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Dois filhos em um

Voce, Lea T. Cerezo, sabe muito mais que embaixadinhas. Teve coragem de, elegantemente, tentar quebrar paradigmas e mostrar ao mundo que devemos aceitar, sim, as diferenças

Por Redação M de Mulher
Atualizado em 16 jan 2020, 02h27 - Publicado em 7 abr 2013, 21h00
Toninho Cerezo (/)
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Dois filhos em um
Ilustração Kalus Bernhoeft

Qual pai um dia não pensou desta maneira? Como seria bom se existisse um manual completo, que ensinasse e orientasse como ser pai em todas as etapas da vida dos filhos!

Por mais que existam livros, manuais, conselhos bem-intencionados, a grande verdade é que exercer a paternidade vai muito além de conselhos e teorias. Todos sabem que cabe a paternidade uma parcela de responsabilidade de cuidar, educar, proteger e preparar os filhos para o ingresso na sociedade

Mas as alma humana é muito complexa, e estamos bem longe de saber tudo o que esse ser mutante chamado Homem é capaz de fazer, querer e ser…

Meu menino, minha menina para sempre, eternamente, os dois serão meus.

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Ainda no ventre, Leandro foi um filho esperado e amado. Na sua infância, seu sorriso doce e os cabelos cacheados não me indicavam qualquer tendência, era apenas uma criança, era apenas meu filho.

Com o passar dos anos e a chegada da adolescência, conheci, na intimidade e nos momentos que passamos juntos, seu jeito diferente – a clara ausência de predileção por brincadeiras masculinas. Percebi interesse por assuntos ligados a arte e ao universo feminino

Por conta da minha formação familiar ter sido baseada em respeito, cresci em um ambiente livre e pude escolher jogar futebol e viver apenas com meus dons no campo. Como não tive o tão sonhado manual, “Como Criar Filhos”, criei os meus igualmente livres também para suas escolhas, sem cobranças nem imposições.

Apesar de notar as diferenças, percebi também que nada poderia fazer, e tudo o que poderia dar a ela/ele era o meu amor incondicional, a segurança, o conforto e a certeza de que em qualquer circunstancia, por mais que longe, eu estaria sempre ao seu lado.

Em alguma entrevista, Lea disse que a única coisa que gostaria de ter aprendido no futebol eram as embaixadinhas(veja só!), e que até tentou aprender, mas não foi muito bem sucedida.

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Sei que trabalho em um ambiente teoricamente machista, mas nunca houve influencia nem espaço para cobranças, apenas dei oportunidade de estar comigo caso quisesse.

Pode ser que eu tenha sido negligente como pai, mas não há motivos para frustações. Não podemos ser bons em tudo. E você, Lea T. Cerezo, sabe muito mais que embaixadinhas. Teve coragem de, elegantemente, tentar quebrar paradigmas e mostrar ao mundo que devemos aceitar, sim, as diferenças, ser tolerantes com a diversidade, entender e não julgar aquilo que não conhecemos. O caminho pode ser longo, mas certeza não será o mesmo depois de você.

A paternidade é livre de qualquer padrão, de qualquer critério imposto pelo sociedade, filho deve ser aceito na sua totalidade, na sua integral condição de vida, independentemente de sua orientação sexual.

Como diria o poeta Cazuza “O tempo não para, não para, não para” e filho crescido não cabe mais aos pais educar. Sendo assim, aqui ou lá, torço por você, Lea.

Meu menino ou menina, Leandro ou Lea, não importa mais, sempre serei seu pai e você, orgulhosamente, um pedaço de mim

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