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Conheça as homenageadas do Mulheres do Ano no Prêmio CLAUDIA

As jogadoras levaram para o campo e esfera pública discussões sobre a luta pela igualdade de gênero e a urgência no reconhecimento das mulheres no esporte

Por Texto: Isabella Marinelli e Letícia Paiva
Atualizado em 17 fev 2020, 11h44 - Publicado em 10 nov 2019, 08h00

Foi um balde de água fria quando a torcida soube que Marta da Silva, 33 anos, não participaria da estreia do Brasil na Copa do Mundo Feminina de Futebol, sediada na França. A craque não havia se recuperado a tempo de uma lesão sofrida dias antes, na preparação do time. A primeira entrada em campo só rolou na outra semana. Mas compensou tudo. De batom, a jogadora pisou no gramado com tanta confiança que deu sentido ao que aconteceria em seguida.

Naquele 13 de junho, a alagoana faria história novamente. Tornou-se a primeira pessoa, entre homens e mulheres, a marcar gols em cinco mundiais. Na comemoração do pênalti que lhe rendeu a marca, apontou para sua chuteira, que carregava um símbolo pela igualdade de gênero. Naquele minuto, a celebração se agigantou. Virou um símbolo que sintetiza toda a luta de milhares de meninas nos campos de base do Brasil. Era a maior de todos dizendo que é possível, sim.

O time seguiu nessa toada durante o Mundial e depois dele. Repetiu à exaustão a importância de olharmos para a questão da mulher no esporte. Parece que buscar esse espaço igual seria natural para a nação intitulada como “o país do futebol”. Entretanto, no Brasil, essa narrativa foi sempre permeada pela desigualdade. As mulheres foram proibidas de competir em esportes considerados masculinos, entre eles o futebol, por mais de 40 anos.

“Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para esse efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país”, dizia o decreto-lei de 1941. Anos mais tarde, na década de 1960, o futebol foi acrescentado oficialmente à lista. Quem quisesse jogar de forma amadora poderia, mas não seria reconhecida. Só em 1983 o futebol feminino foi regulamentado e aí surgiram os primeiros times profissionais.

O hiato gerou atraso na modalidade. Para ter uma ideia, o Campeonato Brasileiro de Futebol, que é masculino, teve sua primeira edição em 1959. Em contrapartida, só em 2013 foi criado o Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino. Três anos depois, a Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) regulamentou que, a partir de 2019, os clubes licenciados por ela deveriam ter times femininos adulto e de base para poder participar da Libertadores e da Copa Sul-Americana. Sete dos 14 times brasileiros classificados para a Libertadores começaram o ano sem cumprir a regra. Eles precisaram correr atrás de clubes amadores para se atualizar a tempo. Além disso, frequentemente os recursos destinados pelos grandes clubes às suas equipes femininas são muitas vezes inferiores ao que aplicam nas masculinas.

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Homenageadas do Mulheres do Ano do Prêmio CLAUDIA
(CLAUDIA/Getty Images)

Com a falta de investimento em times de base e a inexistência de campeonatos fortes, as mulheres chegam menos preparadas para a seleção brasileira. Enquanto a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) forma times masculinos a partir da categoria sub-15 até a sub-23, com os jovens talentos geralmente passando por todas essas etapas até ingressarem na categoria principal, o time sub-15 para as meninas só surgiu em 2013. A falta desse segmento fez com que a meia Andressinha, que este ano disputou sua segunda Copa, começasse direto na sub-17, mesmo aos 13 anos. Já Marta nunca passou pela base, chegando à principal aos 16 anos.

A desigualdade em campo se reflete na baixa cobertura do noticiário especializado sobre seus jogos e até no reconhecimento que elas recebem por suas vitórias. O vencedor do Brasileirão masculino do ano passado recebeu o prêmio de 18 milhões de reais ante apenas 120 mil reais no feminino. Seguem a mesma regra os salários, as condições de trabalho e os patrocínios, que não são comparáveis aos dos craques homens.

Jogando nos Estados Unidos, Marta é uma das mais bem remuneradas do mundo, com salário anual de cerca de 1,5 milhão de reais. No Brasil, ganharia muito menos, mas o artilheiro do Brasileirão deste ano, Gabriel Barbosa, o Gabigol, recebe 1,25 milhão por mês do Flamengo, marca nunca atingida por Marta em sua vitoriosa carreira. Quer outro exemplo? A folha salarial da equipe feminina do Corinthians, que disputou a final do Campeonato Brasileiro neste ano, não chega a 100 mil reais; a dos colegas homens é de cerca de 11 milhões de reais.

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Apesar de todas as adversidades e do descrédito ao seu trabalho, as jogadoras brasileiras conquistam resultados relevantes em competições internacionais com equipes de alto nível. Em 1999, na Copa nos Estados Unidos, elas surpreenderam e subiram ao pódio em terceiro lugar; em 2007, disputaram a final do Mundial e ganharam ouro no Pan-Americano do Rio. Nessa época, estavam em campo algumas das craques, como Marta, Cristiane e Formiga, que agora deixam seu legado para as novas gerações de atletas.

A Copa do Mundo deste ano selou a mobilização por justiça e reconhecimento da modalidade feminina. A seleção fez o Brasil torcer por elas dentro e fora de campo, marcando recorde de 25 pontos de audiência ligada em sua estreia – lembrando que foi a primeira vez que a TV aberta exibiu todo o campeonato. E o debate sobre a desigualdade de gênero no país do futebol chegou aos holofotes esperando para ser corrigida pelos gestores do esporte. Elas já provaram que não faltam garra e talento.

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