Espaços públicos que permitem convivência são essenciais para viver bem

Espaços como o Sesc (Serviço Social do Comércio) e o parque do Ibirapuera, em São Paulo, têm em comum o fato de se prestarem a diversos usos, facilitando o lazer das pessoas. Comuns em algumas cidades, raros em outras, esses lugares incentivam e promovem a convivência entre gente diferente e melhoram a qualidade da vida urbana. É isto que faz esses locais de convivência serem tão importantes: a capacidade de gerar bem-estar.

“Felicidade duradoura é criada por meio de experiências e atividades intensas. E estas sempre ocorrem em um espaço determinado”, analisa o documento A Política da Felicidade: Um Manifesto, de 2010, do coletivo finlandês Demos Helsinki. O grupo se debruçou sobre pesquisas científicas para descobrir o que faz as pessoas realmente felizes, para então sugerir a criação de políticas públicas focadas em criar bem-estar, e não só em aumentar a riqueza.

E uma das descobertas do grupo é a importância de criarmos “espaços significativos”. Isso porque o uso do espaço é altamente político: pode facilitar ou impedir a nossa felicidade.

Mas quais as características de um espaço significativo? Uma delas é a possibilidade de alterá-lo, de interagir sem pedir autorização pra ninguém. Hoje, um dos poucos lugares em que podemos fazer isso é na nossa casa.

No Rio de Janeiro, por exemplo, os espaços públicos são bastante democráticos, segundo a arquiteta Vera Hazan, professora da PUC-RJ. “São as praias, a academia da orla, as ciclovias, os parques do Flamengo e da Lagoa e as praças de bairros, que acabam de receber equipamentos de ginástica para a terceira idade.”

Outra característica de um espaço significativo são as possibilidades de convivência que ele oferece. Locais que permitam diversão com a família, com amigos e até com desconhecidos. A ciência já descobriu que o sentimento de comunidade é fundamental para a felicidade. Portanto, atividades como participar de uma aula de culinária, jogar basquete em uma quadra pública e fazer piquenique embaixo de árvores são fundamentais para o bem-estar.

Olho da rua
Organizar caminhadas coletivas foi a forma encontrada pelos amigos de Jane, em Toronto, para manter suas ideias pulsando. Só em maio do ano passado, 75 cidades de 15 países diferentes realizaram 511 caminhadas, as Jane’s Walks. O projeto Cidade que Queremos, do Instituto Mobilidade Verde, ajuda moradores a organizar esses passeios, aproveitando a ocasião para discutir temas como a mobilidade urbana, a iluminação do bairro e o estado das calçadas.

Desde agosto de 2011, moradores de três regiões em São Paulo já se engajaram: Vila Madalena, Jardim Petrópolis e M’Boi Mirim. “Cada vez mais deixamos de ter contato com o local onde vivemos. Esse distanciamento é muito perigoso”, diz Lincoln Paiva, presidente do instituto. “Quem não anda a pé não se importa com as calçadas. E é fácil fazer arrastão e sequestro-relâmpago se não tem ninguém nas ruas.”

Se você reparar bem, o leque de espaços para visitar é muito mais amplo do que escolher qual shopping vai ser visitado no fim de semana: seja um prédio ou uma praça, seja uma praia ou um teatro, uma cafeteria ou uma biblioteca, o que importa é encontrar espaços onde seja possível compartilhar histórias, anseios e visões de mundo. Travando novos acordos e exercitando a coexistência pacífica, criamos lugares nos quais a vida pode pulsar de verdade.

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