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Ingrid Guimarães

Sempre juntas, nós rimos e falamos sem parar há 20 anos, desde a época em que estávamos no elenco de apoio do Chico Total.

Por Redação M de Mulher
Atualizado em 15 jan 2020, 21h22 - Publicado em 2 jul 2013, 21h00
Mônica Martelli (/)
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Ingrid Guimarães

Ingrid Guimarães
Foto: Gérard Giaume e Igor Olszowski

A primeira vez que nos vimos foi numa sala da TV Globo onde estávamos esperando para fecharmos o nosso primeiro contrato para o programa do Chico Anysio, Chico Total. Tínhamos feito o teste dias antes para integrar o elenco de apoio do programa. Entrei e me sentei por acaso ao lado dela. Nunca tínhamos conversado antes, outros atores também estavam lá, todos em silêncio absoluto em frente a uma secretária, clima tenso, afinal de contas seríamos julgados de quanto valeríamos. Ingrid pegou uma agenda e escreveu para mim: ‘Vão te oferecer 700 reais NÃO ACEITA pede 800’. Escrevi de volta na agenda: ‘Entendi vou pedir obrigada.’ Nos olhamos, demos um sorriso uma para outra, com uma sensação de que éramos muito espertas e cúmplices de um grande segredo.

Ali já bateu uma grande afinidade. Mas nossa história de amizade profunda começou mesmo algumas horas depois. Saímos de lá e ela me ofereceu carona no seu Escort meio batido do lado. Estávamos na praia de Ipanema, conversando muito e o Escort parou no meio da rua, e ela disse: – ‘Ih acabou a gasolina, você me ajuda a empurrar?’ Eu, naturalmente, falei: – ‘Claro, vamos empurrar até o canto, estacionar e vamos batalhar uma gasolina. Ontem acabou a gasolina do meu carro dentro do túnel Rebouças!’
 
Encontro de almas. Naquele momento, sem que ainda soubéssemos disso, nos tornamos melhores amigas. Continuamos empurrando o carro e conversando sobre nossas vidas como se nada tivesse acontecido. Tinha um posto ali perto, o funcionário do posto nos ajudou, colocamos a gasolina e fomos embora sem parar de conversar. Percebemos que juntas estávamos livres de qualquer julgamento do tipo: –’ Você é muito desligada!’ Éramos idênticas. Mas tenho a ligeira desconfiança de que ela consegue ser mais desligada que eu. Beira o perigo.
 
Primeiro dia que fui à sua casa, ela ainda morava com a mãe, estávamos no seu quarto conversando, sim a gente conversa muito, estamos conversando há 20 anos sem parar, e perguntei onde era o banheiro e ela respondeu super-segura: – Primeira porta à direita. Só que a primeira porta à direita era o quarto da mãe dela que naquele momento dormia de conchinha com o marido. Eu entrei, acendi a luz, levei um susto, o casal acordou e também levou um susto, voltei correndo e falei: – ‘Ali não é o banheiro não!’ E ela: – ‘Não, ali é o quarto da minha mãe, o banheiro é na outra porta’. Bom, resolvi não ir ao banheiro porque fiquei com medo do que podia encontrar nessa próxima porta.
 
Semana passada ela me ligou e falou que eu tinha que consultar a nova taróloga dela e que isso iria mudar minha vida. Eu falei: – ‘Me dá o telefone agora!’ Ela tem o poder de me convencer das coisas. Ela deu o telefone e repetiu para eu não anotar errado. Liguei e adivinha quem atendeu? O marido dela. Ela me deu o número de Renê Machado, seu marido, talentoso artista plástico, seu grande amigo e parceiro, pai de sua filha, mas que não joga tarô. Ingrid tem a alma hippie, ama a simplicidade, ela é verdadeiramente ingênua e esse, para mim, é o seu grande charme. Espontânea e transparente, tem vocação pra ser feliz, curte a vida com sabedoria e tem a genialidade de rir de si mesma. Rimos muito juntas.
 
Vivemos a solteirice juntas, há muitos anos. Teve uma época em que ela se envolveu com um músico que usava calça de capoeira e nós o chamávamos de Badauê. Ele não falava, não emitia um som e olhava para Ingrid com um sorriso contemplativo o tempo todo. Um dia tivemos uma grande ideia: montar uma banda de forró. Eu e Ingrid cantando e Badauê tocando. Ingrid sempre incentivando a carreira das pessoas. Imediatamente fiz um e-mail com o projeto, Ingrid adorou e o mandamos para o dono de um forró em Caraíva, no sul da Bahia, onde tínhamos passado o réveillon. Ele adorou a ideia e marcou no mês seguinte três shows por semana em troca de pousada de graça e alimentação. Ficamos muito empolgadas, iríamos mudar de vida. Antes de pensarmos quais músicas iríamos cantar, ou mesmo se tínhamos condições de cantar, ficamos dias discutindo o figurino que íamos usar. O projeto não foi adiante. Ingrid terminou com Badauê. Motivo: falta de comunicação. A banda foi desfeita.
 
Fiquei grávida em dezembro de 2008 e eu não sabia como dar a notícia para Ingrid porque todas nossas amigas já tinham filhos, só sobramos nós duas, e agora, eu grávida, ela seria a única. Liguei para ela: – ‘Preciso falar urgente com você’. E ela: – ‘Eu também!’ Tentamos nos encontrar, mas não conseguíamos. Finalmente nos encontramos e falei: – ‘Tenho uma coisa para te contar’. E ela: – ‘Eu também!’ Eu disse: –’ Estou grávida!!’ E ela: – ‘Eu também estou grávida!’ Ela também não sabia como me dar a notícia porque eu já tinha perdido três gestações e achou que a gravidez dela pudesse mexer comigo. Engravidamos na mesma semana. Nossas filhas nasceram na mesma semana. Passamos a gravidez juntas, fizemos enxoval juntas, fomos à feira de grávidas juntas, escolhemos o pediatra juntas. Hoje, nossas filhas brincam e estudam juntas, uma continuação da nossa amizade, do nosso afeto.
 
Ingrid entendeu, desde muito cedo, que nós somos os autores da história da nossa própria vida. Ela nunca ficou de carona e nunca se deixou ser conduzida. É ela que sempre está no volante. Ela conduz a sua carreira, inventa os seus projetos. Ingrid se fez sozinha, sem grupos e sem padrinhos. Foi pelo talento e perseverança. Estávamos um dia nos bastidores do programa do Chico Total esperando para gravar, ela estava vestida de mulher sem dente, o que significa o dente pintado de preto. Eu vestida de mulher da selva. Ela não estava feliz e falou para mim: – ‘Eu não quero ser mulher sem dente nunca mais na minha vida, eu não sou isso aqui, eu não vou deixar que me coloquem nesse lugar!’ Levantou a mão, pediu para falar, arregaçou as mangas e começou ali a trilhar seu caminho. Mostrou para o mundo que não seria vítima de rótulos. Revolucionária, nunca aceitou passiva papéis que tentaram lhe impor ao longo de sua carreira e com isso abriu caminhos e encontrou parceiros importantes.
 
Ingrid fez das suas histórias o seu mundo. E assim foi em Confissões de Adolescente, seu primeiro sucesso no teatro, com direção de Domingos Oliveira. Depois veio Duas Mãos, também de sua autoria junto com Carol Machado. Depois fez com Heloísa Perissé, a amiga Lolô, um dos maiores fenômenos do teatro Brasileiro, Cócegas. Hoje está em cartaz com Razões pra ser Bonita, de Neil Labute, cujos direitos ela comprou e é também produtora junto com Sandro Chaim. Um dos únicos projetos que não partiu de Ingrid foi o sucesso De Pernas pro Ar. Convite de Mariza Leão. Mesmo assim ela pega os projetos para ela. Faz deles, seus. Ela brinca que novela para ela é quase descanso, não tem que produzir, escrever.
 
O que eu mais admiro não é o seu sucesso, mas a trajetória que ela percorreu pra chegar até ele. A filha de William e Sônia, a neta de Ássima, a irmã de Astrid e Sigrid, a menina exótica que não sabia dançar balé e tocar piano, e que saiu de Goiânia com um sonho de ser atriz, hoje é uma das maiores estrelas do Brasil, é linda, é uma grande amiga e mãe de Clara.

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