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Começar de novo: mulheres contam como recomeçaram após a separação

Depois de um tempo em um casamento, perde-se até a prática de olhar para os lados e fisgar um novo amor. Mas especialistas e mulheres que saíram em busca de uma nova chance após a separação e se deram bem mostram que é possível mudar esse jogo.

Por Camila Carvas (colaboradora)
Atualizado em 28 out 2016, 17h46 - Publicado em 10 fev 2015, 08h44
Fernanda: Christian Von Ameln / Glaucy: Júlia Rodrigues / Aurea: Nilo Biazzetto
Fernanda: Christian Von Ameln / Glaucy: Júlia Rodrigues / Aurea: Nilo Biazzetto (/)
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Até dá para dizer que, se há algumas décadas o divórcio era tabu, hoje é quase tendência. Levantamentos mostram que as mulheres continuam subindo ao altar, e muito. Mas, se as coisas vão mal, já não hesitam tanto em sacramentar o fim da união. Fazem isso sem os medos do passado e, em geral, se casam de novo – e de novo se preciso for. O que querem é ser felizes, não estar com alguém apenas por estar. Já que é assim, vale perguntar: qual é a receita para conhecer alguém, apaixonar-se mais uma vez, começar um novo relacionamento e, dessa vez, dar certo? Para os especialistas, uma boa atitude é mudar o foco e ter um olhar mais otimista em relação ao rompimento e à fase de “solteira de novo”. Até porque, se a separação não é o final feliz dos contos de fadas, pode ser o caminho de um feliz recomeço. “Apesar de frustrante, o fim de um casamento não é motivo para desistir da busca de completude. Embora, é claro, isso aconteça mais dentro do que fora de nós”, diz a psicóloga Claudia Lins, da Universidade Federal de Minas Gerais.

Muita gente já parece enxergar as coisas do mesmo modo. Entre os casamentos que acontecem hoje no Brasil, a maioria ainda é o de estreia, o primeiro de ambos os noivos. Mas, segundo dados recém-divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), esse número vem caindo ao mesmo tempo que cresce cada vez mais a participação no bolo dos chamados recasamentos. Entre as mulheres que formalizaram a união em 2013, 24,3% já tinham tido a mesma experiência antes. Isso corresponde a dez pontos percentuais a mais sobre o mesmo número dez anos antes, em 2003. “Desde sempre, o matrimônio foi valorizado e, com ele, o título de casada”, ressalta a historiadora Mary del Priore, autora de livros como Histórias e Conversas de Mulher (Planeta). Por isso, quanto mais cedo se arrumasse um marido, mais tranquilos ficavam os pais. Nesse ponto, nem tudo mudou tanto assim, conforme comprova a história da analista de mídias sociais Fernanda Poli, 31 anos. Ela se comprometeu muito jovem, aos 23 anos, e com o primeiro namorado, justamente para que o pai não se preocupasse com o futuro dela. Em sua análise, as diferenças entre os dois e a imaturidade para lidar com isso foram duas importantes causas para a relação naufragar. Fernanda tomou a iniciativa da separação quando estava “no limite do descontentamento”. Porém, embora quisesse o desenlace, diz que ficou um “pouco triste” na ocasião. No entanto, hoje ela comemora a iniciativa. “Fico pensando como foi bom ter tido coragem de mudar o rumo da minha vida.”

É possível entender a fase baixo-astral de Fernanda. Ok que os divórcios são cada vez mais comuns, mas nem por isso são fáceis. A dor da separação pede tempo de recuperação, dizem os especialistas. Há o momento do luto, a saudade da rotina que se tinha e do antigo companheiro, ainda que ele não fosse mais compatível. Por isso, um bom primeiro passo depois de um rompimento é parar para fazer uma profunda reflexão pessoal. É necessário descobrir o que somos sem o outro. “Essa pessoa precisa encontrar o que a faz se conectar com ela mesma. Pode ser uma atividade física, um grupo de amigos ou amigas, atividades voluntárias, terapia”, recomenda a psicóloga Claudia Lins. E vale tudo que contribua para melhorar a autoestima, já que não é nada raro a mulher que descasa sentir-se insegura para retomar os tempos de paquera e sair em busca de um novo amor.

Aos 30, 40 ou mais, ela acha que não está mais em tão boa forma, que o trabalho e os filhos são prioridade e falta tempo para “essas coisas” ou que não tem mais aonde ir porque, em todo lugar, só vê gente muito jovem. “Além disso, a mulher mais experiente é também mais seletiva, não embarca em qualquer coisa”, defende o psicanalista e terapeuta de casais Luiz Alberto Hanns, autor de A Equação do Casamento (Companhia das Letras). “Esse é um fator relevante, pois torna a paquera estressante para ela.” Nessa empreitada, as redes sociais podem ser de grande valia. Foram um grande aliado para a empresária Aurea de Holanda, 61 anos, quando sua união de 26 anos chegou ao fim. A internet a ajudou, segundo conta, em várias ocasiões e de diferentes jeitos. Foi, por exemplo, no Facebook que ela reencontrou um amor da adolescência, com quem agora está “recasada”. “A vida urbana ficou mais solitária, porque perdeu muitas conexões que existiam antigamente”, opina Luiz Alberto Hanns. E estimula: “Nesse cenário, a internet é uma alternativa que precisa ser levada em conta e sem preconceito”.

Mas o acesso às mídias sociais deve ser visto apenas como um dos facilitadores para se refazer depois da separação. Há outras ajudas, como as relações de amizade e a disposição para sair, viajar e ver o mundo. É o que lembra a executiva de recursos humanos Glaucy Bossi, 39 anos, que pediu o divórcio após sete anos de casamento e dois filhos – e, depois de três anos de solteirice, recasou com um colega de trabalho, com quem teve uma filha. Hoje, os dois não dão mais expediente juntos, mas têm ótima convivência em casa. E Glaucy está decidida a fazer tudo diferente da sua primeira união. Os depoimentos dela e das demais entrevistadas desta reportagem mostram que, sim, existe muita vida depois que um casamento acaba – e ela pode ser tão boa ou até melhor que a antiga.

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Confira o depoimento de três mulheres que deram a volta por cima:

“É completamente diferente ser solteira com 18 e com 30 anos”, Glaucy bocci, 39 anos, executiva de recursos humanos

“Uma das minhas características é não demorar para tomar decisões. Não sou de cozinhar coisas ruins. Então, não é de causar espanto que eu tenha casado jovem, aos 23 anos, com um homem 19 anos mais velho, depois de um namoro de apenas um ano. Logo engravidei e, aos 25, tornei-me mãe de gêmeos. Mas a diferença de idade entre meu então marido e eu começou a incomodar. Estávamos em momentos de vida diferentes, com expectativas e interesses que não batiam. Mas, ao tomar a iniciativa da separação, me senti culpada e triste em sair de casa com os meus filhos. É difícil quando é você quem vai embora. Mas ainda era nova, estava com 30 anos, e tinha amigas e amigos de todo tipo, solteiros, casados e divorciados. Busquei mais esse convívio. Hoje, inclusive, cuido bem das relações de amizade, porque sei que corremos o risco de nos afastar delas durante um casamento.

É completamente diferente ser solteira com 18 e com 30 anos. Na segunda vez, eu era dona do meu nariz, tinha dinheiro, estava em um bom momento da carreira e podia frequentar lugares legais. Ia a barzinhos, restaurantes, até viagens com pessoas que não davam bola para isso de ‘ser separada’. Mas precisei me redescobrir como mulher. Minhas amigas brincavam que, afinal, eu estava de volta ao mercado. Era verdade! Então, tinha que me sentir atraente. Foi bacana viver essa transformação: perdi peso, passei a me arrumar mais, comecei a me sentir mais bonita.

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Quando voltei a dar um beijo na boca, o primeiro depois da separação, foi muito louco. Era um perfume novo, uma pele nova… Essa foi uma fase gostosa, que durou uns três anos, até começar a relação com meu atual marido. Éramos colegas de trabalho, mas não tínhamos nada. Não foi amor à primeira vista. Trabalhamos juntos por anos e demoramos a sair. Depois, namoramos quatro anos, até decidir que íamos morar juntos. Fiz um arranjo diferente. Quando me separei, me mudei para um apartamento maior, onde cabiam meus filhos, meus pais, que sempre me ajudaram, e eu. Ao decidir me casar de novo, minha mãe achou que deveria ter privacidade. Por isso, hoje moro apenas com meu segundo marido e nossa filha, de 4 anos. A um quarteirão do nosso apartamento, estão meus pais e meus filhos do primeiro casamento. É uma solução moderna e funciona. Pego todo mundo na escola, levo na balada, viajamos… Não ligo para convenções. A experiência me ensinou a aceitar melhor as particularidases de cada um e ser mais resiliente.”

“Após 26 anos de casamento, resolvi sair da sombra”, Aurea de Holanda, 61 anos, empresária

“Aos 61 anos, vivo a plenitude! Reencontrei meu grande amor, descobri quem sou eu, minha empresa está dando certo, meus filhos vão bem, tudo isso soma e resulta na minha felicidade! Muita coisa aconteceu até chegar aqui. Casei de maneira precipitada aos 20 anos, depois de oito meses de namoro. Foi em 1974. Eu havia perdido meu pai e estava emocionalmente carente. Tive quatro filhos. Meu então marido era um bom pai, bem presente, e as crianças sempre estavam em primeiro plano. Eu ficava lá, escondidinha. Mas era exageradamente solicitada em casa: passei três décadas praticamente sendo apenas mãe. Após 26 anos de casamento, resolvi sair da sombra. Foi um choque para o parceiro. Àquela altura, eu estava fortalecida e até meus filhos sugeriam que me separasse. Meu marido e eu éramos sócios numa empresa e, com a separação, ficou comigo. Passei a me dedicar só a isso, ao trabalho. Como sou reservada e exigente, foi depois de dois anos que me envolvi novamente com alguém. Até que foi fácil, porque ele tinha delicadeza, e eu buscava gente assim. Mas, ao longo de cinco anos, a relação se desgastou, um começou a achar que era dono do outro. E eu, definitivamente, não queria mais ninguém pegando no meu pé, querendo mandar em mim.

As redes sociais me ajudaram muito nessa fase. Minha vida era de casa para o trabalho, do trabalho para casa. E passava os finais de semana no meio dos livros. Na internet, conheci um grupo de mulheres, quase todas separadas, que me apoiaram. Para recuperar a autoestima fui com elas fazer aula de dança. Uma terapia! No meu aniversário de 55 anos, dancei um tango e, ali, senti a mudança. Antes eu era muito contida, guardava todos os sentimentos. Passei a botar para fora minha sensualidade graças à sensibilidade do tango. Em 2010, de novo na internet, reencontrei aquele antigo amor no Facebook! Como moro em Curitiba e ele em Belo Horizonte, durante quatro anos a gente só se falou. Em janeiro do ano passado, marcamos de nos encontrar no calçadão de Copacabana, no Rio de Janeiro, e foi lindo! Assim que bati os olhos nele, não tive nenhuma preocupação, me senti supersegura. Então, aos 60, voltei a namorar e à distância! Hoje, sei exatamente quem sou e o que quero. Acho que esse formato de relação só é possível porque estou madura. Com 20 anos, a gente quer estar junto o tempo todo.”

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“Precisava encontrar alguém que tivesse mais a ver comigo”, Fernanda Poli, 31 anos, analista de mídias sociais

“Conheci meu ex-marido na infância, na mesma igreja que nossos pais frequentavam. Namoramos por cerca de cinco anos e, quando eu tinha 23, casamos. Por um tempo, fomos felizes, mas sempre com muitos conflitos. Hoje acredito que, inconscientemente, meu casamento tem a ver com meu pai. Minha mãe morreu quando eu tinha 7 anos e ficamos apenas ele e eu. Naturalmente, havia uma ligação emocional grande entre nós e ele se preocupava com meu futuro. Casar foi uma forma de tranquilizá-lo, mostrar que eu estava encaminhada. Quando ele morreu, há quase cinco anos, foi um baque. Vi a vida indo embora e me deu um estalo: preciso ser feliz, a vida acaba! No casamento, eu estava esgotada e só pensava em me mudar para ficar em paz, sem brigas. Ainda assim, demorei quase um ano para tomar coragem de me separar. O incrível é que, quando falei “é hoje”, não senti medo. O apoio de algumas pessoas foi fundamental, mas garanto que a gente consegue se virar. Para mim, a separação não foi triste, porque estava muito infeliz em casa.

Só fiquei com uma pessoa depois da separação: meu atual parceiro. Trabalhávamos na mesma área e já nos conhecíamos, sem interesses. Começamos a nos falar pela internet e fomos nos reaproximando. Nessa época, pensei que precisava de alguém que tivesse mais a ver comigo, para poder fazer mais as coisas de que gosto. Com ele, minha vida ficou bastante divertida! Encontrá-lo foi uma sorte danada: de repente, lá estava indo ao estádio assistir a jogos de futebol (que adoro!), viajando, tomando vinho, dando risada… Sendo feliz numa parceria bacana e cheia de leveza. O legal da nossa relação é que curtimos as mesmas coisas. Isso é algo completamente diferente da anterior. Parece bobagem, mas ter tamanha identidade com o outro faz toda a diferença. Até quando há algo que somente eu curto, ele me acompanha, me incentiva, não permite que eu deixe de fazer algo só porque ele não é fã. Eu também tenho a mesma atitude com ele. Quando você ama, sente-se naturalmente satisfeito com a felicidade do outro.

Hoje, fico pensando como foi bom ter tido coragem de mudar o rumo da minha vida. No começo desse novo relacionamento, houve momentos em que até me perguntava: ‘Será mesmo possível ser feliz assim com alguém? Será que vai durar?’ Estamos juntos há quatro anos e, recentemente, fomos morar juntos. Vivemos a nova fase cheios de planos e com o coração repleto de alegria.” 

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