Mãe denuncia racismo em bilhete escolar: “Como eu gostaria de protegê-los desse mundo cruel”
Aos 7 anos, a professora de canto Débora Figueiredo, de 32 anos, hoje mãe de três filhos, era perseguida pelos olhares tortos de uma turma inteira de seu antigo colégio que cantarolava em seus ouvidos: "Nega do cabelo duro que não gosta de pentear". Mas o que ela não imaginava era que, 25 anos depois, seus filhos passariam por uma situação de racismo explícito muito semelhante, também no ambiente escolar.
Aos 7 anos, a professora de canto Débora Figueiredo, de 32 anos, hoje mãe de três filhos, era perseguida pelos olhares tortos de uma turma inteira de seu antigo colégio que cantarolava em seus ouvidos: “Nega do cabelo duro que não gosta de pentear”. Geralmente, as musiquinhas racistas nunca vinham só: a pequena também era agredida pelos alunos que não conseguiam aceitar a grandeza de seu cabelo.
Mas o que ela não imaginava era que, 25 anos depois, seus filhos passariam por uma situação de racismo explícito muito semelhante, também no ambiente escolar: “Olá! Mamãe Débora, peço-lhe se possível aparar ou trançar o cabelinho dos meninos, eles são lindos, mas eu ficaria mais feliz com o cabelo deles mais baixo ou preso.” Dizia o recado escrito na agenda escolar dos pequenos por uma coordenadora de uma escola particular de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro.
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A mãe não conseguiu manter-se calada frente ao teor preconceituoso da mensagem destinada aos seus gêmeos Antônio e Benício, de 3 anos e, na última quinta-feira (16), postou uma foto do comunicado seguido de um comentário no qual se revelava profundamente decepcionada: “Como eu gostaria que meus filhos não passassem por nenhum tipo de preconceito, como eu gostaria de protegê-los desse mundo cruel, como eu gostaria de afastar gente ruim travestida de boazinha antes que tivessem o desprazer de ter contato.” A publicação já foi compartilhada mais de 4 mil vezes pelas redes.
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Na última segunda-feira (20), a mãe compareceu à escola acompanhada de seu advogado. Então, a diretora do colégio disse que apenas estaria aberta ao diálogo caso também estivesse acompanhada do seu, até que uma outra reunião foi remarcada para esta quarta-feira (22). Segundo Débora, a instituição manteve a postura preconceituosa e nem sequer pediu desculpas pelo ocorrido.
A mãe também afirmou que as outras crianças com cabelos crespos na escola raspam a cabeça, e ressaltou o caráter empoderador no fato dos pequenos terem a oportunidade de cuidarem dos seus próprios fios: “Todos nós precisamos nos amar. E se eu não os ensino a se respeitarem e amarem, como vão respeitar o próximo?” Débora preferiu poupar os pequenos de saberem o que de fato aconteceu, mas já assegurou que os seus filhos mudarão de escola.
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