Como ajudar a criança que sente medo excessivo de ir à escola
Crise de choro, dores abdominais e de cabeça, vômitos... Seu filho costuma apresentar alguns desses sintomas antes de ir para a escola? Isso é sinal de fobia escolar. Saiba o que fazer para ajudá-lo a superar esse transtorno.
As férias acabaram e chegou o primeiro dia de aula. O pequeno, que costumava acordar animado, despertou diferente. Recusou-se a tomar café-da-manhã e ficou emburrado na hora do banho. Pouco depois, resistiu a vestir o uniforme, jogou a mochila no chão e chorou antes de sair de casa. No trajeto para a escola, queixou-se de fortes dores abdominais. Nos dias seguintes, o quadro se agravou, com ânsia de vômito, suor excessivo e tremores. Cenas como essa se repetem em muitas famílias, mas, na maioria dos casos, os pais acreditam que não passam de manha ou frescura da criança para não ir ao colégio. O diagnóstico para este comportamento, no entanto, pode ser de fobia escolar.
Classificada como um transtorno de ansiedade, a fobia escolar está entre os distúrbios que mais afetam crianças e adolescentes e pode aparecer durante toda a vida escolar, embora seja notada com mais frequência na faixa etária que compreende os cinco e os dez anos de idade. Além do medo exacerbado de ir para a escola, ela pode acarretar outros problemas, como evasão escolar, repetência, ausência de socialização com os colegas e baixa autoestima.
De acordo com Elizabeth Polity, psicopedagoga e diretora do Colégio Winnicott, de São Paulo, especializado em atender crianças com dificuldades de aprendizagem, a fobia escolar é caracterizada como uma ansiedade incontrolável de separação, ou seja, dificuldade de se adaptar a um novo espaço sem a presença do vínculo familiar. “A criança pode ter receio de deixar a mãe ou a casa por ter fantasias de abandono ou destruição. Situações de estresse pós-traumático, como o divórcio dos pais, perdas de entes queridos e bullying também aparecem como causadores”, explica. O transtorno pode, ainda, estar associado a alguma mudança significativa na vida da criança, como troca de classe ou de escola e maior exigência acadêmica conforme o aluno avança de série.
Nestes períodos de grande transformação, o medo surge como um recurso de defesa e proteção para os pequenos. Porém, em excesso, pode se tornar patológico. A maior parte das crianças supera essa fase em, aproximadamente, uma semana. No entanto, apresentar algum tipo de insegurança e ansiedade em até quatro semanas ainda é considerado normal. Os pais devem ficar atentos se o temor do filho de ir para a escola se intensificar ou persistir por muito tempo daí, pode, sim, ser indício de fobia.
O problema é que, por não terem conhecimento deste distúrbio ou por não saberem como lidar com a situação, muitos pais acabam por forçar, castigar e impor que a criança vá à escola de qualquer maneira o que pode provocar ainda mais sofrimento e angústia. “Vale lembrar que cada criança é única e precisa ser respeitada em sua singularidade, por isso a comunicação da família com a escola é fundamental em qualquer situação, para que juntas possam desenvolver um trabalho em prol do bem-estar da criança”, argumenta Luzia Aparecida da Silva, coordenadora pedagógica da Educação Infantil do Colégio Santa Amália, de São Paulo.
A adaptação desses alunos no ambiente escolar deve ser feita de forma lenta e gradativa, seguindo o ritmo e a necessidade de cada um. O papel da escola é, aos poucos, mostrar ao aluno que ele possui habilidades e potencialidades, que os erros fazem parte do desenvolvimento e que o ambiente escolar e a aprendizagem podem ser muito prazerosos. “Se a ajuda familiar e da escola por meio de conversas e combinados não for suficiente, deve-se procurar um profissional, de preferência um terapeuta familiar, que vai abordar a questão no contexto relacional do problema. Terapia cognitivo-comportamental e um psiquiatra também podem ser úteis para o aluno”, esclarece a psicopedagoga Elizabeth Polity.
Dicas para ajudar seu filho a lidar com os sentimentos conflitantes que surgem na hora de ir para o colégio:
· Respeite os medos da criança. Não dê broncas ou grite quando ela chorar por não querer ir à escola.
· Converse com seu filho sobre seus medos, passando-lhe a segurança de que precisa. Os pequenos sempre percebem a ansiedade e insegurança dos pais.
· Seja breve nas despedidas na escola. Nada de voltar para dar mais um beijinho ou falar algo que esqueceu. Isso aumenta o sofrimento.
· Não saia da escola escondido da criança. Sempre avise que vai sair e quando vai voltar para buscá-la.
· Combine com a escola como irão avisar caso seu filho esteja muito desconfortável ou chorando demais. E confie! Se não ligaram, é porque está tudo bem.
· Esteja na porta da escola quando a criança estiver saindo da aula. Nunca chegue atrasada.
· Estimule a criança a praticar outras atividades fora da escola.
· Analise se a escola está preparada para lidar com este tipo de situação.
· Fique sempre alerta: se os sinais de sofrimento não diminuírem, procure ajuda junto à escola.