mais interessados nos amigos do que na tecnologia”, escreve a pesquisadora. Uma vez entendidas as diferenças geracionais, ela se debruça sobre perigos virtuais e os mitos que se propagam em torno desse tema.

Adolescência e privacidade

Adultos costumam reclamar que os adolescentes se expõem demais na rede. Eles compartilham fotos, vídeos e seus sentimentos. Mas os jovens entrevistados por Danah dizem ter, sim, preocupação em resguardar informações íntimas no mundo virtual. Proteger-se da vigilância dos pais, por exemplo, é a primeira atitude deles em busca da privacidade. O que os adultos precisam entender, de acordo com a pesquisadora, é que o significado da palavra privacidade mudou. Adolescentes partem do pressuposto de que a vida é pública e mantêm em segredo apenas aquilo que desejam. Pais pensam de maneira oposta: a vida é privada e vamos revelar apenas aquilo que queremos. Para preservar seus segredos nas redes sociais, adolescentes desenvolveram táticas e códigos. Postam músicas, provérbios e mensagens cifradas, cujo entendimento só é possível para as pessoas com quem eles desejam se comunicar. Ainda usam macetes tecnológicos. A diferença é que eles não se preocupam em ocultar aspectos pessoais que os pais gostariam que fossem mantidos sob sigilo.

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Ciberviciados?

Outro mito discutido pela pesquisadora é o vício em internet. Na China, o problema é classificado como doença, a IAD (sigla em inglês para distúrbio de atenção de internet. Lá, jovens têm sido internados à força pela família. Pais alegam a incapacidade dos filhos de desconectar. Mas a classificação como doença é polêmica. A Associação Americana de Psiquiatria, que normatiza boa parte das práticas de saúde mental no mundo ocidental, optou por não incluir a questão em seu mais recente manual. Por aqui, um estudo divulgado recentemente pelo Hospital das Clínicas de São Paulo sugere que o Brasil tem 8 milhões de viciados em internet. O ponto, segundo Danah, é que, por mais absortos que os adolescentes estejam, nem todos os jovens que passam horas conectados fazem parte de uma amostra patológica. “É preciso lembrar que existe uma diferença entre engajamento e vício. No primeiro, os usuários perdem a noção do tempo na atividade que estão fazendo porque sentem prazer (e atividades que exigem concentração, como escrever, geram a mesma sensação)”, diz Danah em seu estudo-livro. “No segundo, outros aspectos da vida são prejudicados em função da atividade.” Ela lembra que videogames e televisão ocuparam esse espaço “demoníaco” no passado.

Abuso sexual

O maior receio dos pais de adolescentes que acessam muito a internet é de que sejam expostos ou submetidos a constrangimentos sexuais. Segundo Danah, a frequência dessas situações vem caindo desde 1992 nos Estados Unidos. “Isso sugere que a internet não criou uma nova praga”, escreve a pesquisadora. Uma sondagem realizada pelo CCRC, sigla em inglês que dá nome a um centro de pesquisa de crimes contra a criança, perguntou à garotada a idade das pessoas que mandam mensagens com conteúdo sexual, desde um flerte a algo mais agressivo. O resultado mostrou que apenas 4% das solicitações vieram de pessoas acima dos 25 anos. Em 75% dos casos, os adolescentes disseram que não ficaram tristes nem amedrontados com a mensagem e, em 69% dos casos, não havia qualquer menção a um encontro offline. Além disso, chama a atenção para o fato de que a maioria dos abusos contra menores ocorre dentro da casa da vítima, praticados por alguém em quem ela confia.

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O bom uso das redes sociais

A discussão levantada por Danah surge em um momento em que pais e professores brasileiros começam a esboçar caminhos para superar o receio do envolvimento dos jovens com o mundo digital. Segundo dados da pesquisa TIC Domicílio, realizada pelo Comitê Gestor de Internet no Brasil, 73% das crianças e adolescentes entre 10 e 15 anos conectados no Brasil acessaram redes sociais em 2012. “O número dos brasileiros online vem aumentando e as crianças e os adolescentes fazem parte desse movimento”, ressalta Fabio Senne, coordenador de pesquisas do Comitê. Outro estudo do mesmo instituto mostrou que as redes sociais são os principais chamarizes para os mais jovens, depois dos estudos.

No livro, Danah alega, ainda, que o excesso de protecionismo e de paternalismo relacionado às redes sociais impede os adolescentes de se informarem, se engajarem e se tornarem autônomos. A psicanalista Diana Corso vai além. “O Facebook devolveu aos jovens um espaço de partilhamento e de tédio e ócio criativos, elementos tão importantes para o desenvolvimento, pois hoje são extremamente exigidos, mas que estavam esquecidos”, analisa. “Além disso, é um espaço onde eles conseguem driblar a vigilância ostensiva dos pais e, dessa forma, desenvolver a própria identidade e amadurecer.” Mais do que nunca, portanto, é preciso navegar para crescer.
 

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