Conheça a oficina de desprincesamento que está chegando ao Brasil
Em contraponto à Escola de Princesas, essa oficina pretende mostrar que as garotas podem ser o que quiserem.
Quando souberam que a Escola de Princesas estava chegando a São Paulo, a jornalista Mariana Desimone e a filósofa Larissa Gandolfo ficaram muito incomodadas. A tal escola já existe em Uberlândia/MG há três anos, mas o lançamento da filial paulista voltou a reacender a polêmica em torno do assunto. Em pleno Século XXI, ainda faz sentido ensinar às meninas que elas precisam ser belas, recatadas e do lar?
Mariana, Larissa e milhares de outras mulheres acreditam que não. E dessa indignação – como define Mariana – surgiu a ideia de trazer para o Brasil o conceito da oficina de desprincesamento, que surgiu no Chile. “Ficamos bem incomodadas quando soubemos que a Escola de Princesas estava vindo pra São Paulo. Esse foi o nosso ponto de partida, pois a gente pensou ‘meu, precisamos fazer alguma coisa'”, conta Mariana.
Logo depois, ambas ficaram sabendo da ideia chilena e resolveram participar de uma capacitação online, ministrada pelas criadoras desse conceito de desprincesamento. E as amigas entraram de cabeça na empreitada! A primeira edição brasileira da oficina acontece no mês de dezembro, em São Caetano do Sul/SP, e é voltada a meninas de 9 a 15 anos.
Para Mariana, há dois grandes problemas no conceito difundido pela Escola de Princesas: 1) acreditar que as meninas escolhem ser princesas; 2) ensinar que rituais de feminilidade e obediência são inerentes à natureza da mulher. “Quais outros modelos foram apresentados a essas meninas? Se elas só conhecem um modelo como sendo o correto, é lógico que elas vão tomar aquilo como verdade. E, num ambiente como a Escola de Princesas, você está mostrando a essas meninas que ser mulher é isso: saber se maquiar, saber arrumar o cabelo. Nosso país é o pior da América Latina para se nascer mulher e é esse tipo de coisa que queremos passar às nossas meninas? A gente ensina as meninas a serem frágeis e os meninos a serem violentos, aí depois as pessoas não entendem por que a nossa sociedade está do jeito que está”.
Ela frisa que o objetivo do desprincesamento é oferecer outras alternativas e expandir a visão dessas jovens garotas. Para isso, serão estudadas figuras femininas como Malala Yousafzai e Clarice Lispector, por exemplo. Outro ponto de atenção da oficina é a desmistificação da ideia de que “ser menino é mais legal”.
Ao final, a base de todo o conceito é muito simples: mostrar às meninas que elas não são inferiores aos garotos, que rituais de feminilidade não conferem maior valor a uma mulher e que todos temos os mesmos direitos – independente de gênero. Enfim, de que meninas podem tudo! Além dos debates ministrados por Mariana e Larissa, a oficina também irá contar com a participação de uma arte-educadora e de uma professora de artes marciais – que irá ensinar defesa pessoal.
Diferentemente da oficina chilena, essa que será realizada em São Paulo também terá um momento de conversa com os responsáveis pelas meninas (a quem Mariana e Larissa chamam de cuidadores). “A nossa ideia é conscientizar os cuidadores de que as meninas são capazes de fazer o que elas quiserem; de que não é legal deixar todos os cuidados da casa para a filha, enquanto o filho da mesma idade não tem que se preocupar com isso; e também vamos falar com eles sobre a desconstrução do amor romântico, pois na infância as meninas não têm que se preocupar com isso”, explica Mariana.
A primeira edição da oficina acontece nos dias 4, 10 e 11 de dezembro, em São Caetano do Sul/SP e todas as 15 vagas já foram preenchidas, mas Mariana garante que novas datas serão agendadas em 2017. Ela também revela que, na última semana de janeiro, será realizada uma roda de conversa sobre o tema em São Paulo/SP, ainda sem local definido. Outra informação que Mariana adianta é que ela e Larissa planejam levar o desprincesamento a outros estados e que, ao que tudo indica, Salvador/BA contará com uma oficina em breve.
Para acompanhar as novidades, é só seguir a oficina de desprincesamento no Facebook ou enviar email para desprincesamentobrasil@gmail.com.