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Como vai funcionar na prática a educação financeira nas escolas

O tema é importante para auxiliar a criança a saber organizar, desde cedo, seu dinheiro e os pais também devem tocar no assunto em casa.

Por Colaborou: Gabriela Maraccini
Atualizado em 16 jan 2020, 14h38 - Publicado em 16 jan 2020, 14h32
 (Photobuay/ThinkStock)
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A partir deste ano, todas as escolas brasileiras devem adicionar educação financeira como tema transversal na grade curricular, conforme as diretrizes da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Mas, na prática, o que isso quer dizer?

Quando a decisão do Ministério da Educação (MEC) foi divulgada, prevendo que as redes de ensino deveriam se adequar às novas normas na BNCC (que prevê o mínimo que deve ser ensinados nas escolas desde a educação infantil até o ensino médio), muitos acharam que se trataria de uma nova disciplina a ser estudada. Mas não é bem isso.

“A educação financeira é um dos temas a serem desenvolvidos dentro do componente curricular Matemática, podendo ser abordado desde os anos iniciais da etapa do Ensino Fundamental, perpassando por todos os anos até o Ensino Médio”, explica Adriana Pagan, responsável pelo Currículo na Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, à CLAUDIA.

O que isso significa? Que a educação financeira é um tema a ser abordado durante as aulas de Matemática das duas etapas de ensino (Fundamental e Médio). “Nelas, a educação financeira faz parte dos objetos de conhecimento do componente Matemática, portanto devem ser desenvolvidos durante as aulas da disciplina com níveis de aprofundamento diferentes, levando em consideração a progressão das habilidades abordadas em cada ano/série”, afirma Pagan.

Garota colocando moedas em um cofrinho Chris Ryan
(Chris Ryan/Getty Images)

Para isso, segundo a porta-voz, serão fornecidos materiais de apoio para as redes de ensino a fim de dar subsídios aos professores para desenvolver as habilidades. Além disso, os profissionais de ensino também terão a liberdade de buscar outros materiais sobre o assunto para desenvolver suas aulas.

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Mas o tema não, necessariamente, será abordado apenas nas aulas de Matemática. A educação financeira poderá ser, inclusive, objeto de estudo em outras disciplinas, como Geografia e Língua Portuguesa, por exemplo. “Os professores dos componentes curriculares têm a liberdade desenvolver temas de diversos componentes desde que alinhados aos objetos que estão desenvolvendo em suas aulas”, explica.

A educação financeira também está disponível no componente Eletivas, uma novidade no currículo escolar neste ano a partir do 6º ano do Ensino Fundamental. Ou seja, o tema será ofertado, ainda, como uma espécie de “disciplina optativa” que a escola ou turma terá a liberdade de escolher para compor a grade curricular. A ementa, o material, e o plano de aula são oferecidos pelo órgão central.

Por que educação financeira desde a infância é tão importante?

A educação financeira é importante para todos os indivíduos, independente de sua idade, já que melhora a relação com o dinheiro e serve para auxiliar a controlar os ganhos e os gastos racionalmente. Para Pagan, a abordagem desde o Ensino Fundamental é essencial para que o estudante comece a se planejar quanto ao futuro e entender como suas ações no cotidiano impactam o seu orçamento a curto, médio, e longo prazo.

“Tanto no componente Matemática, como nas Eletivas, o objetivo é ensinar conceitos de educação financeira que se apliquem a realidade do estudante e ajudá-lo a planejar suas ações, ressignificando a matemática para a vida do estudante, ilustrando com situações cotidianas, em que a educação financeira se aplica, conscientizando os estudantes quanto a um consumo consciente e conseguir separar a percepção de necessidade e desejo sobre os objetos numa realidade consumista”, explica Pagan.

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“Além disso, serve para ensinar os estudantes a realizar um planejamento financeiro e um orçamento pessoal com qualidade e realista, possibilitando um maior controle do dinheiro. Explicar princípios básicos da economia, quebrar paradigmas e possibilitar que o estudante se torne um pequeno investidor autônomo no futuro.”

A lição de casa também é dos pais

Para que a criança consiga, de fato, desenvolver uma boa educação financeira, ela não deve depender apenas das escolas. É importante que o tema também seja desenvolvido dentro de casa e em seu dia a dia.

Para a jornalista Sabrina Mestieri Nakao, que tem um canal no YouTube sobre educação financeira na infância, o Crianças e Finanças, a importância de ensinar os filhos a saberem administrar seu dinheiro desde cedo vem da necessidade de planejamento para o futuro. “A educação financeira na infância traz todo o conhecimento e noção de organização, do que é prioridade e de investimento que a nossa geração não teve. Precisamos facilitar isso para as crianças e eles vão crescer com essa mentalidade”, opina.

E como isso pode ser feito? Primeiro, é preciso identificar o momento de trazer o assunto à tona. “Quando ele chega naquela fase de falar ‘eu quero isso, eu quero aquilo’, chegou a hora de sentar com ele e conversar sobre o que é dinheiro, o que é cartão e as responsabilidades que você passa a ter quando começa a ter dinheiro”, explica Nakao. “O que eu indico para os pais é dar mesada, para o filho aprender a ter responsabilidades.”

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Para isso, não existe uma metodologia específica. Cada idade tem um método eficaz diferente e é preciso levar em conta, também, a renda de cada família. Nakao, por exemplo, tem três filhos pequenos, o Gabriel, de oito anos, a Giovanna e o Gustavo, de seis. Ela dá 50 reais para cada um deles e divide a quantia em 7 carteiras com finalidades diferentes.

A carteira vermelha é usada para comprar doces; a azul, presentes; a amarela, para emergências; a verde, para a diversão; a prateada/cinza, para investimentos; a roxa, para os sonhos. “Então, se eles querem um sorvete, por exemplo, eles pegam o dinheiro da carteira vermelha. Quando eles querem comprar um brinquedo, é da roxa”, explica a especialista. “A cinza é para investimentos, para eles saberem que o dinheiro deles pode render. Todo mês, se eles colocarem uma quantia x nela, eu coloco mais um pouco. Eles já realizaram vários sonhos e desejos dessa forma”, revela.

Sabrina Mestieri Nakao
Sabrina Mestieri Nakao usa carteiras coloridas para dividir a mesada de seus filhos em prioridades (Arquivo pessoal/Reprodução)

E ainda sobra dinheiro para doação! A sétima carteira, a rosa, é voltada para contribuições. “Isso é importante para eles entenderam que quanto mais dinheiro eles têm, mais responsabilidade social eles adquirem”, afirma Nakao.

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Mas ela reitera que saber administrar o próprio dinheiro deve ser uma tarefa saudável para a criança, que a faça pensar e refletir sobre seus atos. “Para isso, é importante questioná-la sobre a compra dela e sobra as decisões que ela toma. ‘Por que você quer muito ter isso?’, ‘quanto tempo de felicidade isso vai te trazer?’, ‘se você não tiver aquele brinquedo, o que vai acontecer na sua vida?’, são algumas das perguntas que eu faço e ensino os pais a fazerem”, explica. “A ideia não é impor nada ou deixar a criança preocupada. Mas, sim, fazê-la entender que quando ela é responsável pelas próprias prioridades, ela dá muito mais valor ao seu dinheiro. É muito gostoso fazer algo pelo próprio mérito e não ser um pedinte”, finaliza.

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